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Read Ebook: Chronica d'El-Rei D. Affonso III by Pina Rui De

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Ebook has 147 lines and 21712 words, and 3 pages

E com tudo esta Ifante Dona Branca foi Princeza de mui louvadas virtudes, e teve em Castella boa terra, e neste Reino boa fazenda, porque ella foi senhora de Montem?r-o-Velho, por doa??o del-Rei seu pai, que em seu testamento lhe leixou mais dez mil livras, que s?o quatro mil cruzados, e assi foi senhora de Campo Maior, que El-Rei Dom Diniz seu irm?o lhe deu em sua vida, e El-Rei Dom Affonso deste nome o Decimo de Castella, seu av? tambem lhe leixou em seu testamento muito dinheiro, e alguns dizem que ella j?s em Lorv?o, mas eu vi Cartas e Provis?es, que ella nos derradeiros dias de sua vida passou para Portugal, feitas dentro no Moesteiro das Olgas de Burgos, onde tambem recolheo algumas filhas do Ifante Dom Affonso de Portugal seu irm?o. E assi houve mais El-Rei Dom Affonso a Ifante Dona Costan?a sua filha, a qual a Rainha Dona Breatiz sua madre levou comsigo a Sevilha, quando foi ver El-Rei Dom Affonso seu pai, e l? faleceo, e foi trazida a Alcoba?a, onde j?s sepultada. E houve mais um filho bastardo, que houve nome Dom Fernando, que foi Cavalleiro da Ordem do Templo, e j?s sepultado em S. Bras de Lisboa.

CAPITULO V

Pelo cazamento del-Rei Dom Affonso com a Rainha Dona Breatiz muitas Villas, e terras do Reino de Castella creceram, e se ajuntaram a este Reino de Portugal, e destas as que s?o na Comarca de Riba Dodiana, a saber Moura, Serpa, Mour?o, Noudar, Oliven?a, Campo Maior, e Ouguela, direi na Coronica del-Rei Dom Diniz, porque em seu tempo elle por concordias, e por escambos as houve, e depois at?gora sempre pacificamente, e sem contradi??o foram, e s?o pussuidas por a Coroa de Portugal, mas porque ? claro, e mui notorio que por bem do dito cazamento, ainda creceram mais ao Reino de Portugal, o Reino do Algarve; de que este Rei Dom Affonso nova, e primeiramente se intitulou, e por cujo respeito em ladeo a borla dos Castellos ?s Quinas de Portugal, como atraz j? toquei, para dizer os principios que teve, para boa declara??o dos que esto virem farei meu fundamento um pouco mais alto, que ser? verdadeiro, e breve, como se segue.

El-Rei Dom Fernando de Castella deste nome o segundo, depois de ter pacificos os Reinos de Castello, e de Li?o, que nelle a segunda vez se ajuntaram, ganhou dos Mouros a Cidade de Cordova, na era de mil e duzentos e trinta e cinco annos, na qual tomada foi com El-Rei Dom Fernando Dom Payo Correa, natural de Portugal, Mestre da Ordem Daviz, que ? a de San-Tiago em Castella, por mui principal e de grande Caza, e mui esfor?ado guerreiro contra os imigos da F?, e porque El-Rei Dom Fernando desejou muito de cobrar a Cidade de Sevilha, e assi a terra Dandaluzia, que toda era de Mouros, tornando-se para Castella leixou por Fronteiro contra ella Dom Payo Correa em S?o Lucar Dalbayda, e um Dom Rodrigo Alveres das Asturias, em Alcal? da Guardara, donde com muitas gentes que tinham, e com a guerra aturada, que faziam, poseram a Cidade de Sevilha em tanta estreiteza que o Rei della lhe deu gram soma de ouro, por tregoa de um anno, qua os ditos Freires lhe outorgaram, dentro do qual os Mouros com fundamento de se proverem por muitos annos, semearam todo o p?o, e sementes que tinham de que esperavam haver novidades, com as quaes recolhidas lhes pareceo que se segurariam, e manteriam por vinte annos, ainda que nelles fossem guerreados, e cercados, o qual os ditos Fronteiros notificaram logo a El-Rei Dom Fernando, e o avizaram, que para ter esperan?a de cobrar em breve a Cidade antecipasse logo a guerra contra os Mouros, ou a colheita das ditas novidades para si mesmo, o qual logo El-Rei satisfez, e com grande poder, que ajuntou por mar, e por terra, veo cercar a Cidade, e depois de estar dezaseis mezes sobre ella, com cerco bem afrontado a tomou, ca se deu por partido, com seguran?a das vidas, e fazendas em dia de S?o Clemente, vinte e dous dias de Novembro, na era de mil duzentos quarenta e oito annos, treze annos depois da tomada de Cordova; e o dito Rei Dom Fernando, por mais seguran?a da terra, n?o sahio mais de Sevilha, e ahi faleceo no anno de mil duzentos e cincoenta e dous, tres annos e meio depois da tomada de Sevilha, e ahi j?s sepultado.

E foi logo alevantado, e obedecido por Rei de Castella, e de Li?o, El-Rei Dom Affonso seu filho, sogro deste Rei Dom Affonso Conde de Bolonha; e o meio tempo que houve antre a tomada de Cordova, e Sevilha, e em que o Mestre Dom Payo Correa, era Fronteiro em Andaluzia contra os Mouros, elle guerreando e correndo as terras dos imigos, que eram a sua frontaria conjuntos, entrou pela Lusitania junto do campo Dourique, que dentro era da conquista de Portugal, Reinando ainda Dom Sancho Capello, e por for?a de armas o dito Mestre tomou em desvairados tempos as Villas de Aljustrel, e de Mertola, que eram de Mouros, as quaes a requerimento do dito Rei Dom Sancho, e por mandado del-Rei Dom Fernando de Castella, seu primo com Irm?o, foram entregues ao dito Rei Dom Sancho por pertencerem a Portugal, o qual por sua deva??o, e pelas almas de seu pae e de sua m?i segundo diz em sua doa??o, e assi por comprir ao dito Mestre Dom Payo Correa, que era seu servidor, as deu logo ? Ordem de San Tiago, cujas hoje s?o.

CAPITULO VI

Depois que o Mestre Dom Payo tomou estes logares da conquista de Portugal, at? se ganhar o Algarve, passaram dous tempos em que reinaram dous reis de Castella, a saber o dito Rei D. Fernando, em cujo tempo o dito Mestre tomou primeiramente Tavilla, e Silves e alguns outros Lugares do Algarve, e apoz elle Reinou o sobredito Rei Dom Affonso seu filho, que reinando em Castella depois de fazer sua doa??o para sempre a El-Rei Dom Affonso Conde de Bolonha seu genro, e a Dom Diniz, seu filho se ganharam todolos outros Lugares do Algarve, em que tambem foi o dito Mestre como Vassallo, e Compadre, que era do dito Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, e foi por esta maneira. Quando o Mestre Dom Payo Correa ganhou dos Mouros Aljustrel, como ? dito, se acha, que estando ainda no dito Lugar, elle como bom Cavalleiro, e catholico guerreiro, desejando conquitar esta parte do Algarve, que confinava com Portugal, que toda era de Mouros, para saber se o poderia fazer, e como o faria, teve concelho com seus Cavalleiros, em que n?o achou conforme acordo, assi porque alguns contrariavam a empreza, e passagem da terra do Algarve, como porque era mui povorada, e os Mouros della tinham pelo mar seu grande soccorro e ajuda Dafrica.

