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Read Ebook: Memoria sobre a cultura e productos da cana de assucar by Gomes Jos Caetano Velloso Jos Mariano Da Concei O Contributor

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Ebook has 140 lines and 22175 words, and 3 pages

veloz, encurte as almanjarras, e augmente o numero de bestas, e p?de levar isto ao ponto, que lhe parecer; vantagem de que s?o privados os engenhos actuaes, que h?o de restringir-se ao numero de oito s?mente.

Por esta nova f?rma cada hum p?de trabalhar, segundo as suas for?as: se em lugar do rodete pela ter?a parte, o fizer pela quarta, conservando as almanjarras no seu comprimento, faz puxar as bestas por huma alavanca de cincoenta e seis palmos, e se ha de moer com quatro, p?de fazello com duas, e mesmo huma. Assim como p?de diminuir; se fizer o rodete por ametade, augmenta o movimento, e fica a almanjarra de vinte e oito palmos, e tem a vantagem de meter oito, dez, doze, dezaseis bestas, o que n?o p?de fazer na construc??o actual; porque ent?o n?o teri?o passagem os carregadores de Canna para as moendas, que est?o sempre desembara?adas na construc??o, que se prop?em; por?m a propor??o da ter?a parte, he, segundo o meu c?lculo, a mais ajustada.

Eu n?o tenho noticia de que houvesse ainda quem regulasse o movimento das moendas, para fazerem o maior effeito possivel n'hum termo dado, sendo isto hum objecto, que merece toda a pondera??o. Vendo que em hum engenho movido por bois, d?o as moendas huma volta por minuto; n'hum por bestas quasi volta e meia; nos de agua duas, tres, quatro, e mais voltas; pensando todos geralmente, que quanto maior numero de voltas der em menos tempo, mais moer?, fiz exame a este respeito, e achei que o movimento de duas voltas por minuto, he o ponto de perfei??o; e que tanto menos se moer?, quanto se afastarem delle para mais, ou para menos. Quando boas bestas, e descan?adas, excitadas pelo a?oite pux?o pelas almanjarras a trote, e fazem dar ?s moendas duas voltas e meia por minuto, a Canna fica esmagada, e n?o espremida; porque o sumo n?o tem tempo da cahir, e passa em cima da Canna para a outra parte; e como ella he hum corpo esponjoso, e elastico, logo que cessa o aperto, torna a beber o mesmo sumo, do qual s? numa pequena parte cahe na meza; e se em duas voltas e meia succede isto, peior em tres, quatro, e mais. N'hum engenho movido por bestas, n?o p?de haver excesso no movimento, poderia talvez prejudicar por defeito, se houvesse quem tivesse for?as para fazer de dez a doze mil arrobas de Assucar annualmente, o que nunca succedeo; por?m havendo quem possa fazellas, ou ainda mais, p?de p?r dois ternos de moendas, que o mesmo rodete faz moer, segundo o modello que se prop?em. Com a roda vertical dos engenhos de agua, he hum pouco dificultoso regular o movimento das moendas; s? se a agua he muito alta, o que raras vezes succede; sendo baxa, e muita, que possa dar-se-lhe toda a for?a que se precisa, o rodete he muito grande, e faz que a bolandeira d? tres, e quatro voltas por minuto, o que retarda o servi?o, como acima se diz; s? se a roda vertical tivesse de cincoenta a sessenta palmos de diametro, o que n?o p?de ser sem muito incommodo. Com a roda horisontal, vulgarmente chamada rodizio, he facil graduar o movimento.

O maior, ou menor declivio na bica de ferir as pennas; maior, ou menor diametro no rodete, ou no mesmo rodizio, faz conseguir o que se quer sem custo.

He sabido de todos, que em qualquer m?quina, a agua obra s?mente pelo seu p?so. Supponho ter huma bolandeira com trinta e seis palmos de diametro, movida por hum rodete de oito; a roda vertical de trinta e seis; a agua na altura de vinte palmos, com quatro pollegadas cubicas, que s?o sessenta e quatro, e pes?o quasi tres libras. Onde a vertical recebe o impulso com a maior for?a, he no semidiametro, e fim da linha horisontal do eixo, em dezoito palmos; a agua cahe com dois palmos de ferida, e doze libras de p?so no principal cubo; nos que se ench?r?o, p?sa com tres libras em linhas mais curtas. Se os cubos tem capacidade para receber mais agua, e o p?so desta nos mesmos he preciso para o movimento, fica a m?quina vagarosa, e sem o effeito que se quer. Tem mais o defeito de ficarem as moendas baxas; n?o se poderem dar as propor??es que se precis?o; estar tudo cheio de agua, e a roda afeiando o edificio, estorvando passagens, etc. O mesmo diametro na bolandeira, e na horisontal, quero dizer, trinta e seis palmos o diametro da bolandeira, e trinta e seis o do rodizio, o rodete deve ter a oitava parte, ou doze dentes estrelados, tendo a bolandeira noventa e seis de coroa, e a agua na mesma quantidade, e altura. Vinte palmos que a agua tem de altura, s?o quarenta vezes tres libras, ou cento e vinte libras, que p?s?o sobre as pennas do rodizio com hum jacto de quasi vinte palmos, se sahisse horisontalmente, por?m como deve ter quinze gr?os de declivio para ferir as pennas, fica em dezaseis.

