Read Ebook: A Compilation on Bahá'í Education by Universal House Of Justice Bah U Ll H Contributor Abdu L Bah Contributor Shoghi Effendi Contributor
Font size:
Background color:
Text color:
Add to tbrJar First Page Next Page Prev Page
Ebook has 985 lines and 27038 words, and 20 pages
Um joven guerreiro cuja tez branca n?o cora o sangue americano: uma crean?a e um rafeiro que viram a luz no ber?o das florestas, e brincam irm?os, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermittente traz da praia um ?cho vibrante, que res?a entre o marulho das vagas:
--Iracema!...
O mo?o guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos pr?sos na sombra fugitiva da terra: a espa?os o olhar empanado por tenue lagrima cahe sobre o gir?u, onde folgam as duas innocentes creaturas, companheiras de seu infortunio.
N'esse momento o labio arranca d'alma um agro sorriso.
Que deix?ra elle na terra do exilio?
Uma historia que me contaram nas lindas varzeas onde nasci, ? calada da noite, quando a lua passeava no c?o argenteando os campos, e a brisa rugitava nos palmares.
Refresca o vento.
O rullo das vagas precipita. O barco salta sobre as ondas; desapparece no horisonte. Abre-se a immensidade dos mares: e a borrasca enverga, como o condor, as foscas azas sobre o abysmo.
Deus te leve a salvo, brioso e altivo barco, por entre as vagas revoltas, e te poje n'alguma enseada amiga. Soprem para ti as brandas auras: e para ti jaspeie a bonan?a mares de leite.
Em quanto vogas assim ? discrip??o do vento, airoso barco, volva ?s brancas areias a saudade, que te acompanha, mas n?o se parte da terra onde revoa.
Al?m, muito al?m d'aquella serra, que ainda azula no horisonte, nasceu Iracema:
Iracema, a virgem dos labios de mel, que tinha os cabellos mais negros que a aza da gra?na, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jaty n?o era doce como seu sorriso; nem a baunilha rescendia no bosque como seu halito perfumado.
Mais rapida que a corsa selvagem, a morena virgem corria o sert?o e as matas do Ip?, onde campeava sua guerreira tribu, da grande na??o tabajara. O p? gracil e n?, mal ros?ando, alisava apenas a verde pellucia que vestia a terra com as primeiras aguas.
Um dia, ao pino do sol, ella repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oitycica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acacia silvestre esparziam flores sobre seus humidos cabellos. Escondidos na folhagem os passaros ameigavam o canto.
Iracema sahiu do banho: o aljofar d'agua ainda a roreja, como ? d?ce mangaba que c?rou em manh? de chuva. Emquanto repousa empluma das pennas do gar? as flechas de seu arco; e concerta com o sabi? da mata pousado no galho proximo, o canto agreste.
A graciosa ar?, sua companheira e amiga, brinca junto d'ella. ?s vezes sobe aos ramos da arvore e de l? chama a virgem pelo seu nome; outras remexe o ur? de palha matisada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do craut?, as agulhas da juss?ra com que tece a renda, e as tintas de que matisa o algod?o.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol n?o deslumbra; sua vista perturba-se.
Deante d'ella e todo a contemplal-a, est? um guerreiro extranho, se ? guerreiro e n?o algum m?u espirito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das aguas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rapido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gottas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro impeto, a m?o lesta cahiu sobre a cruz da espada; mas logo sorrio. O mo?o guerreiro aprendeu na religi?o de sua m?e, onde a mulher ? symbolo de ternura e amor. Soffreu mais d'alma, que da ferida.
O sentimento que elle p?z nos olhos e no rosto, n?o sei eu. Porem a virgem lan?ou de si o arco e a uira?aba, e correu para o guerreiro, sentida da magoa que causara. A m?o que rapida ferira, estancou mais rapida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando comsigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
--Quebras commigo a flecha da paz?
--Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irm?os? D'onde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
--Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irm?os j? possuiram, e hoje tem os meus.