Mas o Mestre, cujo cora??o era j? favorecido da vontade de Deos, prepoz entender na conquista, e n?o a leixar, e para esso falou apartado com Garcia Rodrigues, Mercador, que de contino tratava neste Algarve com os Christ?os, e com os Mouros suas mercadorias, e secretamente lhe disse que seu desejo era com a ajuda de Deos, e por seu servi?o cobrar dos Mouros esta terra do Algarve se podesse, para que ent?o havia singular disposi??o pelo desvairo, e discordia em que sabia que estavam os Reis, e Senhores, que os senhoreavam, mas que o n?o commettia porque n?o sabia, nem tinha quem soubesse as entradas, e caminhos da terra, e por tanto lhe rogava pois elle esto tudo sabia que lhe dicesse seu parecer verdadeiro, como delle por Christ?o, e bom homem confiava. E Garcia Rodrigues, em que havia bom espirito, lhe deu para esso t?o bom concelho, e tanto esfor?o, e tal aviamento, que o Mestre apartou logo alguns seus corredores por maneira dalmogavaria, para que fossem adiante, os quaes partiram Daljustrel, e passaram ? terra pela Torre Dourique, e andaram de noite mui attentadamente por os Mouros n?o aventarem delles alguns sentimentos; e o primeiro Lugar a que chegaram foi ? Torre Descoubar, que por estar despercebida, e sem algum receo de Christ?os prouve a Deos, que sem muita for?a, nem perigo foi logo tomada, donde enviaram logo recado ao Mestre, o qual n?o com menos alegria, que pressa fez prestes seus Cavalleiros, que nas armas trazia ass?s costumados, e bem ensinados, com que logo partio, e com suas guias que levava, chegou ? dita Torre, que era tomada, e dahi sem muita deten?a cobrou mais o Lugar Dalvor, que ? antre Silves e Lagos, e destes Lugares ambos depois de serem de Christ?os se fazia grande guerra aos Mouros, que estavam em Silves, e nos outros Lugares comarc?os.

Sentindo-se os Mouros do Algarve mui perseguidos, e ass?s denificados do Mestre, elles sobre consulta??o, que antre si fizeram, lhe commetteram, que selle quizesse lhe dariam o Lugar de Cacella junto com Tavilla por os Lugares Destombar, e Alvor, que tinha tomados, e a concira??o, que os Mouros tiveram foi dos Lugares tomados, por serem no meo do Reino, e mais juntos do Cabo de S?o Vicente, onde a terra era ent?o mais povorada se podia fazer, e fazia mais dano, que de Cacella, que era mais no fim da terra, e principalmente junto com Tavilla, que por ser Lugar forte, e de grande povora??o os Mouros, e visinhos, e moradores delle poderiam mais facilmente lan?ar os Christ?os, do qual partido, e escambo prouve muito ao Mestre, que logo entregou aos Mouros os Lugares tomados, e cobrou para si Cacella, que era Lugar forte, e bom, onde se fez logo prestes, e sahio com suas gentes para ir cercar, e tomar Paderne.

E como quer que at? li os Mouros eram antre si em grandes desconcertos, como atraz se disse, por?m ? necessidade, e perigo em que a ida do Mestre os poz, os fez logo amigos, e concordes para com iguaes cora??es defenderem suas pessoas e terras, pelo qual sabendo os Mouros de Far?o e Tavilla, e assi os dos outros Lugares de redor, como o Mestre era f?ra de Cacella, para correr, e guerrear sua terra, avisaram tambem os de Loul? para que todos no dia seguinte tivessem ao Mestre o passo, e pelejassem com elle, os quaes ao outro dia sobre este acordo se ajuntaram, e partindo foram dormir contra a serra a um logar que dizem o desbarato, e deste ajuntamento, e acordo n?o sendo sabedor o Mestre passou de noite mui secretamente por Loul? sem ser sentido, seguindo seu caminho direito, que vem para Tavilla, porque as suas escutas que iam de diante sentiram os Mouros naquelle lugar onde jaziam, o Mestre n?o quiz mais abalar, e ali de noite se deteve, e ao outro dia, como foi manh? o Mestre com sua singular, e costumada destreza de guerra ordenou suas gentes em batalhas, e guiados de sua bandeira, que levavam tendida n?o andaram muitos passos que logo n?o houveram vista dos Mouros, que jaziam em um valle escuro, os quaes vendo a pouca gente dos Christ?os em compara??o da muita sua que tinham, foram mui alegres, ca tiveram grande esperan?a de haverem victoria.

Os Mouros de toda a terra, por este destro?o, e desbarato, que houveram mostraram muito nojo, e grande tristeza, em especial os de Tavilla, porque tinham imigos t?o fortes junto comsigo, os quaes naquella ora juntos em seu concelho diceram: <>.

Mas comtudo elles n?o afrouxavam os Christ?os, antes por todalas maneiras de fazer mal os combatiam, trabalhando com todas for?as por lhes cobrar o monte, que os salvava, e com tanta fortalesa afrontavam o Mestre, que se n?o sobreviera a noite que os apartou elle, e os seus se despunham, e estavam em mortal perigo, e os Mouros apartados do combate lan?aram-se ao p? do monte alongados da vista dos Christ?os, logo com determina??o de ao outro dia tornarem ? peleja, mas elles neste primeiro proposito n?o perseveraram, porque praticando antre si sobre as gentes que ao Mestre logo viriam em seu socorro, e o perigo, que nesso corriam alevantaram-se, e foram-se tristes para os logares donde partiram, o que assi fizeram sem vista nem sabedoria do Mestre, o qual na noite passada j? tinha avisada sua gente, que leixara em Cacella para que e viessem socorrer, como logo vieram com fundamento de dar batalha aos Mouros se o esperassem, quando soube que eram partidos alegre, e a seu salvo se foi para Cacella.

Os moradores de Tavilla, e assi os Mouros das outras Villas seus comarc?os, vendo-se perseguidos, e mal tratados do Mestre, por seus meos que antre si tiveram concordaram, que por quanto a este tempo estavam j? cerca do mez de Junho em que haviam de recolher seus p?es, e dahi a pouco se achegava o outro de seu alacil para secarem e aproveitarem suas passas, e fruitas, era bem de procurarem poer com o Mestre tregoas at? o S?o Miguel de Setembro, que vinha, no qual tempo acabariam inteiramente de recolher suas novidades, e dahi por diante teriam milhor disposi??o para lhe fazer a guerra, e o lan?ar f?ra da terra. Da qual tregoa que pelos Mouros foi requerida, e apontada prouve muito ao Mestre, e lha deu, de que fizeram suas certid?es com fundamento, que n?o s?mente neste tempo daria descan?o aos seus dos muitos trabalhos que tinham passados, mas que ainda nelle se perceberia das mais gentes, que para o dezejado fim de sua empreza lhe eram neccessarias.