Este jacto de quinze gr?os communica hum movimento mui veloz ao rodizio, que p?de ser moderado, segundo a necessidade, e o podemos levar at? quarenta e cinco gr?os com toda a vantagem. Podemos augmentar o diametro do rodizio; diminuir, ou accrescentar o do rodete; levantar, ou abaxar as moendas ? nossa vontade, fazendo mais curto, ou mais comprido o eixo do rodizio; cujas pennas, sendo feitas de p?os firmes, tudo cerne, com tres palmos de comprido, e hum em quadro, as cavas em meia lua, para receber a agua, com seis pollegadas pelo comprimento da penna, cinco na largura, e cinco em profundidade, tem toda a solidez, e dura??o possiveis; quando pelo contrario a roda vertical, composta de muitas taboinhas, e pequenas juntas, em poucos tempos fica f?ra de servi?o.

O modello, que se prop?em, para moerem bestas, serve para o de agua com rodizio, s? com a differen?a do rodete ser mais pequeno, e a especie de p??o ser cuberta de sobrado, que d? passagem ao eixo; reunindo esta f?rma de m?quina al?m das mais vantagens, a de poder ser movida por animaes, se por accidente falta a agua, o que succede algumas vezes, e causa prejuisos.

N?o fallo nos engenhos de vento para moer Canna, porque a instabilidade, e irregularidade deste agente no Brasil, o faz inutil. Ainda mesmo os de agua, se esta for difficultosa, ou que fa?a precisar grandes despesas; pondo-se em pr?tica o modello, n?o causar? muito pesar o moer sem ella.

A falta de conhecimento de mechanica nos mestres de engenhos do Rio de Janeiro, aos quaes com mais propriedade se p?dem chamar curiosos, ? excep??o de alguns, e bem poucos, que tem merecimento, me faz dizer o que sei a este respeito, por me parecer que ser? de alguma utilidade. Quero fazer huma roda grande, que tenha trinta e seis palmos de diametro, de centro de dente, a centro de dente; sabe-se que a devo armar de oito curvas, ou camb?tas, que tenh?o de testa, a testa trinta e sete palmos; porque a dentadura devendo estar no centro da camb?ta, para esta ficar com fortaleza, deve ter meio palmo para dentro, e meio para f?ra. Huma roda com este diametro n?o se p?de fazer sem oito aspas. Devo repartir o circulo em oito partes perfeitamente iguaes, que assignallo; e como quero p?r neste circulo noventa e seis dentes, j? se v? que pertencem doze a cada oitavo.

O sintel tem feito descrever a linha onde devem ser postos; reparto em doze partes o oitavo, e assignallo cada huma com seu ponto, que serve de centro ao furo para o dente, cujos pontos fic?o distando huns dos outros nove pollegadas e meia com pouca differen?a.

Deve haver o maior cuidado, em que estes pontos fiquem perfeitamente iguaes, e que n?o desmint?o nem a grossura de hum cabello; e que os furos, que se fizerem para os dentes, fiquem perpendiculares.

O circulo deve ser fixo nas aspas por cavilhas; quatro destas aspas o sustem, e as outras quatro prendem-no.

Estas aspas devem assentar no circulo entre os dentes com huma medida perfeitamente justa, para a roda n?o ficar com o que se chama peito. Se quero fazer huma roda mais pequena, que n?o care?a de oito aspas, e sim de seis, reparto o circulo em seis partes iguaes, e procedo da mesma sorte que para a antecedente; lembrando-me sempre de n?o fazer os pontos para os dentes em menos de nove pollegadas, e podem hir a dez, que he erro fazellos mais proximos, porque fica a camb?ta fraca; e que nunca deve haver dente, onde a aspa assentar. Regra geral, o numero das aspas, he o das divis?es, e em cada divis?o hum numero certo de dentes, o que faz ver que nenhuma roda, tomada no todo, tem os dentes impares. He sabido de todos, que duas rodas, tendo huma de fazer mover a outra, ainda que as dentaduras sej?o certas, se forem perfeitamente iguaes, n?o podem trabalhar; he preciso que aquella, que est? unida ? potencia, tenha huma certa folga nos dentes, que devem ficar mais largos, que os da outra, para trabalharem suavemente; a esta folga, ou maior distancia dos dentes de huma, respeito aos dentes da outra, he ao que os mestres cham?o compasso. Ora para acharem este compasso nas medidas, que fazem, us?o das maiores extravagancias; e o que tem encontrado melhor, depois de muitos erros, encobrem-no com mysterio at? aos seus aprendizes. Depois de ter feito a roda, e graduado os seus dentes, para compassar os do rodete, ou roda que trabalha com a potencia, abro o compasso e com toda a certeza as assento nos pontos de dois dentes, o que me d? a distancia de dente a dente. No centro de huma regoa comprida tra?o huma linha, e por esta linha messo, ou conto quinze compassos; a distancia destes quinze compassos deve ser signalada por dois pontos. Abro agora o compasso mais, e a linha descripta dos quinze divido em quatorze; esta pequena differen?a de quatorze a quinze he o apartamento, ou folga, que devem ter de mais os dentes do rodete, respeito aos da roda. Se tenho graduado o rodete primeiro, fa?o o mesmo que na roda; m?sso pelo compasso a distancia de hum dente a outro; na linha tra?ada conto quatorze compassos, aperto o compasso hum tanto, para que a distancia dos quatorze se reduza a quinze: esta pequena diminui??o he, o que devem ter de menos distancia, os dentes da roda aos do rodete.

