Read Ebook: The Book of Art for Young People by Conway Agnes Ethel Conway William Martin Sir
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Ebook has 453 lines and 45924 words, and 10 pages
Contributor: Jo?o da Costa
INSTRVC?AM SOBRE A CVLTVRA das Amoreiras, & cria?a? dos Bichos da seda,
A conserua?a?, & augmento das manufacturas da seda,
Pelo muito alto, & poderoso Principe DOM PEDRO GOVERNADOR, E REGENTE dos Reinos de Portugal,
DE D. LVIS DE MENEZES Conde da Eiriceira, & Veedor da fazenda Real,
Pelo P. D. RAFAEL BLVTEAV, Clerigo Regular Theatino da Diuina Prouidencia, Doutor na sagrada Theologia, Pr?gador da Magestade da Raynha M?y de Inglaterra, & Calificador do S. Officio no Reino de Portugal.
EM LISBOA. Na Officina de Ioam da Costa. Com todas as liten?as necetiarias. 1679.
AO PRINCIPE NOSSO SENHOR. SENHOR.
Clerigo Regular da diuina Prouidencia.
NOTAS DE RODAP?:
Parisatis m?y de Cyro, Rey de Persia.
Ex ea merce negotiatores, vel maximum capiunt emolumentnm, siquidem nauibus quotannis in Europam euecta, certissimo compendio long?, lat?que diu enditur.
LICEN?AS.
Hoc opus inscriptum ? P. D. Raphaele Bluteau Anglo. nostrae Congregationis Theologo, Lusitano idiomate compositum, & juxta assertionem Patrum, quibus id c?misimus approbatum, vt Typis mandetur, quoad nos spectat, facultatem concedimus. In quorum fidem praesentes litteras, man? propria subscriptas, solito nostrae Congregationis sigillo firmauimus. Romae die 2. Nouembris 1678.
Este he o meu parecer. Carmo 8. de Nou?bro de 1678.
Podese imprimir. Lisboa 17. de Nouembro de 1678.
SENHOR.
Qve se possa imprimir, vistas as licen?as do S. Officio, & Ordirio, & depois de impresso rornar? ? Mesa, para se taixar & conferir, & sem isso n?o correr?. Lisboa 11. de Feuereiro de 1679.
Visto estar c?forme com o Original, pode correr este Liuro. Lisboa 21. de Iunho de 1679.
Taix?o este Liuro em cem reis. Lisboa 27. de Junho de 1679.
ADVERTENCIA
AOS
PORTVGVEZES
As artes liberaes, & mecanicas, sa? as fontes do b? commum, as bases das Republicas, & as columnas dos Imperios; humas se empenh?o no sustento da vida, como a agricultura; outras se arm?o contra as inuasoens dos inimigos, como a milicia; & outras se desuel?o para o descubrimento, & conquista de terras estranhas, como a nautica; de donde se segue, que florecem as Monarquias com tanto maior gloria, & felicidade, qu?to maior he o numero, & a perfei??o das artes; que nellas se exercit?o.
Nas artes mais nobres, sempre floreceo a Lusitania, admirou o Parnasso a eleg?cia dos seus Poetas, estranhou Neptuno a ouzadia dos seus Argonautas, & Marte enuejou a valentia dos seus Capitaens, mas sempre se mostrou o pouo de Portugal descuidado das artes inferiores, em que comummente se occup?o os pouos dos outros Reinos; Antipatia deue ser que o brio da na??o tem com ac?oens do vulgo, & conhecendo-se cortada para heroicas emprezas, se enuergonha de se abater a plebeios exercicios. Nisto sa? os Pouos de Portugal semelhantes aos de que escreue Xenophonte, que nunca se occupaua? em Artes mechanicas, para que na? degenerasse a nobreza do animo, c? a humildade do exercicio. Mas suposto que esta briosa liberdade aceredita a bizarria dos genios, he muito prejudicial ao bem c?mum dos Estados, porque della se occasiona h?a perpetua, & quasi natural ociosidade no pouo, & a ociosidade dos pouos, he causa da pobreza dos Reinos.
As tres materias, sobre que obr?o todas as artes, sa? la?, linho, & seda, mas deixando as primeiras duas, que na? sa? deste lugar, a mais nobre, a mais lucratiua, & a mais misteriosa, he a arte da seda.