E sendo por bem desta tregua os Christ?os, e os Mouros de uma parte, e da outra seguros, D. Pedro Rodrigues, Commendador m?r de San-Tiago, que era na companhia do Mestre dice aos outros Cavalleiros, que por seu desenfadamento, pois estavam em tregoa fossem com suas aves ? ca?a ao lugar das Antas, que era terreno de Tavilla, e est? dahi tres legoas. Ao que foi o Mestre como pessoa mui prudente, contrairo, dizendo-lhe que escusassem em tal tempo sua ida, porque os Mouros, por suas condi??es, n?o eram menos ciosos da terra que das molheres, e por esto com qualquer paix?o destas sendo homens sem f?, e sem verdade lhe poderiam fazer dano, que custaria depois mui caro. A que o Commendador-m?r tornou dizendo, que pois estavam com os Mouros em treguas delles t?o desejadas e requeridas, que n?o havia rez?o para elles se recearem, quanto mais que elles para segurar esse pejo iriam ? ca?a de paz, e de guerra.

Com esta confian?a o Commendador, e cinco outros Cavalleiros com elle a cavallo se partiram de Cacella, e trazendo o caminho direito de Tavilla, passaram pela ponte, e entraram, e seguiram pelo meio da pra?a da Villa, e chegaram ?s Antas, lugar da ca?a, que ? uma legoa da Villa a cerca da ribeira, onde come?aram de ca?ar, e haver prazer sem alguma magina??o nem sospeita da morte, que se lhes aparelhava, porque os Mouros de Tavilla quando daquella maneira viram passar os Christ?os, havendo que era em seu manifesto desprezo, receberam por esso grande dor, porque sua vista lhes fizera viva lembran?a das mortes, e males, que delles j? muitas vezes tinham recebidos, e diceram antre si: <>.

Sobre as quaes palavras de murmura??o se ajuntaram muitos com grande honra, e determinaram ir logo como foram com grande ira, e com passos mui apressados sobre os Christ?os, os quaes andano ? ca?a, quando viram tantos Mouros, ca a grande sua pressa, e alvoro?o com que iam, em cazo que ainda fosse de longe logo presumiram a m?, e indinada ten??o, com que vinham, pelo qual leixadas as aves, e seu officio ocioso se ajuntaram, e diceram: <>.

Com esto enviaram logo ao Mestre um mensageiro com grande trigan?a pedindo lhe que os soccorresse, e com aquella pressa, e deligencia que em t?o breve tempo foi possivel, e para elles em tanto se defenderem e pelejarem, fizeram um palanque de paos de figueiras velhas a que se recolheram, onde os mouros com muita furia os vieram logo commetter, em que acharam muito esfor?o, e grande resistencia, e n?o t?o leves como elles cuidavam, e estando os Christ?os nesta afronta acertou-se, que Gracia Rodrigues, o Mercador, com que o Mestre se aconcelhara na vinda do Algarve, como atraz dice, indo de Far?o para Tavilla com suas cargas de mercadorias segundo costumava, quando vio o desassosego, e ajuntamento dos Mouros seguio o fio delles para saber o que era, e quando vio a peleja, e grande perigo em que os Christ?os estavam, volveu rijamente onde deixara suas cargas, e dice aos seus servidores: <>.

E com esto acabado, arremeteo, e se lan?ou ao palanque, e dentro delle se ajuntou com os Christ?os, e que ajudou e esfor?ou quanto a um bom homem era possivel, onde por grande espa?o se defenderam, e pelejaram, dando e recebendo muitas feridas, e assi eram afrontados, e por tantas partes combatidos, que um n?o podia dar f? do que o ouro fazia, e em fim por as for?as dos Christ?os serem j? de grande trabalho vencidos, o seu palanque foi roto, e entrado, e elles todos sete por desfalecimento da virtude corporal cortados de mortaes feridas acabaram as vidas como Cavalleiros, e bons Christ?os, o que n?o foi sem publica vingan?a de suas mortes, de que os corpos dos Mouros sem almas d?ram alli verdadeiro testemunho.

Durando a peleja dos Christ?os chegou seu recado ao Mestre que era em Cacella, donde com grande trigan?a logo partio com desejo de os soccorrer, porque bem sabia que os Cavalleiros eram taes, que sem medo, nem outro seu desfalecimento, ou haviam de viver, ou morrer, e seguiu o caminho porque elles vieram, e sem contradi??o, nem defeza dalguma pessoa entrou pela Villa, e pra?a della, e t?o intento, e acezo ia no dezejo que levava de soccorrer aos Chryst?os, que passando por ella n?o lhe lembrou, que dessa vez livremente, e sem perigo a podia tomar se quizera, e quando chegou ?s Antas, onde achou, e vio todolos seus Cavalleiros mortos, anojado e mui iroso por t?o feio feito houve com os Mouros, que ainda topou mui crua peleja, onde matou tantos, que os ossos delles foram depois por longos tempos ali vistos em grande soma, e aos outros, que fogiram, foi seguindo o alcance fazendo nelles grande estrago at? ? Villa, cujas portas os Mouros ach?ram fechadas, porque os visinhos, e gentes que em ella ficaram, quando viram passar o Mestre ao soccorro dos Cavalleiros a que ia, bem entenderam qual seria sua determina??o como soubesse parte do cazo.

E por esso cerraram bem suas portas, que n?o quizeram abrir aos seus que vinham fogindo, e s?mente lhe abriram um postigo pequeno, e escuro, que est? contra a mouraria, sobre que deu o Mestre e os ferio t?o rijo, e com tanta braveza, que n?o tendo elles acordo para se defenderem, nem de cerrar a porta entrou por ella o Mestre de volta com elles, e cobrou a Villa, e apoderou-se della dentro da qual, e f?ra della o Mestre, e os seus fizeram nos Mouros grande estrago. E era neste tempo senhor de Tavilla Abenfalula, Mouro que n?o se sabe se morreo nestas pelejas, se ficou no lugar, como outros alguns ficaram. E esta batalha, e os Cavalleiros mortos, e a Villa tomada foi tudo a nove dias de Junho de mil e duzentos e quarenta e dous . E o Mestre como de todo foi apoderado da Villa, e a leixou com boa seguran?a, com alguma gente darmas tornou ?s Antas onde os Cavalleiros mortos jaziam, e chorando por elles muitas lagrimas, e dando grandes gemidos e tristes sospiros os mandou apartar dantre os corpos dos Mouros que elles mataram, e cheos todos de muito sangue das grandes feridas de que morreram, os fez levar ? Villa, e na mesquita, que o Mestre fez consagrar em Egreja da Envoca??o de Nossa Senhora mandou logo fazer um grande Moimento de pedra, em que se pintaram sete Escudos, todos com as vieiras de San-Tiago, e nelles os seis Cavalleiros, e Gracia Rodrigues com elles foram todos sete sepultados, e seus nomes s?o estes, Pedro Rodrigues Commendador m?r, Mem do Vale, Dur?o Vaz, Alvaro Gracia, Estevam Vaz, Beltram de Caya, e o Mercador Gracia Rodrigues, cujos corpos foram depois havidos em grande reverencia, e deva??o, e piedosamente n?o era sem cauza, porque como Martyres espargeram seu sangue, e como fieis Catholicos perderam as vidas pela F? de Jesu Christo N. Senhor.

