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Read Ebook: O Mysterio da Estrada de Cintra. Cartas ao Diário de Noticias by Ortig O Ramalho Queir S E A De

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Ebook has 1687 lines and 65049 words, and 34 pages

--L? vou!

Voltou pouco depois, e eu ouvi alguem que dizia:

--V?o com raparigas para Lisboa.

O trem prosseguiu.

N?o posso dizel-o com certeza.

A carruagem entrou logo depois n'um pavimento lageado e d'ahi a dois ou tres minutos parou. O cocheiro bateu no vidro, e disse:

--Cheg?mos.

O mascardo que n?o tornara a pronunciar uma palavra desde o momento que acima indiquei, tirou um len?o da algibeira e disse-nos com alguma commo??o:

--Tenham paciencia! perd?em-m'o... Assim ? preciso!

F... approximou o rosto, e elle vendou-lhe os olhos. Eu fui egualmente vendado pelo que estava em frente de mim.

Ape?mo-nos em seguida e entr?mos n'um corredor conduzidos pela m?o dos nossos companheiros. Era um corredor estreito segundo pude deduzir do modo por que nos encontr?mos e d?mos passagem a alguem que sahia. Quem quer que era disse:

--Levo o trem?

A voz do que nos guiara respondeu:

--Leva.

Demor?mo-nos um momento. A porta por onde haviamos entrado foi fechada ? chave, e o que nos servira de cocheiro passou para diante dizendo:

--Vamos!

D?mos alguns passos, subimos dois degraus de pedra, tom?mos ? direita e entr?mos na escada. Era de madeira, ingreme e velha, coberta com um tapete estreito. Os degraus estavam desgastados pelos p?s, eram ondeados na superficie e esbatidos e arredondados nas saliencias primitivamente angulosas. Ao longo da parede, do meu lado, corria uma corda, que servia de corrim?o; era de seda e denotava ao tacto pouco uso. Respirava-se um ar humido e impregnado das exhala??es interiores dos predios deshabitados. Subimos oito ou dez degraus, tom?mos ? esquerda n'um patamar, subimos ainda outros degraus e par?mos n'um primeiro andar.

Ninguem tinha proferido uma palavra, e havia o que quer que fosse de lugubre n'este silencio que nos envolvia como uma nuvem de tristeza.

Ouvi ent?o a nossa carruagem que se affastava, e senti uma suppress?o, uma especie de sobresalto pueril.

Em seguida rangeu uma fechadura e transpozemos o limiar de uma porta, que foi outra vez fechada ? chave depois de havermos entrado.

--Podem tirar os len?os, disse-me um dos nossos companheiros.

Descobri os olhos. Era noite.

Um dos mascarados raspou um phosphoro, accendeu cinco velas n'uma serpentina de bronze, pegou na serpentina, approximou-se de um movel que estava coberto com uma manta de viagem, e levantou a manta.

N?o pude conter a commo??o que senti, e soltei um grito de horror.

O que eu tinha diante de mim era o cadaver de um homem.

Escrevo-lhe hoje fatigado, e nervoso. Todo este obscuro negocio em que me acho envolvido, o vago perigo que me cerca, a mesma tens?o de esp?rito em que estou para comprehender a secreta verdade d'esta aventura, os habitos da minha vida repousada subitamente exaltados,--tudo isto me d? um estado de irrita??o morbida que me aniquilla.

Logo que vi o cadaver perguntei violentamente:

--Que quer isto dizer, meus senhores?

Um dos mascarados, o mais alto, respondeu:

--N?o ha tempo para explica??es. Perd?em ter sido enganados! Pelo amor de Deus, doutor, veja esse homem. Quem tem? Est? morto? Est? adormecido com algum narcotico?

Dizia estas palavras com uma voz t?o instante, t?o dolorosamente interrogativa que eu, dominado pelo imprevisto d'aquella situa??o, approximei-me do cadaver, e examinei-o.

N?o quero aqui fazer a historia do que encontrei no cadaver. Seria embara?ar esta narra??o concisa com explica??es scientificas. Mesmo sem exames detidos, e sem os elementos de aprecia??o que s? podem fornecer a analyse ou a autopsia, pareceu-me que aquelle homem estava sob a influencia j? mortal de um narcotico, que n?o era tempo de dominar.

--Que bebeu elle? perguntei, com uma curiosidade exclusivamente medica.

N?o pensava ent?o em crime nem na mysteriosa aventura que ali me prendia; queria s? ter uma historia progressiva dos factos que tinham determinado a narcotisa??o.

--N?o sei, disse elle, talvez aquillo.

O que havia no copo era evidentemente opio.

--Este homem est? morto, disse eu.

--Morto! repetiu um d'elles, tremendo.

Ergui as palpebras do cadaver, os olhos tinham uma dilata??o fixa, horrivel.

Eu fitei-os ent?o um por um e disse-lhes serenamente:

--Ignoro o motivo porque vim aqui; como medico d'um doente sou inutil; como testemunha posso ser perigoso.

Um dos mascarados veiu para mim e com a voz insinuante, e grave:

--Escute, cr? em sua consciencia que esse homem esteja morto?

--De certo.

--E qual pensa que fosse a causa da morte?

--O opio; mas creio que devem sabel-o melhor do que eu os que andam mascarados surprehendendo gente pela estrada de Cintra.

Eu estava irritado, queria provocar algum desenlace definitivo que cortasse os embara?os da minha situa??o.

--Perd?o, disse um, e ha que tempo supp?e que esse homem esteja morto?

N?o respondi, puz o chapeu na cabe?a e comecei a cal?ar as luvas. F... junto da janella batia o p? impaciente. Houve um silencio.

Aquelle quarto pesado de estofos, o cadaver estendido com reflexos lividos na face, os vultos mascarados, o socego lugubre do logar, as luzes claras, tudo dava ?quelle momento um aspecto profundamente sinistro.

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