A Nobreza desta arte serue de estimulo ? altiua inclina??o dos Pouos; o lucro que della se tira, al?ta as esperan?as dos mercadores, & os misterios que nella se descobrem, despert?o a admira??o dos Sabios.
Em primeiro lugar, he esta arte t?o nobre, que pode seruir de occupa??o ? mesma nobreza, sem desdouro do seu luzimento, como se experimenta em quasi todas as Cidades d'Italia, porque nas partes aonde est? introduzida a cria??o dos bichos da seda, na? ha caza nobre, em que os senhores della, na? se occupem neste apraziuel exercicio, & em muitas cazas ha teares, em que at? as molheres tecem fitas, ou sedas ligeiras para adorno das suas cazas, & das suas pessoas. A nobreza das sci?cias, & das artes, se mede pella calidade dos seus objectos, & que cousa mais nobre, que a seda, que he o objecto, & a materia, sobre que esta arte se exericita. A nobreza, serue a seda, nas galas; aos Senadores, nas Togas; aos Capita?s, nos Est?dartes; aos Sacerdotes, nas sagradas vestiduras; aos Bispos, nas Mitras; aos Cardeaes, nas Purpuras; aos Monarchas nos Diademas; & aos Pontifices, nas Tiaras.
As Damas, offerece a seda flores, que n?o murcha?, nas primaueras; chamas, que na? offendem, nos carmezins; no lauor dos bordados, labirintos sem confusa?, & nas ondas dos chamalotes, mares sem tormentas, & sem naufragios. Serue a seda para as pompas funebres, & para os triumphos, he o enfeite das Cortes, o apparato dos Palacios, o ornato dos Templos, & dos Altares, & o adorno dos mesmos Sanctuarios, retratos da gloria, & hospicios da Diuindade.
Em segundo lugar, a vtilidade, que se tira da cria??o dos bichos da seda, melhor se conhece pella experiencia, que pello discurso. Duas amoreiras grandes, ou quatro pequenas, bast?o para sustentar meia on?a de bichos, que produz? seis arrateis de seda, a qual qu?tidade posta em meadas, val tres mil reis o arratel, de sorte que hum trabalho, ou huma curiosidade, que na? custa dous mil reis, no espa?o de outo semanas ao mais, rende dezoito mil reis. Os pobres pois, que na? tem campos para cultiuarem amoreiras, nem cazas sufficientes para a cria??o dos bichos, se podem occupar em tirar, & dobar a seda, & esta he h?a occupa?a? honesta, & vtil, principalmente a muitas mulheres honradas, que em outros exercicios de maior trabalho, & de menos proueito, gast?o a vista, a saude, & a vida. Nas Prouincias de Flandes, se conta? mais de doze mil pessoas, que se sustent?o s? de dobar a seda, que lhe vem em rama, nas frotas da companhia das Indias Orientaes. Com esta mesma occupa??o, j? se sustentam em Lisboa, mais de trezentas pessoas, que dob?o a seda, que se laura nos cincoenta teares, das nouas manufacturas, & crecendo o numero das amoreiras, & teares, at? se poder laurar toda a seda, que he precisa, para o Reyno, & suas Conquistas, ser? tam vniuersal a occupa??o de dobar a seda, que poucas familias pobres hauer? em Portugal, a que falte o sustento, se se occuparem neste exercicio.