E em um campo junto da Villa em que est? a Egreja de Santa Maria das Martes houveram ambos mui travada, e ferida peleja, em que o Mestre pola pouca gente que comsigo tinha se vio em grande pressa, porque os Mouros eram muitos, e mui juntos, e feriram-no mui rijamente, e punham todas suas for?as por cobrar a entrada da porta, que o Mestre defendia, e procuravam os Mouros de se meter debaixo da Torre Dazoia que ? sa?da em arcos para f?ra, por tal que os Mouros de cima os defendessem, mas n?o o poderam fazer, e porque os Mouros de dentro quando viram o Rei Mouro ? porta, e com grande avantagem de gente sobre o Mestre, sahiram alguns cuidando de o meter, e salvar por ella, e ao recolher, que quizeram fazer, foram dos Christ?os t?o apertados, que de volta se meteram com elles dentro na Cidade, e n?o sem crua peleja, e grande perda de homens de uma parte, e da outra, que ali ficaram mortos.

CAPITULO X

Tanto que o Mestre p?s em Silves suas gentes, que a guardassem, e defendessem, e a proveo das outras cousas que a ella eram necessarias, se partio, e tornou a poer o cerco que alevantara de sobre Paderne, e porque logo os Mouros se n?o quizeram dar a bom partido que lhe cometiam, elle os combateo, e por for?a tomou a Villa e o alcacere sem os receber a concordia, nem algum partido de piedade, antes por dous bons Cavalleiros que lhe ali mataram da Ordem, mandou que todolos Mouros da Villa andassem, como andaram ? espada, e a gente desta Villa de Paderne, cujos grandes edeficios ainda parecem, alguns dizem, por sua m? disposi??o se mudou depois ? Villa de Albofeira, que o Mestre Daviz depois tomou como adiante vai, e atraz deixei apontado.

Como a Conquista do Algarve que primeiramente fez D. Payo Correa Mestre de San-Tiago de Castella, por na??o e linhagem Portuguez, foram em dous tempos, a saber, em tempo del-Rei D. Fernando de Castella, e depois em tempo del-Rei Dom Affonso seu filho, e agora declaro que os Lugares, que at? qui se ganharam pelo dito Mestre foram em tempo del-Rei Dom Fernando, e antes da tomada, e cerco de Sevilha, porque claramente consta, que este Mestre de San-Tiago era com El-Rei ao tomar della, e para tal feito foi havido, e estimado por mui principal, e para feitos darmas mui asinado, e estes Lugares do Algarve estiveram da m?o do Mestre ? obediencia del-Rei Dom Fernando at? o tempo del-Rei Dom Affonso seu filho, que como Reinou teve grande afei??o ao dito Mestre, e lhe deu de si muita parte, e o mandou tornar ao Algarve, para nelle estar por seguran?a dos Lugares que ganhara, porque ainda nelles havia muitos dos Mouros. E neste tempo era j? cazado este Rei Dom Affonso Conde de Bolonha com a Rainha Dona Breatiz, filha do dito Rei Dom Affonso de Castella, e a maneira porque depois seu marido, e ella houveram este Reino do Algarve ? a seguinte.

El-Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, sendo assi cazado com a filha del-Rei de Castella, sabendo que o Mestre de San-Tiago tinha ganhado dos Mouros as ditas Villas, e Lugares do Reino do Algarve, que eram da conquista, e Senhorio de Castella, e estavam pela parte do Campo Dourique mui conjuntos ao Reino de Portugal, e vendo que contra os Mouros Despanha j? n?o tinham livre alguma propria conquista dezejando acrecentar em seu Reino, e em sua honra, e assi por ter em que servir a Deos em semelhante guerra piadosa, dezejou para si esta terra, sobre a qual falou com a Rainha Dona Breatiz sua molher, e sendo ambos em um dezejo e ten??o conformes, ella por seu prazer, e por concelho de seu marido, foi logo a El-Rei D. Affonso de Castella, seu pai, que estava em Toledo, a qual elle recebeo com muita honra, e alegria, porque como aigumas vezes j? dice sempre por palavras, e obras, elle mostrou que lhe tinha muito amor, e grande dezejo de lhe fazer bem, e havendo depois tempo, e lugar para o cazo conveniente, a Rainha com as palavras, e rez?es que seu dezejo e necessidade lhe aprezentaram, dice a seu pai a cauza principal de sua ida, pedindo-lhe muito por merc?, em nome del-Rei seu marido, e seu, que d?sse a elles, e a seus netos, que cada dia creciam a Conquista do Reino do Algarve, e assi os Lugares, que por o Mestre de San-Tiago eram j? nelle tomados, e porque o Reino de Portugal, que tinham, era para elles muito pequeno, e a este tempo o Ifante Dom Diniz, que a poz seu padre Reinou, e assi outros Ifantes seus filhos j? eram nacidos, e os Lugares de riba Dodiana, e de riba de Coa, ainda n?o eram de Portugal; porque depois se houveram, como nesta Coronica, e na del-Rei Dom Diniz ao diante se dir?.

Deste requerimento prouve muito a El-Rei Dom Affonso, que por Reaes condi??es que muitos lhe entrepetraram a vaidades, e desordenada cobi?a de gloria foi o mais nobre Rei de Castella, e querendo em todo satisfazer ? Rainha sua filha, lhe mandou logo passar sua Carta patente, e selada de seu selo de chumbo, por a qual fez solenne, e firme doa??o ao dito Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, seu genro, e ao Ifante D. Diniz seu filho, e a todolos filhos, e filhas que delles decendessem para sempre do Reino do Algarve com seu inteiro Senhorio, e com todolos Lugares delles ganhados, e por ganhar, com tal condi??o que o sobredito Rei de Portugal, e seus filhos, fossem obrigados a dar de ajuda ao dito Rei Dom Affonso de Castella em sua vida s?mente cincoenta Cavalleiros, quando lhos requeressem, contra todolos Reis Despanha, e al?m desta doa??o El-Rei de Castella mandou fazer outras Cartas para o Mestre Dom Payo Correa, e para outros grandes Cavalleiros, que com elle andavam no Algarve, porque lhe notificou esta doa??o, que tinha feita, e lhes mandou que a comprissem, e porque El-Rei Dom Affonso folgava com a vista, e conversa??o da Rainha sua filha pola grande afei??o que a ella tinha n?o lhe deu lugar que logo se tornasse a Portugal como ella quizera, pelo qual elle mandou as sobreditas Provis?es a El-Rei Dom Affonso seu marido, que como as recebeo alegre com tamanha, e t?o honrada, e t?o dezejada doa??o, notificou tudo ao Mestre Dom Payo Correa, a que desso prouve muito, porque tinham antre si muito conhecimento, e grande amizade.

E El-Rei se intitulou logo de primeiramente Rei de Portugal, e do Algarve, e ao Escudo dos cinco Escudos de Portugal, que seu bisav? El-Rei Dom Affonso Anriques primeiro tomou, e trouxe elle por titolo, e posse deste Reino em adeo Orla, e borladura dos Castellos douro em campo vermelho, como depois at? gora sempre os Reis de Portugal trouxeram, e trazem, segundo atraz brevemente dice.