Devo lembrar, que estas medidas devem ser exactas, e que os pontos signal?o o centro dos dentes. Se as rodas, ou rodetes tem os dentes em coroa, a medida, ou compasso deve ser tomado na camb?ta; se os dentes s?o em estrella, deve o compasso ser tomado no centro da ponta do dente. Segundo o destino da m?quina, que se quer fazer, p?de o rodete ser pequeno, e a roda grande; o rodete ser grande, e a roda pequena, ou ambos de igual tamanho; por?m he regra geral, que a roda, onde trabalha a potencia, seja grande, ou pequena, he a que deve ter folga nos dentes, quero dizer, serem mais apartados, o que vai de quatorze a quinze, que a outra roda, qualquer que seja a grandeza.

Os dentes das rodas podem ser todos de coroa, e todos estrelados; em humas, de coroa, e em outras estrelados; por?m observando-se as regras dadas, he facil fazellos de qualquer sorte. He indifferente, que os dentes de qualquer roda sej?o delgados, ou grossos, com tanto que sej?o iguaes em grossura. Hum terno de moendas com tres palmos de diametro, e oito dentes cada huma, graduados estes dentes pelo centro da sua ponta, regidos pela moenda do meio, que he a motora, e a que deve ter a folga, podem ser os dentes de cada huma desiguaes, respeito ?s outras, sem defeito no trabalho; todos os dentes da moenda do meio podem ser muito grossos; menos grossos os da de hum dos lados, e mais delgados os da outra, e assim mesmo podem trabalhar com perfei??o. Os dentes das rodas de coroa devem ser redondos a torno; os em estrella tambem a sua ponta deve ser redonda, acabando em semicirculo, segundo o seu diametro. O aguilh?o do eixo, onde anda o rodete, n?o deve ser fixo nelle, ha de andar junto n'huma caixa de bronze; porque, como se ha de gastar pelo movimento, para o recal?ar, basta levantar com huma al?aprema o mesmo eixo, e logo o aguilh?o cahe, opp?em-se-lhe outro, que deve haver de sobrecellente. As almanjarras h?o de ficar n'huma altura tal, que os tirantes, por onde pux?o as bestas, corr?o em linha horisontal ao seu peito; pux?o mais desta sorte, e fatig?o-se menos. A besta puxa com o seu p?so, e o esfor?o dos seus musculos serva para renovar este p?so, se os tirantes est?o muito baxos, o p?so, que devia empregar-se a puxar, perde-se em levantar o eixo, e se est?o muito altos, a besta he levantada por diante, e as suas m?os n?o ach?o na terra hum apoio sufficiente para renovar o seu movimento.

As moendas, de que actualmente se usa na Capitania do Rio de Janeiro, tem de tres a quatro palmos de diametro, e outro tanto, pouco mais de altura.

A sua dentadura he no meio da moenda; alguns engenhos, rarissimos, tem as moendas dentadas na parte superior, e aguilh?es inteiros de ferro; por?m o commum he terem os dentes no meio do corpo da moenda, e meios aguilh?es de ferro, e na parte superior hum pesco?o, que faz as vezes de meio aguilh?o, feito de hum p?o solido. Sa? chapeadas de ferro meio largo: estas chapas tem hum palmo de comprido, e s?o afastadas humas das outras a quarta parte de huma pollegada, ou tres linhas; e pregadas no madeiro da moenda com seis pregos curtos, e grossos. A meza, em que est?o assentadas estas moendas, n?o tem mais altura, que a de quatro a cinco palmos. Qualquer que seja a potencia que as fa?a mover, a Canna he sempre mettida nellas da mesma sorte. Hum Escravo appresenta hum feixe de Canna pela sua ponta em linha horisontal, entre a moenda do meio, e huma das dos lados; continua a metter segundo, terceiro, quarto, quinto, e sexto e outro Escravo da parte opposta, ? propor??o que os feixes de Canna passa?, depois de espremidos na primeira, os appresenta da mesma sorte ? segunda: torn?o a passar pela primeira, e repassar pela segunda, o que faz que esta Canna seja espremida quatro vezes, sempre em linha horisontal. Em alguns engenhos cheg?o a passar cinco, e seis vezes, por?m o commum s?o quatro. Sobre estas quatro passagens, e suppond? tres palmos de diametro nas moendas, he que eu fa?o o meu c?lculo; e tambem supponho, que hum carro de Canna cont?m cento e cincoenta feixes; de seis Cannas, se s?o grossas, de oito, se sa? delgadas, e do comprimento de seis palmos. Tres palmos de diametro s?o nove de circumferencia, dando quatro voltas a moenda, tem passado, e repassado os seis feixes; dando outras quatro voltas, tem feito passar os seis feixes reduzidos a baga?o, por consequencia, para se espremerem seis feixes de Canna, he preciso que as moendas dem oito voltas, as quaes n'hum engenho de bestas bem corrente se n?o d?o em menos de seis minutos, o que faz precisar duas horas e meia para se moer hum carro de Canna, com o numero de feixes, e comprimento acima ditos, e nove para dez carros, em vinte e quatro horas.

As moendas tem pouca altura da dentadura para baxo, onde anda a chapea??o, e p?de metter-se Canna, que n?o deve chegar aos dentes; e para isto se conseguir, he preciso que os feixes se appresentem ? moenda em linha horisontal. A meza he muito baxa, e como o Escravo, curvando-se hum pouco, chega com as m?os ? moenda, onde as costuma ter para amparar, e empurrar as partes minimas da Canna, a que se chama baga?o, he causa de accidentes, e de muitos Escravos ficarem sem m?os, o que todos os annos succede em hum, ou outro engenho.

A chapea??o das moendas he grande erro; huma moenda de tres palmos de diametro, que fazem nove de circumferencia, precisa de vinte chapas; a seis pregos, s?o cento e vinte pequenas cunhas, que mettidas com muita for?a pelo comprimento do madeiro da moenda, a faz abrir em pequenas raxas, onde p?de introduzir-se alguma por?a? de sumo de Canna, e n?o p?de chegar a lavagem; porque he agua simplesmente lan?ada, e a quem falta o aperto, que soffre o sumo da Canna entre as moendas.