Al?m da ganancia, que a cria?am dos bichos, o dobar da seda, & todos os mais officios depend?tes das manufacturas, prometem aos pobres, a cultura das amoreiras promete ? Nobreza grandes vtilidades, & riquezas, porque muito mais facil, & proueitosa he a cultura destas plantas, que a das oliueiras, & larangeiras, em que muitas cazas de Portugal, tem h?a considerauel parte das suas r?das, porque as oliueiras na? dam fruto, se nam depois de muitos annos, & as larangeiras, nam medram, se nam em terras mimosas, & h?as, & outras estam tam sogeitas ?s inclemencias do tempo, que hum v?to, h?a neuoa, ou h?a chuua intempestiua, he sufficiente para destruir as nouidades. Pello contrario, a cultura das amoreiras, he tam facil, & tam breue, que em tres, ou quatro annos, se poem h?a amoreira, em estado de se come?ar com ella, a cria?am de muitos bichos, & a natureza lhe deu a propriedade, de lhe nam fazer dano, mas antes lhe ser vtil, tirar-lhe as folhas. A dura?am pois desta aruore he tal, que nas Prouincias onde se cultiua, nam ha memoria do tempo, em que foram plantadas. As amoreiras, se cri?o neste Reyno, em toda a terra, sem ser necessario occupar a melhor, nos m?tes, & ainda entre as areas; o publico p?de ordenar, se plantem junto dos caminhos, como se fez em Fran?a, & Italia, & os particulares podem cercar dellas as suas quintas, & vinhas, consider?do que as folhas desta aruore, sa? mais proueitosas, que os frutos das melhores plantas, como se tem experim?tado, estes dous vltimos annos, nesta Cidade de Lisboa, & em alg?as partes da banda d'alem, aonde a folha de cada amoreira, rendeo a seus donos, cinco, seis, & at? outo tostoens. Por onde augmentandose a cria??o dos bichos, ao mesmo passo que crecerem, & se cobrirem de folhas as amoreiras, nouamente plantadas, os rendimentos de hum moral de cinco, ou seis mil amoreiras, ser?m muito maiores, & mais certos, que os de hum oliual, ou laranjal, de outras tantas mil oliueiras, ou laranjeiras, finalmente com a cultura das amoreiras, & cria?am dos bichos, se far? a Nobreza mais rica, ficar? a pobreza aliuiada, & a ociosidade desterrada, se euitar? a sahida do dinheiro do Reyno, se abrir? o caminho ao muito que entrar? pellas ma?s dos Estr?geiros, a troco da seda em rama, ter? Portugal muitas Prouincias da Europa, tributarias ? sua industria, & todas sera? admiradoras da sua opulencia.
Nas ma?s de Deos, os mais debeis, & despreziueis sogeitos, sa? os artifices das maiores marauilhas, tambem nas ma?s dos Princepes, que sa? as imagens de Deos na terra, podem as materias mais humildes, & na aparencia mais inuteis, obrar prodigiosos effeitos; & se Deos antigamente destruyo ao Egipto com mosquitos, & gafanhotos, pode o Princepe nosso Senhor enriquecer a Portugal, c? folhas, & com bichos, folhas de amoreiras, & bichos de seda.
Os bons Ministros dos Princepes, sa? como as Aguias, que da mais sublime Regia? do ar, vem na terra, os mais pequenos insectos: D. Luis de Menezes, Conde da Eyriceira, na suprema eleua?a? da dignidade, em que attende desuelado aos interesses da Monarquia Lusitana, vio com perspicacia de Aguia, aquelle insecto, sutilissimo artifice da seda, nesta Corte apenas conhecido, & com igual agudeza preuio os grandes emolumentos, que podia dar ? Republica a cria?a?, & multiplica?a? desta industriosa creatura, para este effeito insistio o Conde, em que se prantassem amoreiras em todas as Prouincias do Reyno, deu ordem a que viessem de varias partes da Europa Officiaes para as manufacturas, & para esta noua introduc?a?, desfez tantas duuidas, venceo tantas opposi?oens, & se offereceo martyr do bem publico ?s penalidades de tantos, tam varios, & ta? impertinentes cuidados, que pode seruir de exemplar ao zelo, & amor da partia, de admira?a? ? const?cia, & de perpetuo assumpto aos encomios da posteridade; j? se anticipa a fama em applaudir as virtudes militares, & politicas, com que chegou aos mais sublimes postos, sem mais dilig?cia, que hauelos merecido, & se a sua penna, he a mina das luzes c? que se manifesta? ao mundo as fa?anhas dos Heroes de Portugal, algum dia a multida? das suas gloriosas ac?oens, ser? a muitos volumes de Annaes, illustre, & ineuitauel embara?o.