E al?m destes Capit?es aqui nomeados, eram com El-Rei outros Cavalleiros, e pessoas mui principaes do Reino de Portugal, a saber, Dom Fern?o Lopes, Prior do Esprital, e o Mestre Daviz, e o Chan?arel Dom Jo?o Davinh?o, e Mem Soares, e Jo?o Soares, e Egas Coelho, e outros, e por estes lugares, e lan?os mandou El-Rei combater a Villa, ca t?o aturadamente o fizeram, que de dia, e de noite nunca os combates, e afrontas cessavam, nem davam aos Mouros algum lugar, e repouzo, e porque perdessem a grande esperan?a, e ajuda, e socorro, que tinham no mar, El-Rei lha tirou; porque mandou sua frota de Navios grossos estar no mar, e assi ordenou que no canal do Rio se atrave?assem outros Navios fortes, e bem armados, e forrados de couros da banda do mar, por tal, que se por cazo algumas Gal?s de Mouros viessem contrairas, e entrassem no Rio, que ellas com fogo, ou com outros engenhos n?o denificassem os Navios dos Christ?os, e desta maneira o Lugar ficou cercado em torno por mar, e por terra, pelo qual vendo os Mouros que o mar onde tinham o ponto principal de sua salva??o e socorro era de todo impedido, e atalhado, e assi n?o podendo j? sofrer os aficados, e perigosos combates que com grande seu dano sempre recebiam dos Christ?os, e que posto que bem, e esfor?adamente se defendessem, como faziam, n?o tinham emfim esperan?a de se salvarem, ouveram por bem commetter partido, a El-Rei para que sahiram de dentro os sobreditos Alcaides, e Alxarife, que na Villa eram dos Mouros as maiores cabiceiras.

E andando elles nestre trato sem amostrarem aos do Arraial, que era acabado, El-Rei foi falando com elles at? o alcacer, onde por concerto j? antre elles praticado, e prometido, El-Rei foi delles recolhido no dito Castello com os que elle quiz, que seriam at? dez Cavalleiros, e como El-Rei entrou, porque assi era corcordado, logo o alcacer foi livre de todolos Mouros que nelle estavam, e se recolheram para a Villa, e por mais seguran?a, o alcacer foi logo buscado e despejado por aquelles Cavalleiros del-Rei, de maneira, que dentro delle n?o ficaram dos Mouros salvo os sobreditos Alcaides, e Alxarife, e porque El-Rei por cumprir aos Mouros sua verdade, e para se fazer o trato com mais assecego n?o deu desta parte ao Mestre de San-Tiago, nem aos outros Cavalleiros, que tinham os combates, e estes achando menos El-Rei, e sabendo que era dentro no alcacer, n?o sendo certos de sua vida, e seguran?a, antes vendo, que contra sua vontade, e por seu mal o retinham, foram por esso anojados, e por esse cazo foi no arraial feito grande alvoro?o com que determinaram os Christ?os combater a Villa, que sem embargo da resistencia, e setas, e pedras dos Mouros, que o contrariaram passaram, e ajuntaram-se com os Mouros, e as gentes do Mestre trouxeram logo muita lenha, e outros materiaes ?s portas da Villa para com o fogo as queimaram, e entrarem por ellas, e por este dezavizo, de que n?o sabia a verdade morreram nestes cometimentos, que poderam ser escuzados muitos Mouros, e mais Christ?os.

El-Rei depois que ouvio os grandes rumores do arraial, e soube a causa delles, logo com grande trigan?a se sobio em uma torre, e dando-se a conhecer al?ou o bra?o direito, e na m?o amostrou a todos as chaves do alcacer, que j? tinham a seu servi?o, e com esso mandou o Mestre, e a todolos outros Capit?es, que logo cessassem de seus combates, e porque j? era em concerto com os Mouros, e assi o Alcaide Mouro Abembarram sahio do alcacer, e dice aos Mouros da Villa, que fossem seguros, e n?o fizessem algum mal aos de f?ra, e com esto ficaram todos assossegados, e El-Rei mandou lan?ar preg?es pelo raial que algum Christ?o n?o fizesse nojo aos Mouros, posto que antre os Christ?os andassem, nem entrassem pelas portas da Villa; posto que abertas as achassem, salvo o Mestre, e outros Capit?es, porque estes entrariam com aquelles, que quizessem, e que os outros Christ?os estivessem sobre as portas dos combates, e estancias, que lhe foram ordenadas.

E o concerto que El-Rei fez com os Mouros foi, que elles Mouros da Villa lhe fizessem, dessem e pagassem juntamente aquelle mesmo foro, e servi?o, e todalas outras cousas, que faziam, e pagavam ao seu Rei Amiramolim, e que com elles ficassem todas suas cazas, vinhas, e Cidades assi como dantes as tinham, e que El-Rei os amparasse, e deffendesse assi de Mouros como de quaesquer outras gentes, e na??es, que lhe mal, e nojos quizessem fazer, e que aquelles que para alguns Lugares de Mouros se quizessem ir, que livremente com todas suas cousas o podessem fazer, e andassem com El-Rei quando lhe comprisse, e que lhe fizesse por esso bem, e merc?. E por esta maneira cobrou El-Rei a Villa de Far?o no mez de Janeiro de mil duzentos e setenta .

Como El-Rei cobrou a Villa de Far?o, como ? dito, logo a poucos dias elle, e o Mestre foram com suas gentes cercar a Villa de Loul?, e sem prolongado cerco, ainda que fosse com dano dos Christ?as em breve a cobrou; e porque o Mestre de San-Tiago trazia em sua companhia bons Cavalleiros, e mui esfor?ados, destes se acertavam, que nos combates das Villas, e pelejas dos Mouros que por sua bondade n?o receavam de commetter, muitos morriam, e havendo El-Rei desso piedade, e sentimento se diz, que em acabando de tomar esta Villa de Loul? dice ao Mestre, que lhe pezava muito de t?o bons Cavalleiros como eram os seus, morrerem assi nestes combates, por quanto eram homens singulares, escolheitos, e que o Mestre lhe respondeo.

<>. E de Loul? cavalgou o Mestre, e correndo a terra dos imigos contra o Cabo, houve avizo certo que muitos Mouros juntos iam a via Daljazur, e uns dizem, que este ajuntamento faziam para com outros consultarem sobre o que fariam por Silves, e Tavilla, e os outros Lugares, que eram tomados, e outros affirmam que iam para uma voda para que eram convidados, e esta parece a cauza, e rez?o mais conforme, porque os Mouros Daljazur sahiram a uma legoa a receber os do Cabo, e uns, e outros vinham mais de festa, que de guerra, ca muitos delles foram achados sem armas, e com elles saltou o Mestre de que matou, e cativou os que quiz, e alguns que se quizeram salvar na Villa para que foram fogindo perseguidos do Mestre n?o tiveram acordo de ?arrar as portas, por quaes o Mestre entrou de volta com elles, e tomou o Lugar sem algum partido dos Mouros.

E Dalbofeira se acha por mais certa opini?o, que em tempo deste Rei foi tomada dos Mouros por o Mestre Daviz Dom Louren?o Affonso, e assi parece rez?o, porque elle foi sempre, e ? hoje da dita Ordem. E por estes lugares, que dos Mouros se tomaram se acabou de conquistar toda a terra, que n?s os Portuguezes chamamos Algarve, mas para deste nome n?o virem duvidas, e confuz?o aos que as Estorias antigas Dafrica, e Despanha lerem, ? de saber, que Algarve ? nome Arabico, e o Reino, e Senhorio, que os Mouros chamavam do Algarve era mui grande, e de grandes potencias, porque come?ava no Cabo de S?o Vicente, e seguia pela costa Despacha at? Almiria, e pela banda Dafrica se estendia at? Tremecem, em que entravam Fez, e Cepta, e Tangere, que diziam de Benamarim, porque os Lugares, que os Reis de Portugal at? agora tem na parte do Algarve daquem m?r, que ? em Hespanha s?o estes, a saber, Estombar, Alvor, Villa nova de Portim?o, Cacella, Paderne, Tavilla, Far?o, Loul?, Silves, e Albufeira, Aljazur, e Alcoutim, e Castro Marim, e Lagos, e destes alguns s?o Lugares novos, que em tempo dos Reis de Portugal novamente depois se fizeram, e reformaram.