Esta pequena por??o de sumo huma vez introduzida nestas raxas, az?da, e serve de fermento para fazer desmerecer o sumo que se espreme; e todos sabem, que huma mui pequena por??o de acido impede o fazer Assucar, e deteriora a sua qualidade. Ainda mesmo que o madeiro esteja perfeito, sempre o sumo se introduz por baxo das chapas, e a agua da lavagem n?o p?de l? chegar.

Esta chapea??o n?o impede que as moendas sej?o torneadas todos os annos, ou todos os dois annos; he preciso arrancar as chapas, e depois de torneado o madeiro, repregallas em outro lugar, tapando com tornos, os buracos, onde estiver?o os pregos; por mais solido que elle seja, n?o p?de resistir a tres, ou quatro opera??es destas, sem que fique f?ra de servi?o. Vinte chapas, de mais de duas linhas de grossura, s?o quarenta angulos, ou cunhas, que cort?o, ou mordem as Cannas, que ? terceira passagem fic?o reduzidas a partes minimas, cujo baga?o, para passar a quarta vez, he preciso que o Escravo o empurre, e ampare com as m?os entre as moendas, para poder espremer-se, e ainda nesta quarta passagem sahe humido. As ultimas vezes, que este baga?o passa nas moendas, faz tanta resistencia, que se s?o de meios aguilh?es, succede aluirem para os lados, e se s?o inteiros, quebrarem. O baga?o, quasi reduzido a p?, s? serve para estrume depois de ter apodrecido na bagaceira, o que infecta o ?r, que se respira ? roda da f?brica, e faz sempre sentir hum m?o cheiro.

As moendas devem ter tres palmos, e pouco mais de altura, at? ? dentadura; devem ter tres palmos de diametro, ser feitas de hum p?o bem firme, e bem lisas, sem chapea??o. A meza deve dar pelos peitos de hum homem, e ter cinco palmos de largura, inclusos os taboleiros. A Canna ha de ser appresentada ? moenda em linha obliqua, fazendo hum angulo de quarenta e cinco gr?os, com pouca differen?a, e perto da dentadura. Assim que esta Canna passou, o Escravo da parte opposta deve dobralla, e appresentalla ? moenda pela sua curvatura, tambem em linha obliqua. Com estas duas passagens fica a Canna melhor espremida, que com as quatro, ou mais, que actualmente se us?o.

Para que este servi?o continue sem interrup??o, he preciso que o Escravo, que mette Canna, appresente ? moenda de doze a dezaseis de cada vez, segundo a sua grossura; o Escravo, da parte opposta, pega em seis, ou oito destas Cannas, dobra-as, e appresenta-as ? moenda pela sua curvatura, e faz o mesmo ?s outras seis, ou oito, e assim continua o servi?o; porque tendo a Canna seis palmos de comprido, dobrada fica em tres, e he preciso que as moendas estej?o sempre cheias. Por mais molle que seja hum p?o proprio para moendas, sempre he muito mais duro que a Canna, que, sendo hum corpo esponjoso, deprime-se facilmente; o muito uso poder? gastallo, e ser? preciso torneallo, por?m creio certamente, que ha de precisar muito mais tarde deste beneficio, que as moendas chapeadas, e ha de conservar mais annos a sua solidez. Conhe?o huma f?brica de Estampas, que imprime de oito a dez mil todos os annos, e trabalha h? mais de vinte; que os dois cilindros, que fazem a fieira, e apert?o entre duas taboas a chapa da impress?o, ainda n?o for?o torneados, nem o precis?o; accrescendo ser isto hum trabalho de p?o contra p?o, muito differente da Canna, que he hum corpo muito mais molle. A Canna, appresentada em linha horisontal, faz aperto n'huma parte da moenda s?mente, e, appresentada em linha obliqua, trabalha com todo o corpo. He certo que as moendas de p?o s?o hum remedio; devi?o ser tambores, ou cilindros de ferro, assim como se pratica nas Antilhas, despesa que se faz por huma vez, por?m em quanto se n?o p?em em pr?tica, deve degradar-se a chapea??o, por ser desnecessaria, e nociva.

