Read Ebook: Raios de extincta luz poesias ineditas (1859-1863) by Quental Antero De Braga Te Filo Contributor
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Ebook has 580 lines and 27077 words, and 12 pages
Que lhe importa o passado ou o futuro? P'ra d?r que soffre em si tudo ? presente, Aqui, ali, em toda a parte o punge... Quem lhe dera esquecer, n?o recordar-se...
Ora??es? s?o incenso cujo aroma ? de lagrimas... e as d'elle se h?o seccado! Orgulhoso na d?r, da d?r o orgulho Fal-o erguer solitario e silencioso, Como se ergue o granito no deserto Ermo, n?... se medita... e s? comsigo.
Dissidentes no mais, Deus nos reune: No impio, ou crente, em todos Deus existe E todos chama a si, e a todos ama. N?s somos como rios que descendem De varia serra, e em vario leito correm: Mas, que importa? essas serpes tortuosas, Ap?s rodeios mil, ap?s mil voltas, V?o todas dar no mar; some-as o Oceano.
Que importa a cren?a varia e o vario affecto? Este la?o de amor a todos une: --Existe um Deus que ? Pae; somos seus filhos.
Coimbra, Maio, 1861.
FOR?A--AMOR
FOR?A--AMOR
O que destroe os mundos, E d? que os mar's frementes, Em volta aos continentes, Cavem abysmos fundos;
A m?o que faz que a noite, Sem luz, amor, encanto, Se envolva em negro manto Aonde o mal se acoite;
Que p?s no olhar o brilho, E deu ao labio o riso, ? planta o pomo liso. Seio de m?e ao filho;
O que ? verbo da vida, Do amor, da luz, do affecto, O que sustenta o insecto E a planta desvalida;
E disse ? nuvem branca --Em densas trevas morre, E disse ao vento--corre, Assola, espalha, arranca;
Quem faz da vida morte, De puro incenso, fumo; E deixa, em mar sem rumo, O homem luctar co'a sorte;
Se ? Deus... oh! n?o! n?o pode Do amor o foco immenso, Que abraza em fogo intenso, Se ? mente nos acode;
N?o pode o s?pro d'elle Mandar a morte e o pranto, Em vez do doce encanto, Que immenso amor revele!
Algum genio das trevas, --Espirito infecundo-- Espalha sobre o mundo Estas vingan?as sevas.
N?o elle; o Deus suave! D'aquelle seio immenso, S? manda ? terra o incenso E o balsamo que a lave!
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--< Poeta! ?s tu que ignoras --Envolto em sonho a?reo-- O revolto mysterio De mais revoltas horas!-- Dezembro, 1860. PAZ EM DEUS PAZ EM DEUS ...pax hominibus bona voluntate. O Deus que me creou p?z-me no peito Um thesouro t?o rico de esperan?a, Que n?o ha quem m'o roube ou quem m'o gaste; E p?z-me n'alma fonte t?o perenne D'aquelle Eterno-Amor, que de l? desce, Que n?o ha sol ou calma que m'a seque. A fonte que nasceu em solo ?rido Se um dia murmurou, morreu no outro; Mas a que vem dos montes, que o c?o tocam, Descendo lentamente e sem ruido, T? que brota entre as flores da campina, Essa n?o morre com a luz de um dia... Fonte de puras aguas abundantes, Traz do c?o sua origem. L? se esconde, Entre nuvens, o foco que a alimenta: Eterna, como o c?o d'onde partira, E serena, como elle, a paz e a vida, Como elle, tem no seio e d'elle manam. Assim d'aquelle amor. Constante e puro, Que ardor ou calma ou sol pode seccal-o? Que p? da terra conspurcar-lhe o brilho? A maldade dos homens n?o te mancha, Oh minha paz, oh minha pomba candida! Na terra o ca?ador te aponta a flecha, E o tiro parte em v?o. Como tocar-te, Se t?o alto voaste, e o dardo apenas Mediu a meia altura que levavas? A flecha cae na terra... ao c?o tu foges! Vae pomba immaculada! irei comtigo Abrigar-me tambem no seio eterno, Quando um dia o Senhor julgar que ? finda A miss?o que me deu de aqui servil-o. Aqui fica-me a esp'ran?a que me alente, Fica a luz que me guia, o Amor, a cren?a. E foi Deus quem me deu o meu thesouro, Como ? ave que v?a deu a penna, Que a libra pelo espa?o; e ao olho morto Do anci?o, a luz que aponta melhor mundo. Na assembl?a dos homens, se um, olhando-me Disser--< Se sentir dentro d'alma alguma f'rida Vertendo sangue e fel, em dor extrema, Buscarei no Senhor o meu alivio: E o Senhor, pondo um dedo sobre a chaga, Dir?