E destes Lugares do Algarve depois que os El-Rei Dom Affonso houve a seu poder, e Senhorio se acha, que com suas Gal?s, e outros muitos navios fez sempre de continuo crua guerra aos Mouros Dafrica, que em seus corpos e fazendas recebiam grandes danos e prezas, e El-Rei Dom Affonso por seu grande esfor?o, e bons feitos, tinha antre os Reis principais Christ?os mui louvado nome, pelo qual se acha que o Papa por esta honrada fama del Rei lhe mandou por meo dum Frei Payo, Ministro da ministra??o dos Freires de San-Tiago rogando-lhe que em remiss?o de seus peccados, quizesse tomar a Cruz de Jesu Christo contra os Mouros dultra m?r, que tiranamente tinham a Caza Santa em desprezo da F?, e da Religi?o e que El-Rei respodeo, que se El-Rei de Fran?a a esta conquista passasse em pessoa, que lhe prometia, que elle tambem com a sua passasse, salvo se alguma outra guerra, ou tamanha necessidade o impedisse, porque o n?o podesse fazer, e por esso ambos n?o foram, porque o derradeiro Rei de Fran?a, que por recobrar a Caza Santa passou a ultra m?r, foi El-Rei S?o Luis de Fran?a primo com irm?o deste Dom Affonso de Portugal, filhos de duas Irm?s, quando levou comsigo a Rainha Dona Margarida sua molher, e elle, e dous Irm?os seus foram dos infieis prezos, e cativos na grande, e crua batalha, que ouveram com o gram Soldam, junto com Damiata do Egypto, como em outras partes j? dice, o que foi muito antes do tempo deste requerimento do Papa, segundo est? na Coronica de Fran?a, e em outras mais largamente se contem.

Como El-Rei de Portugal foi em posse pacifica, o Mestre Dom Payo Correa se tornou a seu Mestrado, e deu conta a El-Rei Dom Affonso de Castella de todo o que era passado, o qual para mais firmeza, e maior seguridade das condi??es com que a El-Rei seu genro fizera sua doa??o do Algarve, houve por bem, que o dito seu genro as prometesse, e segurasse com menagem, e juramento em sua propria pessoa, para que o dito Rei Dom Affonso de Castella enviou a Portugal com seu poder abastante ao Ifante D. Luis seu irm?o, que diceram de Pontes, filho del-Rei Dom Fernando, e da Rainha Dona Joana sua segunda molher, filha do Conde Dom Sim?o de Pontes, e sobrinha del-Rei Dom Luis de Fran?a, o qual ?lem de tomar del-Rei de Portugal todas as seguridades conforme as condi??es de sua doa??o, ainda o dito Ifante para maior seguridade, e mais honesta escuza del-Rei D. Affonso de Castella, para os de seu Reino, que o reprendiam, e acuzavam por tal doa??o, quiz que todas estas Villas e Castellos fossem, como foram logo entregues a Jo?o de Boim, e Pedro Annes, seu filho, Vassallos e naturaes del-Rei de Portugal, que eram pessoas de limpo e nobre sangue de grandes cazas, para que por elles os tivessem de fieldade com menagem de juramento que fizeram, que quando el-Rei de Portugal n?o comprisse a condi??o dos cincoenta Cavalleiros, que a El-Rei de Castella em sua vida havia de dar, que elles com suas pessoas, e com as ditas Villas e Castellos servissem a El-Rei de Castella, e comprissem inteiramente tudo o que El-Rei de Portugal era neste cazo obrigado a cumprir.

E porque El-Rei de Portugal n?o foi desta ter?aria do Reino do Algarve muito contente, e dice por outros desvairos que houve com Castella sobre parti??es, e termos dos Reinos, foram estes Reis desacordados de que El-Rei de Castella se sentia mais aggravado, mas por meo da Rainha Dona Breatiz, que como virtuosa, e prudente procurou logo antre elles boa paz, e concordia, vieram logo por Embaxadores a Portugal o dito Dom Payo Correa Mestre de San-Tiago, de que j? dice, e Dom Martim Nunes, Mestre da Cavallaria do Templo nos tres Reinos Despanha, e Dom Affonso Garcia, Adiantado m?r no Reino de Murcia, os quaes pozeram antre elles taes conven?as, com que perderam todo o dezamor, e escandalo, que antre elles havia, e ficou assentado, que El-Rei de Portugal livremente, e para sempre despozesse de todalas terras, e Villas, e couzas do Algarve todo o que quizesse sem embargo de todalas outras promessas e condi??es que antre elles fossem postas, salvo da ajuda dos cincoenta Cavalleiros de que o n?o revelou, e com esto os Embaxadores se tornaram, e acharam El-Rei de Castella em Badalhouse, que logo enviou suas proviz?es ao dito Jo?o de Boim, e Pedro Anes seu filho, porque lhe mandou que entregassem a El-Rei Dom Affonso seu genro todalas Villas e Castellos do Algarve, e se elle fosse fallecido, que as entregassem a El-Rei Dom Diniz seu filho, e lhas alevantou com todalas crauzolas, e solenidade, e todo preito, e menagem, que por quaisquer obriga??es, e couzas do Algarve tiveram feito a elle, ou a outrem em seu nome, e por Carta asselada feita em Badalhouse Mercoles dezaseis dias andados de Fevereiro da era de mil e duzentos e sessenta e sete annos, e sobscrita por o Secretario Mill?o Paes, que por mandado del-Rei a fez escrever.

E porque a este tempo o Ifante D. Diniz herdeiro filho del-Rei de Portugal, posto que fosse mo?o era j? em idade para poder caminhar, El-Rei, e a Rainha seus padres acordaram de o enviar, como enviaram muito honradamente a Castella a visitar El-Rei Dom Affonso seu av?, para lhe ter em merc? a doa??o, e aven?as passadas, e assi para lhe pedir relevamento das mais obriga??es, e servi?o dos cincoenta Cavalleiros, e assi com mui nobre companhia chegou a Sevilha onde achou El-Rei, que o recebeo, e agazalhou com muitas festas, e honras, e com sinaes de grande amor, a quem o Ifante Dom Diniz passados os comprimentos, e visita??es, e bem ensinado da instru??o, que levava pedio por merc? a El-Rei seu av?, que daquella obriga??o dos cincoenta Cavalleiros, e assi de qualquer outra que tocasse ao Algarve, quizesse para sempre relevar a El-Rei Dom Affonso seu padre, e a elle, e aos que delle decendessem, na qual cousa segundo a Coronica de Castella conta, El-Rei esteve algum pouco suspenso, e com os grandes de seu Reino quiz poer o caso em Conselho, no qual por s? Dom Nuno de Lara com rez?es que pareciam onestas, e de bem de seus Reinos ouve alguma contradi??o, mas os outros, que logo conheceram a vontade del-Rei, que era satisfazer em todo a seu neto, todos lhe aprovaram, e louvaram, e sobre este assento andando o Ifante Dom Diniz com El-Rei seu av? foram a Jaem, donde houve por bem que o Ifante se tornasse, como tornou a Portugal, e lhe mandou dar uma carta que trouxe para El-Rei seu padre, escrita em pergaminho em palavras Castelhanas, e asselada de seu selo pendente das Armas de Castella, e de Li?o, que tornadas fielmente em Portuguez por mim Coronista, que a propria Carta vi, diziam nesta maneira.