Pelo methodo usado, dando a moenda quatro voltas; s?o trinta e seis palmos de superficie; tendo os feixes seis palmos de comprido, e, appresentando-se em linha recta, ou horisontal, passa?, e repass?o seis feixes; dando outras quatro voltas, pass?o, e repass?o em baga?o, s?o precisas oito voltas para moer seis feixes de Canna, o que n?o p?de fazer-se em menos de seis minutos. He certo que estes feixes de Canna s? tem os seis palmos de comprido na primeira, e segunda passagem, ficando reduzidos a pequenas partes para a terceira, e quarta, o que far? parecer gastarem menos tempo nas duas ultimas; por?m isto deve considerar-se nullo, pelas paradas que nestas occasi?es fazem as bestas, por ser preciso redobrar o seu esfor?o para vencer a resistencia, que o baga?o, ou Canna, reduzida a pequenas partes, lhe offerece. Pelo methodo proposto, appresentando-se a Canna ? moenda em linha obliqua, tendo seis palmos de comprido, fica reduzida a quatro e meio, e he preciso nas quatro voltas fazer oito entradas, para ganhar a superficie das moendas, cujas entradas sendo de doze a dezaseis Cannas, que s?o dois feixes, fazem dezaseis; e como pass?o, e repassao simplesmente, em quanto nos seis minutos, pelo methodo usado se moem seis feixes; moem-se pelo methodo proposto trinta e dois, e por consequencia hum carro de cento e cincoenta feixes em menos de trinta minutos, que em vinte e quatro horas faz mais de cincoenta carros. Pelo methodo usado, hum feixe de Canna, appresentado ? moenda em linha horisontal, o aperto que soffre faz, que estas Cannas fiquem sobrepostas humas acima das outras; ellas, que tem huma pollegada pouco menos de diametro, fic?o bem espremidas, passando por huma fieira de huma a duas linhas; por?m do sumo que espremem, que tem de circumdar a superficie de quasi todas as Cannas, s? huma pequena parte cahe na meza, e a maior parte, fluctuando por cima dellas, logo que cess?r?o de soffrer a compress?o, sendo de natureza esponjosa, e elastica, torn?o a beber o sumo espremido. Na segunda passagem pouco aperto percebem; porque pass?o por huma fieira igual ? primeira, e por consequencia he preciso que sej?o reduzidas pela chapea??o a partes minimas, para se lhe aproveitar o sumo. Pelo methodo proposto, appresentando-se a Canna em linha obliqua, quando recebe o aperto, d? sahida ao sumo pela mesma Canna, e deposita na meza todo, o que espreme.

Quando acabou de passar a Canna, e o Escravo da parte opposta a dobra ao meio, para a appresentar na mesma linha obliqua; pelo seu angulo, ou curvatura, recebe na fieira da moenda hum aperto maior que o primeiro; porque em igual ou superior volume, tem partes mais solidas que comprimir, faz ficar o baga?o s?cco, inteiro, apto para se fazer em feixes, que podem servir para as fornalhas; o que he impossivel no methodo usado, porque fica reduzido quasi a p?. A differen?a de hum a outro methodo he de nove a cincoenta, vantagem inapreciavel em semelhantes f?bricas. Eu n?o sei que haja em todo o Brasil, quem reuna for?as para moer esta quantidade de Canna de Junho a Setembro, que he o verdadeiro tempo, e s?o cem dias de servi?o; talvez n?o haver? meia duzia de f?bricas, que poss?o fazer ametade, porque ent?o fari?o de seis a sette mil arrobas de Assucar. Vejo que h? engenhos, que para tres, ou quatro mil arrobas, principi?o em Maio, e acab?o em Dezembro, por n?o poderem mais, empregando dia, e noite neste trabalho, e assim mesmo perdem Canna, que n?o podem moer. Trabalhando-se desta sorte, os homens, e os animaes se estrag?o, o dia he para trabalhar, e a noite para descan?ar, esta a ordem da natureza, que se n?o inverte impunemente.

A Casa de caldeiras, onde se fabrica o Assucar, he de cinco a oito palmos, mais baxa que a do engenho, e cont?m o que se segue. Parois de caldo frio, Parois de caldo quente, Rominhois, Espumadeiras, Batedeiras, Repartideiras, Caldeira, e Coxinha, Bangu? com suas tachas, Esfriadeira, F?rmas para lan?ar a calda, de que se faz o Assucar bruto, Carcanha, Massa de Mamono, Espatulas, Tanque de preparar o barro, que ha de clarificar o Assucar, Vasos com decoada, e Vasos com agua. Parol de caldo frio, he hum cocho, ou especie de tanque, feito de taboas, e pelo commum cavado n'hum grosso madeiro, com maior, ou menor comprimento, e largura, e capacidade de conter tanto liquido, quanto encha a caldeira, sem sobejar. H? alguns engenhos, que j? os tem de cobre.

Parol de caldo quente, he o mesmo que de caldo frio, por?m maior, por ser destinado a receber o liquido depurado da caldeira, huma, e mais vezes, donde passa para as tachas. Rominhol he huma especie de cassarola de cobre, que p?de conter de quatro a seis libras de agua; quando tem hum cabo comprido, e com elle se tira o liquido da caldeira para o parol de caldo quente, toma o nome de pomba. Espumadeira, todos sabem o que he, a que serve nos engenhos, tem hum cabo at? dez palmos. Batede?ra, he huma chapa de cobre circular, com pouco mais de hum palmo de diametro, huma concavidade de duas pollegadas no centro, que vai diminuindo para a circumferencia, com hum cabo comprido. Repartideira, he huma especie de cassarola de cobre, que p?de conter at? dez libras de agua.

A Caldeira, he pelo commum de ferro, tem de cinco a seis palmos de diametro na boca, outro tanto de altura, sendo menos larga no fundo; he assentada de f?rma, que fica a sua boca pouco mais alta que a superficie do terreno, sendo este ladrilhado ? roda della, com huma pequena inclina??o, que faz correr as espumas que a Caldeira lan?a a hum receptaculo, a que se chama Cochinha. A Cochinha, he hum pequeno tanque de taboas, que tem seu registo; o liquido que recebe, que n?o s?o espumas, torna a passar para a Caldeira; as espumas por huma calha coberta, v?o depositar-se ao seu receptaculo na casa da aguardente.

