Read Ebook: Nova academia de pintura dedicada às senhoras portuguezas que amão ou se applicão ao estudo das Bellas Artes by Machado Cirilo Volkmar
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Ebook has 118 lines and 16256 words, and 3 pages
Rita Farinha
NOVA ACADEMIA
PINTURA
DEDICADA
?S SENHORAS PORTUGUEZAS
....las Mugeres quando Talves, applicar se han visto A las Letras, o las Artes, Los Hombres han excedido.
LISBOA:
NA IMPRESS?O REGIA.
ANNO 1817.
PROEMIO.
Quando vou discorrer sobre a Arte da Pintura, parece que deveria come?ar pelo seu elogio; mas n?o o farei, por me parecer cousa superflua, e bem sabida de todos: observarei s?mente, que a Arte por si s?, inda que fosse levada a hum alto gr?o de perfei??o, n?o poderia fazer illustre, e estimavel aquelle que tivesse o odioso, ou ridiculo comportamento de hum Brouwer, de hum Aleixo Transpadano, ou de hum Bufalmaco; mas se pelo contrario, algum soubesse ajuntar ? honra, e ? virtude os talentos de Rafael, de Corregio, ou de outro grande Pintor, estas raras qualidades assim reunidas, constituiri?o hum mortal <
Mas se esta scientifica Arte, pela sua belleza e profundidade, tem sido digna da applica??o de muitos homens da mais alta esphera, n?o deixa ella tambem, de ser igualmente propria, ou talvez mais propria ainda, para as Senhoras; principalmente naquelles casos em que s?o mais necessarias a gra?a, e a delicadeza: assim, tem feito as Na??es conhecedoras o maior apre?o das obras da Sirani, da Sophonisba, da Rosalba, e de muitas outras, cujos nomes fazem tanta honra ao bello Sexo, como ?s suas patrias.
A Musica he huma arte angelica, e pode entreter deliciosamente qualquer Senhora, huma ou duas horas cada dia; a leitura a divertir? tres ou quatro; mas a Pintura faz parecer pequenos os maiores dias de Junho, e torna amavel e apetecivel a mesma solid?o: he huma arte n?o s? imitadora de toda a Natureza, mas tambem creadora; arte emfim, que sympathisa grandemente com a vivacidade das pessoas espirituosas, e discretas, muitas das quaes desej?o saber pintar, e nem sempre o conseguem; ou por viverem em terras aonde n?o ha quem as ensine, ou por se limitarem nas li??es a huma pratica mui superficial. A Pratica he de absoluta necessidade, e por ella se deve n?o s? come?ar, mas avan?ar muito, sem nunca a perder de vista; por?m ha huma baliza, al?m da qual sen?o podem fazer ulteriores progressos sem estudar a fundamento os preceitos theoricos.
Os Poetas, e Oradores tem as suas regras fundamentaes, escritas por bons Authores; n?s tambem temos as nossas: o numero dos Escriptores que as trat?o he muito grande; os idiomas em que correm impressas s?o mui diversos; e he assaz difficultoso poder fazer dellas huma sufficiente collec??o; e quando se fizesse serviria talvez, mais para confundir a mente de hum principiante, que para a illustrar. Ha em taes livros muitas cousas inuteis, e outras que parecem, ou s?o contradictorias; por tanto he preciso escolher, resumir, e concordar: he o que n?s procur?mos fazer nesta pequena obra, extrahindo de muitas flores, como fazem as abelhas, s? o balsamo que he proprio para compor o mel; pondo de parte quanto nos pareceo improprio, ou desnecessario.
A Praxe, como dissemos, he indispensavel aos Artistas; mas a theoria he indispensavel ? perfei??o da mesma pratica. Ella nos manifesta em pouco tempo as descobertas de muitos seculos.
Desde que os restaudores da Arte come??r?o a fazer alguns progressos, cuid?r?o logo em ir estabelecendo, como maximas fundamentaes, as verdades que for?o descobrindo; e para que ellas fossem bem apuradas e debatidas, antes de se adoptarem, e bem interpretadas depois de estabelecidas, fund?r?o Academias, compostas dos mais sabios Artistas daquelles tempos; e ?s especula??es mais e mais apuradas dos seus Academicos, he que se deve a perfei??o a que chegou a Arte no tempo de Raphael: e como a doutrina da nossa nova Academia he derivada, e recopilada das doutrinas de todas ellas, n?o ser? f?ra de proposito dizer de passagem alguma cousa a respeito das mais notaveis.
Louren?o de Medicis estabeleceo no seu Palacio, e Jardim, huma destas Universidades, ou Academias, bem provida de preciosos Cart?es, desenhos, quadros, e estatuas; e dava premios, e pens?es aos estudantes mais aproveitados. Dalli sahio o Buonarota, o Torrigiani, o Ghirland?ro, e outros sabios.
Fr. Jo?o Angelo, que era bom Escultor, obteve o beneplacito, e a protec??o do Gr?o Duque, para se restabelecer a antiga Academia, e a Irmandade de S. Lucas, j? quasi extinctas, no Convento dos Anjos, e depois em S. Louren?o.
Mr. Urry, director das obras Reaes, em 1737, inventou o chamado Sal?o; lugar aonde de dois em dois annos, os Artistas exp?em ao Publico as melhores obras que v?o fazendo; cousa que foi mui vantajosa ? Arte. N?o lhe for?o menos uteis os que se cham?o quadros de Maio: os Ourives come??r?o em 1449 a offerecer a Nossa Senhora com grande solemnidade, hum ramo verde, a que chamav?o o Maio: depois, junt?r?o aos ramos certas maquinetas; e por fins, desde 1630 come??r?o a offerecer cada anno, hum painel, feito sempre por algum dos melhores Pintores da Fran?a.
De todas estas, e outras famosas Esch?las, he que deriva a Doutrina, que em compendio vamos ensinar nesta nova Academia: mas antes de come?ar as li??es, he preciso dar ?s nossas illustres Academicas huma idea verdadeira da Arte.
Os que estud?o a Arte devem, primeiro que tudo, adquirir a pratica da verdade simples, costumando-se a imitar perfeitamente tudo quanto se apresentar diante dos seus olhos; mas podem, e devem faze-lo de sorte que em virtude da boa escolha dos objectos, achem tambem nos seus exemplares a verdade composta. As Pinturas do Carache no palacio Farnesio, e as de Raphael no Vaticano s?o as duas grandes esch?las de Desenho. A terceira, e n?o menos importante para os que est?o mais adiantados, he a das boas estatuas antigas: os que n?o puderem estudar pelos originaes, basta que estudem por exactissimas copias.
A Pintura comprehende tudo quanto se p?de ver, e imaginar; e como he t?o vasta, divide-se em muitas partes, e em muitos generos. Os generos, s?o: 1.^o o Historico, ou o grande Genero: 2.^o o dos Retratos: 3.^o o das Batalhas: 4.^o o das Bambochatas: 5.^o o das Paizagens e Perspectivas: 6.^o o das Marinhas: 7.^o o dos Animaes: 8.^o o das cousas inanimadas, como flores, fructos, ornatos, quadraturas, etc.
NOVA ACADEMIA DE PINTURA
PRIMEIRA PARTE.
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