<>.

Com esta Carta, e com grandes davidas que o Ifante D. Diniz recebeo del-Rei Dom Affonso seu av? se tornou a Portugal com que El-Rei seu padre foi muito alegre, e com elle veo o Mestre Dom Payo Correa, que depois de tornado a Castella n?o soube mais delle, nem o que depois fez, salvo que no fim de seus dias se recolheo ? Villa de Ucles, que era Cabe?a do Convento do seu Mestrado de San-Tiago em Castella, onde se diz que bem, e catolicamente acabou sua vida j? velho a d?s dias de Fevereiro de mil e duzentos setenta e cinco annos, e que mandou que morto o trouxessem a Tavilla, que elle ganhara dos Mouros, de que escondidamente foi ahi trazido, e sepultado na Egreja de Santa Maria antre o Altar m?r, e a parede da Egreja.

E passados depois alguns annos andando a era de mil duzentos e setenta e um, havendo contenda na jurdi??o do Imperio de Roma, que vagara por morte de Federico o segundo, que foi mao, e erege Emperador dos Rom?os, e grande perseguidor das cousas da Santa Egreja, alguns Eleitores elegeram a Rodufo Conde de Cambra, irm?o del-Rei de Inglaterra, e outros elegeram, e chamaram logo para o Imperio este Rei Dom Affonso de Castella, o qual mui poderoso de armas, e gentes, e assi mui abastado de riquezas, depois que leixou em Castella jurado por Rei, e seu sobcessor ao Ifante D. Fernando de Lacerda seu filho primogenito, logo passou em Fran?a esperando de ser logo no dito Imperio sem contradi??o confirmado por o Papa Gregorio decimo, ao tempo em Li?o Sola nova de Fran?a fez Concilio geral, onde o dito Rei D. Affonso achou j? eleito e confirmado o dito Rodufo com quem competia, e agravando-se desso ao Papa, que encontrou na Villa de Belicaudo em Fran?a junto com Avinh?o, finalmente confortado de Sua Santidade, e rogado, que por se evitar cisma, e guerras antre os Christ?os, que renunciasse o direito que no dito Imperio tinha, e elle o fez, e tornou-se em Espanha onde achou falecido de peste o dito Ifante Dom Fernando, seu filho maior, que por assossego da sobce??o de Castella, e de Li?o sobre que os Reis de Fran?a, e de Castella competiram, fora cazado com a Ifante Dona Branca filha del-Rei S. Luis a que pertencia ter direito nos ditos Reinos Despanha por ser filho da Rainha Dona Branca filha del-Rei Dom Affonso o noveno, que venceo a batalha das Navas de Toloza, e desta Ifante Dona Branca o dito Ifante Dom Fernando tinha j? havido dous filhos, a saber Dom Affonso, e Dom Fernando de Lacerda, a que muito mais claramente dizem da guedelha, porque este apelido de Lacerda n?o ? de alguma gera??o, nem memoria passada dos seus progenitores de uma parte, nem da outra, mas s?mente lhe foi posto nome aventicio, porque o dito Ifante Dom Fernando, que primeiramente se chamou de Lacerda, quando naceo trouxe do ventre da Rainha Dona Violante Darag?o sua madre uma guedelha de cabelos nos peitos a que chamam Lacerda, e este Dom Affonso por contrato do cazamento, e por direito comum pertencia mais a sobcess?o de Castella que outro algum.

Mas ao tempo que o dito Ifante Dom Fernando faleceo era tambem em Castella o Ifante Dom Sancho seu irm?o lidimo, que a auzencia del-Rei Dom Affonso seu padre, e por morte do irm?o tomou logo posse da governa??o, e defen??o do Reino, em que trabalhou de ser como singular Principe, porque resistio com batalhas, e grandes for?as aos Reis de Grada, e Marrocos, que entraram em Espanha, e n?o consentio que Dom Affonso de Lacerda seu sobrinho fosse jurado, nem obedecido por sobcessor de Castella, e El-Rei Dom Affonso em chegando de Fran?a, procurou logo que o dito Ifante Dom Sancho por todolos Estados do Reino fosse, como foi jurado, e havido por seu sobcessor, sem embargo doutro juramento, que ao dito Ifante Dom Fernando por si, e por seus filhos, e sobcessores era feito, e a Rainha Dona Violante molhar del-Rei Dom Affonso de Castella anojada por se denegar a sobcess?o a seus netos, e principalmente a Dom Affonso o primeiro com receo que houve de os matarem em Castella, se foi com elles para El-Rei Dom James deste nome o primeiro, e dos Reis Darag?o o decimo, que era padre della, donde enviou pedir a El-Rei Dom Affonso seu marido depois que veo de Fran?a, que pois elle por si ganhara dos Mouros o Reino de Murcia, que o d?sse ao Ifante Dom Affonso seu neto, com que para sua honra, e estado seria satisfeito, e renunciaria por esso todo o direito que tivesse na sobcess?o de Castella, no que El-Rei levemente, e com san vontade consentia, mas o Ifante Dom Sancho em todo o contrariou, que com amea?as de morte, que fez n?o leixou ir ao Papa os Embaxadores que El-Rei seu padre sobre esso lhe mandava, dizendo que como o Ifante Dom Fernando seu irm?o falecera, logo o Deos leixara por herdeiro de todolos Reinos, e couzas de que El-Rei seu padre era Rei, e Senhor.

E querendo El-Rei por Cortes, e prazer dos povos remedear esta denega??o do Ifante seu filho, e para que seu neto houvesse toda via o Reino de Murcia, fez ajuntar os procuradores dos Concelhos do Reino, a que o Ifante Dom Sancho requereo com muitas rez?es, que faziam por elle, que por alguma maneira n?o consentissem no requerimento del-Rei, e assi descontente o Ifante antes de se tomar alguma concruz?o, se foi para Cordova, e El-Rei depois de declarar aos povos as muitas cauzas, e raz?es porque de direito podia dar o Reino de Murcia a Dom Affonso seu neto, os Procuradores para no cabo responderem com madura delibera??o, como elle requeria, pediram espa?o dalgum tempo, para lhe tornarem reposta, os quaes sem lha darem se foram logo com medo ajuntar com o Ifante Dom Sancho em Cordova, onde sendo delle bem recebidos, concordaram, que por quanto em Valhadolid sobre este cazo se faria ajuntamento dos mais principaes Lugares, e grandes do Reino, elles dahi a certo tempo fossem, como foram ahi juntos, salvo os Concelhos Dandaluzia, que sempre tiveram com El-Rei Dom Affonso, os quaes assi juntos em Valhadolid era hi o Ifante Dom Sancho filho del-Rei, e o Ifante Dom Jo?o seu irm?o, e o Ifante Dom Manoel seu tio, e Dom Lopo Senhor de Biscaya, e Dom Diogo seu irm?o, e depois de muitas praticas, e apontamentos, que antre si fizeram leixaram todos a determina??o da senten?a ao dito Ifante Dom Manoel, o qual alevantado em p?, pronunciou a senten?a, e dice, que por quanto El-Rei Dom Affonso seu irm?o matara o Ifante Dom Fadrique tambem seu irm?o, e a Dom Sim?o Rodrigues dos Cameyros seu sogro, e outros nobres do seu Reino sem cauza, que perdesse por esso a justi?a, e porque se dezaforaram os Fidalgos, e os Concelhos com dano, e perda delles, que n?o comprissem suas Cartas, nem lhe pagassem os foros, e porque despertara a terra, e fizera m?s moedas, que n?o houvesse do Reino preitas, nem servi?os, nem martineguas, nem moedas foreiras, e que dahi em diante o dito Ifante se podesse chamar Rei de Castella, e de Li?o.