Bangu?, he huma fornalha comprida, com quatro palmos de altura, que cont?m tres, quatro, e cinco tachas de ferro, de tres a quatro palmos de diametro, da maior ? menor, que se distinguem com os nomes, quando s?o tres de tacha de receber, de cozer, e de bater. No mesmo bangu? est? outra tacha encravada, que n?o recebe fogo, que se distingue com o nome de bacia, ou esfriadeira, e he de cobre, para onde passa a calda de Assucar em ponto, e desta bacia he que vai para as f?rmas. As f?rmas s?o feitas de barro, de figura conica, de dois palmos pouco mais de diametro na boca, acabando para o fundo quasi agudas, com hum buraco de meia pollegada. A Espatula, he huma especie de p? de taboa, que serve de mexer o Assucar nas f?rmas, e impedir a sua mui prompta condensa??o. A Carcanha, he o aparelho de fazer a decoada, que se faz com a cinza de toda a lenha, preferindo a de gorarema, ou p?o de alho, que se tem reconhecido ser rica em alcali; a esta cinza mistur?o algumas hervas acres, para augmentar o que cham?o queimo da decoada; enchem com esta cinza, e hervas, doze a vinte f?rmas, que fic?o levantadas do ch?o alguns palmos, enfiadas em buracos proporcionados feitos em taboas; lan??o em cima destas f?rmas agua quente, que, filtrando-se por entre as hervas acres, e a cinza, cahe pelo furo da f?rma gotta a gotta, n'hum recipiente, donde se tira para o uso. A massa de Mamono, s?o as sementes deste vegetal bem pizadas. O tanque de preparar o barro, he hum cocho, no qual se deita muita agua, e barro, que com hum rodo se faz dissolver, ficando n'huma especie de lodo, que se lan?a em cima das f?rmas de Assucar bruto. Os vasos, onde est? a decoada, e agua para o uso, s?o f?rmas com algum defeito, a que se tapa o buraco que tem no fundo.

Cheio que seja o parol de caldo frio, do sumo das Cannas espremidas nas moendas corre por huma calha para a caldeira, que fica hum palmo por encher.

Esta caldeira, que tem sua fornalha particular, e hum Escravo, que a serve com lenha, principia a receber hum fogo violento; ? propor??o que o liquido aquece, sobe ? sua superficie huma especie de gusmo, a que se chama cachassa, que he tirada com a espumadeira pelo obreiro, que governa a caldeira, e lan?ada na cochinha para por huma calha ser conduzida ? casa da aguardente. Esta opera??o, a que se chama descachassar a caldeira, dura tanto tempo, quanto tarda o ferver o liquido, o que pelo commum, segundo o grande calor que recebe, n?o chega a meia hora. Logo que ferve, principia o uso da decoada; lan??o-lhe mais, ou menos rominhois della, segundo que o sumo da Canna cont?m mais, ou menos partes oleosas, e tem maior, ou menor densidade; e se he muito denso, e rico em sal, interpoladamente se lhe lan?a agua, e decoada. Esta decoada, combinando-se com o oleo, faz hum sab?o, que n?da na superficie do liquor em f?rma de espuma, que he tirada ? propor??o, que se ajunta.

Quando a violencia do fogo, dilatando o liquido, o faz sublevar acima das bordas da caldeira, ?s vezes hum, e dois palmos; huma pitada de massa de Mamono, lan?ada em cima, instantaneamente o faz abater, e reduz a mais de hum palmo abaixo das bordas della. O signal, para se conhecer se o liquor desta caldeira tem o cosimento preciso, a que cham?o estar limpa, ou ajudada, he hum segredo, de que fazem mysterio os Mestres de Assucar; ora isto he huma gente, pretos, pardos, ou Indios, que pelo commum n?o sabem l?r, e, em quanto a mim, n?o tem outro merito, e sciencia, que a de serem fi?is, duros ao somno, e terem hum pouco de cuidado, por ser preciso nestas f?bricas trabalhar de dia, e de noite. Quando se julga limpo o liquido da caldeira, passa ao parol de caldo quente, onde he lan?ado a bra?o, pelo caldeireiro, com a pomba. Continua o trabalho com mais caldo frio; estando prompto, passa ao parol de caldo quente, e quando neste parol h? quantidade sufficiente para passar ?s tachas, e, que depois destas trabalharem, n?o poss?o parar ? falta delle, enche-se a primeira tacha, chamada de receber, depois de ter aqui engrossado alguma cousa, passa della a bra?o para a de coser, e desta para a de bater. Assim que o liquido passou da tacha de receber para a de coser, enche-se a de receber, e assim progressivamente, de sorte que as tachas n?o fiquem paradas. Todas estas tachas s?o espumadas, e lev?o massa de Mamono. A f?rma de bater na ultima tacha, he levantar o liquido, que j? est? em calda, com a batedeira, e virallo com inclina??o sobre huma parede alta, forrada de tijolo, que borda, e circumda, mais que ao meio, a mesma tacha, e quando supp?em ter alcan?ado o ponto necessario, he, desta tacha de bater, passado para a bacia de esfriar, e daqui com a repartideira vai para as f?rmas, que est?o no que se chama tendal, que he huma especie de anteparo, cheio de baga?o de Canna, em cima de cujo baga?o est?o as f?rmas, que s?o no numero de sete, a que cham?o huma venda; n?o se enchem de huma vez, he repartida a calda por todas; e como a quantidade, que se apurou, n?o chega para as encher, complet?o-se com o segundo, e terceiro cosimento. Esta calda, lan?ada nas f?rmas, he mexida com a espatula, para impedir a condensa??o, e agrega??o mui prompta da gran do Assucar, a que cham?o coalhar. Quando as f?rmas fic?o cheias, e o Assucar coalha, tira-se a rolha, que tapa o buraco do fundo, para dar sahida ao mel, ou Assucar decomposto, cujo mel he conduzido por huma calha ao seu receptaculo. O Assucar mui trigueiro, que cont?m estas f?rmas, he o que se chama Assucar bruto. Pass?o agora do tendal para a casa de purgar. Esta casa he assobradada, e nas taboas do soalho h? muitos buracos redondos, de seis pollegadas de diametro, onde se firm?o as f?rmas, para serem barreadas.