Mas porque na gloria das victorias, que de ordinario se attribue ao valor dos Capitaens, na? deixa de ter sua parte a valentia dos soldados; tamb? na prudente Economia dos Estados, tal vez se acredita? os Ministros inferiores, sem prejuizo da gloria dos supremos Suposto isto, razam he, que para memoria dos vindouros, se fa?a aqui men?a? do zelo, habilidade, & desuelo, com que Rolando du Clos t? proposto, solicitado, & adiantado esta noua introduc?a? das manufacturas da seda, com ta? euidentes experiencias, & c? ta? felice successo, que toda esta Corte se admirou, de quese fizesse ta? vtil a Portugal, a industria de hum Estangeiro; mas a verdadeira patria dos sogeitos de talento, he a terra em que exercita? as suas virtudes, & entre as muitas differen?as que ha entre os homens, & os animaes, h?a das principaes, he que os animaes acha? a sua patria, & os homens a escolhem; aquelles ach?o por patria a terra, em que nac?, & estes escolhem por sua patria, a terra em que pretendem fundar sobre os alicerses da sua virtude, a sua fortuna; com esta considera?am escolheo Rol?do du Clos a Portugal por sua patria, & est? ta? naturalizado, que atreuendo-se a h?a empresa maior, que as suas for?as, parece tem tresladado em si os brios da na??o Portugueza, que sempre fez facil ao seu valor, tudo o que conheceo superior, ao seu poder.
C? generosa, & discreta emula??o, quizeram lograr juntam?te com Rolando du Clos, a gloria desta empresa, como socios no mesmo negocio, & companheiros no mesmo trabalho, Francisco Lopes Franco, vara? de muita virtude, & prudencia, muy conhecido nesta Corte, como benemerito do Reyno, & Io?o Soares da Costa, cuja intelligencia, & zelo do augmento do bem c?mum, promete grandes acertos, para o perfeito estabelecimento desta fabrica, n?o reparando ambos em contribuir largamente para ella com sua fazendas, para que a de S. A. & dos seus vassallos se acrecente.
De maneira que esta artificiosa maquina das sedas, que nos seus principios, estaua fundada sobre h?a s? columna, tem hoje mais pessoas, que a sustent?o, do que teue o fabuloso Ceo dos Poetas, porque descan?a nos hombros de tres Atlantes.
As obras da arte, tem como as da natureza, a sua infancia, & por debeis principios, sobem ao auge do seu augmento. A seda na boca do bicho, que a forma, he h? fio; nas anafayas, he tea; nos casulos, he nouelo; nas dobadouras, he meada, & assim crece a seda em quantidade, & perfei??o, at? que nas vestiduras do homem, chega a ser, o ornamento de hum pequeno mundo.
Do mesmo modo, teue esta fabrica da seda, alicerses t?o frageis, como os da mesma seda, no exordio do seu ser, porque come?ou por hum tear de fitas, em menos de hum anno se vir?o armados cincoenta teares, em que se fazem tafet?s, gorgoroens, galas, primaueras, cetins, & telas, breuemente trabalhar?? outros cinco?ta, & se corresp?der? os progressos a estes principios, daqui a alg?s annos, ter? Portugal mais sedas, que l?as, & os que agora julga? esta empresa impossiuel, ou danosa ao Reino, conhecer?? a sua possibilidade, na euid?cia do successo, & a sua vtilidade, na importancia do proueito.
Tenho mostrado como a arte da seda, he t?o nobre, que pode seruir de exercicio ? nobreza, & t?o lucratiua, que nelle achar? o Reyno h?a mina de excessiuas riquezas, resta que vejamos como esta mesma arte, he t?o misteriosa, que pode dar perpetuos motiuos de contempla??o, & admira??o, ? intelligencia dos Sabios.
O nacimento, cria?am, & vida dos bichos da seda, encerr?o em si t?o profundos misterios, que n?o s? por interesse, mas por recrea??o, & por curiosidade, podem occupar as pessoas mais virtuosas, as Religiosas, as Damas, os Philosofos, & mais doutos Theologos do mundo.
Os principaes artigos, & misterios da F? Catholica, sa? a exist?cia de hum Deos, a Trindade das pessoas na natureza diuina, a Encarna??o do Verbo, o nacimento de Christo, a adora?a? dos Reys Magos, a transfigura??o, a morte, & Resurrei??? do Senhor.
Todos estes misterios, no bicho da seda, admirauelmente se representam. Primeiram?te aos Atheistas, filhos da incredulidade, & partos da cegueira, que nam tem olhos para o Deos, que os mesmos cegos adora?, mostra este insecto com palpaueis marauilhas, a existencia do Author da natureza; que se nam ha no mundo hum artifice supremo, qual he o Mestre das artes, que este prodigioso artifice, sem mestres exercita? fia, tece, & edifica, fia sem m?os, sem bra?os tece, & sem algum instrumento, edifica o seu domicilio, & se com a efficacia da sua palaura, Deos fez ao vniuerso, este milagroso Arquitecto, sem voz, & sem falla, fabrica no seu casulo, hum pequeno mundo. As luzes da verdade abre os olhos, ? incredulo Atheista, & j? que nas luzes dos Astros, & nos brilhantes Planetas, nam ves da Diuindade os rutilantes reflexos, confessa que para proua de que no mundo ha Deos, este bichinho basta.