E preguntados os Procuradores, e povos se aprovavam esta senten?a, respondeo por todos um Diogo Affonso Alcaide m?r de Toledo, que a todos parecia bem a determina??o do Ifante Dom Manoel, por as rez?es que dicera, e mais por a prodigalidade del-Rei Dom Affonso, que para o resgate do Emperador de Constantinopla dera das rendas de Castella cincoenta quintaes de prata, e mais por dar o Algarve a seu genro El-Rei Dom Affonso de Portugal, e lhe quitar ajuda, e o servi?o dos cincoenta Cavalleiros em que era obrigado, e por?m que lhe parecia couza honesta, se ao Ifante Dom Sancho assi bem parecesse, que elle em vida del-Rei seu Padre sen?o chamasse Rei, no que o Ifante consentio; e com esto a obediencia de todos os Lugares logo foi alevantada a El-Rei, salvo a de Sevilha, onde El-Rei se recolheo; e perseguido de muitas necessidades enviando rogar, e encomendar aos Prelados, e pessoas de auctoridade do Reino, que pozessem concordia, e boa paz antre elle, e seu filho, elles segundo alguns dizem o n?o fizeram, antes o contrariavam.

Com esta tamanha necessidade enviou a pedir ajuda a El-Rei Dom Affonso seu genro, que por em tempo de tanta fortuna ser agardecido ?s boas obras, e gra?as que delle tinha recebidas, lhe mandou trezentos Cavalleiros Portuguezes pagos ? sua custa por muito tempo, que por honra, e servi?o del-Rei o fizeram de maneira em Castella, que sua fama, e bom nome ser? sempre lembrada, e as Coronicas Despanha, que eu vi d?o desso craro testemunho, e destes trezentos Cavalleiros de Portugal, que vieram, e andaram em servi?o del-Rei Dom Affonso, creo que se tomou a opini?o errada, que em alguns livros vi, em que tem, que a obriga??o de que este Rei Dom Affonso relevou a El-Rei de Portugal seu genro, e a El-Rei Dom Diniz seu neto, era de trezentos Cavalleiros com que era obrigado de o ajudar, e servir quando lhe comprisse, a tal senten?a, e opini?o s?o errados, porque a obriga??o, que El-Rei Dom Affonso, e Ifante Dom Diniz seu filho tomaram por a sobcess?o do Algarve, do que foram relevados, era s?mente de cincoenta Cavalleiros, que em vida del-Rei Dom Affonso de Castella, contra todolos Reis Despanha lhe haviam de dar, e a verdade desto eu Coronista verdadeiramente a vi nas proprias doa??es, quita??es, e privilegios assellados, e auctorizados, que sobresso se concederam, os quais est?o no Castello de Lisboa, na Torre do Tombo de Portugal, de que eu sou Guarda m?r, e outros semelhantes deve haver nos Cartorios de Castella.

E por?m a guerra, e desaven?a antre El-Rei Dom Affonso de Castella, e o Ifante Dom Sancho seu filho durou muitos annos, nem cessou, salvo por morte del-Rei, em cuja vida padeceo muitas necessidades, e foi sempre perseguido de mui contrairas fortunas, por as quaes meteo por sua ajuda em Espanha Aben?af Rei de Marrocos, e seus filhos a que se diz, que antes de entrarem empenhou sua Coroa por sessenta mil dobras, o qual com grandes gentes, e poder de Mouros correo a terra dos Christ?os, e sem aproveitarem ao dito Rei de Castella fazendo primeiro nellas muitos danos, e estragos se volveo em Africa, como na Coronica de Castella esto milhor, e com mais particularidade se declara.

A este tempo chegada a era de mil duzentos setenta e oito, El-Rei Dom Affonso de Portugal sendo j? velho de setenta annos, e perseguido de dores, e paix?es de velhice, por descan?ar em alguma parte dos trabalhos, e cuidados do Reino, ao Ifante Dom Diniz seu filho, que era de dezoito annos, e n?o era cazado, deu-lhe Caza em Lisboa a dezaseis dias de Junho do anno sobre dito, e de seu assentamento alem doutras couzas, lhe ordenou logo mais em dinheiros quarenta mil livras de moeda antiga, que valiam a respeito dos pre?os, e valor do ouro, e da prata dagora dezaseis mil cruzados, porque naquella tempo, segundo ? bem verificado, uma livra valia vinte soldos, e duas livras e meia faziam cincoenta soldos, que valiam um maravedi douro, que no pre?o, e pezo eram os maravedis douro como agora s?o os cruzados, e ducados.

E do dia que El-Rei deu assi Caza ao Ifante seu filho, e a nove mezes primeiros seguintes, tendo j? feito em mui inteiro acordo seu solene Testamento, arrependido de seus peccados recebendo como bom Catholico, e fiel Christ?o todolos Sacramentos para bem de sua alma, em Lisboa a vinte dias de Mar?o de mil e duzentos setenta e nove, acabou sua vida, e deu sua alma a Deos, em idade de setenta annos, dos quais Reino trinta e dous, e foi logo soterrado no Moesteiro de S?o Domingos de Lisboa, que elle novamente fez, e depois na era de mil e duzentos e oitenta e nove, foi tresladado seu corpo ao Moesteiro Dalcoba?a, pela Rainha Dona Breatiz sua molher, que ficou viva, e se mandou depois enterrar com elle no dito Moesteiro Dalcoba?a, onde ambos jazem.

Este Rei Dom Affonso fez de novo o dito Moesteiro de S. Domingos de Lisboa, o qual come?ou aos tres annos primeiros depois que foi Rei, e o acabou em d?z annos, e assi fez o Moesteiro de Santa Clara de Santarem, e povorou, e fez a Villa Destremoz, e reformou, e povorou a Villa de Beja, que dos tempos dos Mouros era de todo destroida, mas n?o fez a torre grande do Castello, por que esta fez seu filho, El-Rei Dom Diniz, e assi deu bons foraes a muitos Lugares do seu Reino, e em umas grandes fomes, que nelle houve em seu tempo, se acha que uzou de grande piedade com seus vassalos, a que proveo com devidos mantimentos, trazidos de muitas partes de f?ra do Reino ? custa de suas rendas, e a penhor das ricas joias de seu tesouro, e foi o primeiro que se intitulou Rei de Portugal, e do Algarve, e que primeiro por esta cauza poz a bordadura dos Castellos, como atraz ? j? dito.

DEO GRATIAS

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