A coxia, ou casa, que fica por baxo deste sobrado, he ladrilhada com inclina??o das paredes ao centro, onde h? hum canal, que recebe o mel, que as f?rmas de si lan??o, e o conduz a hum tanque, donde se tira para o uso. Do tanque de preparar o barro, se tira em huma vasilha, a especie de lodo, a que he reduzido, e se lan?a em cima das f?rmas: este lodo, que conserva a agua em si, a vai largando a pouco, e pouco, a qual, introduzindo-se por entre o Assucar, precipita o mel, para sahir pelo buraco do fundo da f?rma. S?cco que seja este barro, tira-se da f?rma, lan?a-se segundo, e ainda terceiro. Com estes tres barros, se supp?em ficar a f?rma, como cham?o, lavada. Succede poucas vezes ser o Assucar desta f?rma todo branco, o commum he ser branco da superficie, at? huma ter?a parte da f?rma, menos branco a segunda ter?a parte, trigueiro, dos dois ter?os para o fundo. Estas tres especies de Assucar, se distinguem com os nomes de fino, ou redondo, batido, e mascavado; este ultimo he ainda subdividido em diversos mascavados, segundo, que he mais, ou menos trigueiro.

O Assucar, assim trabalhado, diminue huma ter?a parte, pouco mais, ou menos, em quantidade de sorte, que, se as f?rmas cont?m tres arrobas de Assucar bruto, fica reduzido a duas de todas as qualidades. Depois que o Assucar se supp?em purgado, passa da casa de purgar para o terreiro, ou eira, onde he tirado das f?rmas, e com hum fac?o divididas as qualidades; e depois de reduzido a pequenas partes, he lan?ado em differentes toldos, ou len?oes de panno grosso, para que o calor do Sol lhe fa?a evaporar a humidade, e desseque.

He dalli conduzido ? casa do encaixe, onde se deita em caixas, que podem conter de quarenta a cincoenta arrobas; e socado a pil?es; e pregadas as caixas, conduzidas ao armazem, ou trapiche, onde, depois de julgadas as qualidades pela Meza da Inspec??o, he vendido.

Por n?o se saber moer Canna, gasta muito tempo o parol a encher-se. Nestas quatro, e mais horas, que o sumo da Canna, liquido mui composto, se deixa em repouso, fermenta; o que deprava o liquor, e diminue a quantidade de Assucar, e sua qualidade.

Se o parol he de madeira, conserva sempre em si hum fermento, que ajuda extraordinariamente esta deteriora??o. Quando o caldo da Canna passa do parol para a caldeira, vai frio; esta, que he de ferro coado, e est? muito quente, recebendo repentinamente huma impress?o t?o estranha, p?de rachar, o que muitas vezes succede. Hum calor moderado, que faz subir ? superficie do liquor, as partes impuras, a que se chama cachassa, n?o dura o tempo que he preciso; logo que a caldeira levanta fervura, todas as partes s?o confundidas: a decoada, que se lhe lan?a, tem a propriedade de se combinar com as partes oleosas, e acidas, e de nenhuma sorte com este gusmo, que incorporando-se com o Assucar, o faz trigueiro, e perder a qualidade. O obreiro, que governa esta caldeira, ainda que o descachassalla n?o dure meia hora, faz hum trabalho fatigante, pela postura curva, em que he preciso estar; e mais se fatiga ainda, quando, julgando-a limpa, lan?a o liquido a bra?o com a pomba, no parol de caldo quente. Os parois de caldo quente, tem o mesmo defeito, que os de caldo frio, se s?o de madeira; e se o liquido, que nelles se deposita, chega a esfriar, o que quasi sempre succede. O bangu?, he proporcionado ao pouco, que se trabalha.

A construc??o desta fornalha, he positivamente m?, o fogo faz o seu effeito inversamente. A tacha, chamada de receber, que p?de com mais calor, por ser o liquido que cont?m, menos denso, he a ultima proxima ? chamin?; a de cozer, est? no meio, a de bater, e apurar o Assucar, he junto ? boca da fornalha.

Este fogo demasiado decomp?em o Assucar, transforma-o em mel, ou Assucar queimado. Em algumas f?bricas h? j? bangu?s, em que quatro, e cinco tachas recebem o fogo directamente; por?m os obreiros, que as fazem, gente material, e sem principios; os Mestres de Assucar, tirados do seu trilho, sem capacidade para moderar o fogo, que pela fornalha direta, se augmenta muito; huma boca mui pequena, que nellas se p?z, e faz precisar o rachar-se lenha, ou servir-se s? de lenha miuda; hum crivo desproporcionado, a boca da fornalha aberta, todas estas cousas fazem, com que a maior parte use das antigas.

A bacia, ou esfriadeira, he inutil. As f?rmas de barro tem pequena base, e muita altura; ainda que estes defeitos n?o fossem bastantes, a sua fragilidade devia fazellas desprezar. A decoada, e f?rma de a fazer, n?o p?de ser mais defeituosa; as hervas acres, s? servem de a tingir, e a c?r, que lhe communic?o, se incorpora com o Assucar. Tenho visto parar engenhos, e bem notaveis, por falta de decoada; ainda que haja cinza, s?o precisos dois, e tres dias para se fazer; n?o h? regra, humas vezes he forte, outras fraca.