--Bemvindo seja o extrangeiro aos campos dos Tabajaras, senhores das aldeias, e ? cabana de Araken, pae de Iracema.
O extrangeiro seguiu a virgem atrav?s da floresta.
Quando o sol descambava sobre a crista dos montes, e a r?la desatava do fundo da mata os primeiros arrulhos, elles descobriram no valle a grande taba: e mais longe, pendurada no rochedo, ? sombra dos altos joaseiros, a cabana do Pag?.
O anci?o fumava ? porta, sentado na esteira de carna?ba, meditando os sagrados ritos de Tupan. O tenue s?pro da brisa carmeava, como frocos de algod?o, os compridos e raros cabellos brancos. De immovel que estava, sumia a vida nos olhos cavos e nas rugas profundas.
O Pag? lobrigou os dois vultos que avan?avam; cuidou v?r a sombra de uma arvore solitaria que vinha alongando-se pelo valle fora.
Quando os viajantes entraram na densa penumbra do bosque, ent?o seu olhar como o do tigre, feito ?s trevas, conheceu Iracema, e viu que a seguia um joven guerreiro, de extranha ra?a e longes terras.
As tribus tabajaras, d'al?m Ibyapaba, falavam de uma nova ra?a de guerreiros, alvos como fl?res de borrasca, e vindos de remota plaga ?s margens do Mearim. O anci?o pensou que f?sse um guerreiro semelhante, aquelle que pisava os campos nativos.
Tranquillo, esperou.
A virgem aponta para o extrangeiro e diz:
--Elle veiu, pae.
--Veiu bem. ? Tupan que traz o hospede ? cabana de Araken.
Assim dizendo, o Pag? passou o cachimbo ao extrangeiro: e entraram ambos na cabana.
O mancebo sentou na rede principal, suspensa no centro da habita??o.
Iracema accendeu o fogo da hospitalidade; e trouxe o que havia de provis?es para satisfazer a fome e a sede: trouxe os restos da ca?a, a farinha d'agua, os fructos silvestres, os favos de mel e o vinho de caj? e ananaz.
Depois a virgem entrou com a iga?aba, que ench?ra na fonte proxima de agua fresca para lavar o rosto e as m?os do extrangeiro.
Quando o guerreiro terminou a refei??o, o velho Pag? apagou o cachimbo e falou:
--Vieste?
--Vim: respondeu o desconhecido.
--Bem vieste. O extrangeiro ? senhor na cabana de Araken. Os Tabajaras tem mil guerreiros para defendel-o, e mulheres sem conto para servil-o. Dize, e todos te obedecer?o.
--Pag? eu te agrade?o o agasalho que me d?ste. Logo que o sol nascer deixarei tua cabana e teus campos onde vim perdido; mas n?o devo deixal-os sem dizer-te quem ? o guerreiro, que fizeste amigo.
--Foi a Tupan que o Pag? serviu: elle te trouxe, elle te levar?. Araken nada fez pelo hospede; n?o pergunta d'onde vem, e quando vae. Se queres dormir, des?am sobre ti os sonhos alegres: se queres falar, teu hospede escuta.
O extrangeiro disse:
--Sou dos guerreiros brancos, que levantaram a taba nas margens do Jaguaribe, perto do mar, onde habitam os Pytiguaras, inimigos de tua na??o. Meu nome ? Martim, que na tua lingua diz como filho de guerreiro; meu sangue o do grande povo que primeiro viu as terras de tua patria. J? meus destro?ados companheiros voltaram por mar ?s margens do Parahyba, de onde vieram: e o chefe, desamparado dos seus, atravessa agora os vastos sert?es do Apody. S? eu de tantos fiquei, porque estava entre os Pytiguaras de Acara?, na cabana do bravo Poty, irm?o de Jaca?na, que plantou commigo a arvore da amizade. Ha tres s?es partimos para a ca?a; e perdido dos meus vim aos campos dos Tabajaras.
Add to tbrJar First Page Next Page Prev Page