--< Oh minha doce paz! por ti se cumpram Os decretos do Eterno: tu me escuda Dos tiros que a maldade em mim dispara; A for?a do le?o p?e-me na mente, A mansid?o da pomba dentro d'alma. Oh pomba ingenua, pomba immaculada, Filha do c?o ao c?o voemos juntos. Janeiro, 1861. N'UMA NOITE DE PRIMAVERA N'UMA NOITE DE PRIMAVERA Esta quadra d'amor quanto nos punge, Com t?o doce pungir! Como sorrindo Nos mata de desejos; nos esmaga Sob o peso infinito dos anhelos, Que esta vida e mil outras n?o fartaram! Esta quadra d'amor, com seus sorrisos, Quanto nos punge o peito, ai, quanto mata! Tal ? a essencia do Amor; tal Deus ha posto Um veneno no mal, na fl?r um ?spide! Prazer e d?r, sereis talvez um unico, Unico s?r, que nos penetra e abraza N'um fogo que nos doe, mas que ? t?o doce? Punhal, que ferindo o peito, nos consola, Mas, que a affagar nos vae roubando a vida, Antegosto do que ? o c?o e o inferno? Ser? isto o amor? ser??... quem sabe? Talvez! Se ? la?o universal e unico Deve o bem como o mal juntar n'um todo; Se ? vida ? tambem morte; se ? saudade, ? desejo tambem; e se algum anjo O creou, ha demonio que o perturba; Se ? um sol que nos brilha dentro d'alma, Tambem queima e devora, tambem mata! E ? isto amor? ser?! ser?! quem sabe? De vida mais completa ? antegosto, De melhor existir que al?m come?a: Talvez! ent?o o amor ser? a morte? Triste noiva, ? mist?r esp'rar-lhe a vinda Para amar e gozar e viver muito?! Celebre-se o hymeneo sobre uma campa: Aguarde-se a hora extrema, como aurora De um bem, que al?m da vida s? come?a; E contando os momentos como sec'los, O primeiro dos dias seja o ultimo... Mas ser? isto amor? ser?!... quem sabe? Talvez!... Mas quando a lousa funeraria Rangendo, cobre um corpo estremecido: Quando a terra s? pode dar-lhe os osc'los, Que inda ha pouco lhe davamos convulsos, Que vem, que vem aos olhos? Vem s? lagrimas E ao peito vem s? d?r! O lucto, o pranto Se assentam sobre as campas, n?o a esp'ran?a! E ser? isto amor? ser?!... quem sabe? Mas as lousas s?o frias. Quem pernoita Na deveza onde s? o eterno somno Se dorme... n?o! ninguem por l? pernoita! As d?res, como gazes, se evaporam; No ambiente da vida os ais n?o podem Muito tempo eccoar; ha tanta lagrima, Tantas consola??es para os que soffrem! N?o duram, n?o!... a m?o que enchuga o pranto Beija-se... e mais... e mais... encontra-se a alma Com quem se casa a pobre solitaria: E a outra! a outra l?! partiu-se o la?o... E ? isto amor? ser?! ser??... quem sabe? Feliz do que viaja em mundo novo!... Triste do que ficou sobre uma lousa Assentado a chorar: o que ? da esp'ran?a? Nunca sahiu da campa voz amiga A consolar a d?r! Fica-lhe apenas Um premio, triste premio! o das lagrimas: Esse--se foi constante--hade cingir-lhe A fronte com a c'roa... do martyrio... E ser? isto amor? ser?!... quem sabe? ........................................ ........................................ Ser?! ser?! Que importa, se ? t?o doce, Se mata com um sorriso, entre caricias! Vae, raz?o fria! vae... isto ou aquillo Que importa seja o amor?! ? sempre bello --Um momento sequer--gozar a vida. ? bello o amor; ? bella a vida; ? bello Tudo aonde o Senhor a m?o ha posto... E o Senhor fez o mundo! e a ti, ? noite, Noite de primavera, deu-te estrellas, Que s?o almas no espa?o a procurar-se; A ti, mulher, a ti deu-te o mysterio De matar ou dar vida... e a mim, sim!--creio-- Inda hade dar-me uma hora de ventura! ........................................ Oh! dae-me a ta?a do veneno doce, Que mata embriagando! Dae-me prestes Uma ta?a de amor aonde libe!... Abril, 1861. PSALMO PSALMO Do amor he santo o la?o! O forte ao fraco ajude: Ao irm?o mais fraco escude Do irm?o mais forte o bra?o.
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