Adoramos a Deos, hum na essencia, & trino nas pessoas; & neste insecto admiramos, tres sogeitos distinctos em h?a s? natureza, porque o principio do seu ser, he hum pequenino ouo da grossura de hum gra? de mostarda, do ouo nace hum bicho, & do bicho h?a borboleta; de maneira que em h?a s? substancia, se acham tres suppositos realmente distinctos; a substancia destes suppositos se c?munica, mas n?o se c?munic?o os suppositos, & com tudo a substancia, & os suppositos sa? physicamente a mesma essencia, & esta essencia nos tres suppositos obra por differentes modos & do mesmo modo, que nas pessoas diuinas, h?a pessoa nam tem as perfei?oens relatiuas da outra, suposto que cada pessoa he igualmente perfeita, mas antes fora imperfei?a? que a propriedade da primeira pessoa, se achasse na segunda, & na terceira, & assim n?o tem a pessoa do Pay a propriedade relatiua do Filho, nem o Filho possue a propriedade relatiua do Pay, nem ao Espirito Santo, se attribu? as perfei?oens do Pay, em quanto Pay, nem as do Filho, em quanto Filho; tambem nos tres suppositos da substancia deste prodigioso insecto, nam tem o ouo as perfei?oens proprias do bicho, nem o bicho, as da borboleta, nem a borboleta, as do bicho, n? do ouo, porque o ouo nam anda como o bicho, nem o bicho voa como a borboleta, nem a borboleta, & o bicho perseueram sem corrup??o de hum anno para outro, como o ouo.
No Verbo encarnado, estam vnidas duas differentes naturezas, a humana, & a diuina; & no bicho da seda se acham duas diuersas naturezas, porque como bicho he reptil, como borboleta he volatil; no reptil, se figura a humildade do ser humano, & no volatil, se simboliza a sublimidade do diuino.
Por virtude do Espirito Santo, tomou o Verbo Eterno carne nas entranhas de huma Virgem; & a semente dos bichos se anima, ou com o calor do Sol, ou com o calor natural, no peito de huma donzella.
Christo entre palhas naceo, & o bicho da seda entre folhas nace; naceo o Senhor no mais prof?do silencio da noite, & o bicho da seda no silencio viue, & com os estrondos, morre.
No presepio, os Reys sabios buscara? ao Senhor, & sa? sabios os Reys, que procura? no seu Reyno a cria?am deste insecto. No Thabor, Christo se transfigurou, & ficara? suas vestiduras brancas como a neue, tambem o bicho da seda se transfigura em h?a borboleta, que se iguala ? neue na aluura.
O Senhor que a todos veste, morreo n? em hum madeiro, & o bicho da seda, que a todos d? de vestir, viue, & morre n?, retratto da paciencia, & da pobreza. Finalmente resuscitou o Senhor, & no sepulcro, deixou as mortalhas, & o bicho da seda rompe o casulo, em que estaua sepultado, & nelle deixa duas pelles, como despojos da morte, & trofeos da immortalidade. Mas he tempo que acabe, & acabo aduirtindo aos discretos, que cada ac?a? do bicho da seda, he hum jeroglifico, & em cada jeroglifico, se significa h?a virtude.
Todos os documentos de bem viuer, se aprendem na contempla?a? da vida, & morte deste Rey dos insectos, a charidade, a prudencia, a penitencia, & o desengano das vaidades do mundo.
Que charidade mais entranhauel pode hauer, que desentranhar-se para vestir os n?s; forma o bicho da seda com a substancia das suas entranhas, os defensiuos com que os homens, se arma? contra as injurias do tempo, & para remedear necessidades alheas, conuerte em preciosas roupas, os seus proprios alimentos.
Que prudencia mais soberana, do que ordir innocentes enredos, para c?seguir gloriosas victorias; fia o bicho da seda os la?o, em que se prende, & se encarcera a si mesmo, mas quando he tempo, quebra a prizam, & sahe victorioso. Nos labirintos da Corte, muitos se enredam no que tecem, mas nam se sabem desembara?ar, do em que se enred?o.
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