A massa de Mamono, quasi sempre he podre, ao menos conserva hum cheiro detestavel. N?o h? escolha no barro para clarificar o Assucar; qualquer serve, he sempre de hum cinzento escuro, e quando, depois de s?cco, se tira de cima da f?rma, deixa encostrado sobre o Assucar, hum sedimento negro. A f?rma de seccar o Assucar no terreiro, he pessima; al?m de ser preciso ter sentinela, ainda que quem o vigia, seja hum Argos, n?o impede, que se furte muita parte; a formiga, a galinha, o c?o, o porco, todos o comem; o vento faz depositar nelle mil impuresas; se h? chuvas continuadas, o que succede muitas vezes, n?o podendo as f?rmas sahir da casa de purgar, m?lla o Assucar nellas; a estufa salta aos olhos, por?m ninguem a p?z ainda em pr?tica. O bater a calda, levantando-a da tacha na batedeira, com inclina??o sobre huma parede, onde cahe muita parte della, n?o sei que isto possa servir para fazer Assucar, vejo que se faz hum encostramento na parede, que he preciso fa??o para o arrancar; esta especie de Assucar encostrado, a que se chama rapadura, para ter algum valor, he preciso tornar ? primeira tacha, e antes que a ella v?, tem mil descaminhos. O tanque do mel, al?m de ser huma verdadeira sentina, hum aggregado de mil imundicias, o mel faz apodrecer o tijolo, a que faz perder pela terra muita parte, que bem acondicionada, se aproveitaria em aguardente.

O sumo, ou caldo de Canna, que cont?m este sal delicioso, he hum composto de agua, mel, oleo, e acido; e das materias extractivas, da casca, dos n?s, e das fibras longitudinaes da mesma Canna.

Deve-se buscar na f?brica do Assucar, o separar estas tres especies de materias extractivas, rezinosas, ou feculas o oleo, e acido superabundantes, e evaporar a agua.

Estas opera??es, que s?o chymicas, sendo bem feitas, constituem o bom Mestre de Assucar.

O unico meio, at? agora conhecido, para separar as tres feculas, que fazem a cachassa, he hum calor, que a m?o n?o possa supportar, por?m que de nenhuma f?rma chegue ao gr?o de fervura. Para separar o oleo, e acido superabundantes, n?o se sabe de outro meio mais, que os alcalis, vegetal, e calcareo, quero dizer, as decoadas de cinza, e de cal, combinadas.

Qualquer destas duas decoadas por si, tem a propriedade de se unir aos oleos, e acidos, e fazer com elles hum sab?o, que se mostra na f?rma de espuma; por?m Bergman observou, que o alcali calcareo prefere o acido, e o alcali vegetal o oleo; o que faz precisar a combina??o destas duas especies da alcalis, para a depura??o do Assucar. Se o sumo, ou caldo de Canna he muito aquoso, oleoso, acido, pouco assucarado, quero dizer, produzido por huma Canna tai?ba, ou selvagem, deve ser servida a caldeira com decoada pura, no ponto, em que fica, segundo a f?rma de a fazer, que logo direi.

Se, pelo contrario, he rico em sal, pouco aquoso, muito denso, produzido por huma Canna de boa qualidade, deve a decoada ser enfraquecida com agua pura. Esta maior, ou menor for?a da decoada, he relativa ao sumo, ou caldo de Canna, por ser preciso ter, onde se empregue, para deteriorar o Assucar, e communicar-lhe hum gosto lexivial.

A evapora??o da agua deve ser feita por hum fogo graduado, e poupado; por ser fysicamente demonstrado, que qualquer liquido, chegando a levantar fervura, tem alcan?ado o maior gr?o de calor, de que he capaz, e que he em pura-perda, toda a mais lenha, que se lan?a na fornalha. Este calor demasiado, perdido para a evapora??o, decomp?em o Assucar, e o reduz a mel, ou Assucar queimado. A evapora??o de qualquer liquido, he em ras?o da sua superficie; para esta se augmentar, he preciso levantar o liquido, e deixallo cahir em columna; tanta he a superficie desta, quanta a augmenta??o da evapora??o, respeito ? que tinha na tacha simplesmente fervendo.

Todo o liquido mucoso, doce, tendo fluidez sufficiente, ajudado pelo calor, e influxo do ?r, entra promptamente em fermenta??o. Esta fermenta??o decomp?em o Assucar, que tranforma em espirito, de sorte, que certa quantidade de liquido, que produziria vinte, se chega a fermentar, p?de dar s?mente quinze, dez, e mesmo nada, e esse menos que se fizer, ha de ser de m? qualidade. O gr?o de frio, que g?la a agua, impede a fermenta??o, por?m este meio s? a natureza o p?de dar, e no Brasil he impossivel; o que temos na nossa m?o, e facil, he darmos, e conservarmos hum calor ao liquido, que quasi o fa?a ferver. A ras?o porque se diz, ser bom trabalhar em quente, e muito m?o em frio, he por este frio ser o do ?r, que no Brasil ajuda prodigiosamente a fermenta??o, e o quente, he o liquido quasi fervendo, que a impede.

Ora, sahindo o caldo quasi fervendo da caldeira, e passando ?s tachas quasi com esta quentura, trabalha-se bem, e apura-se o mais possivel; esfriando no parol, assim que alcan?a o calor, que favorece a fermenta??o, entra logo nella, porque a natureza n?o p?ra; e quanto mais tempo assim se conserva, tanto mais se deteriora, perde o rendimento, e custa a trabalhar.

Dois parois de cobre bem estanhados, que n?o tenh?o mais de dois palmos de altura, com sufficiente largura, e comprimento, para conter cada hum tanto liquido, quanto caiba na caldeira, sem sobejar. Devem ser cubertos de taboas, para impedir o mui livre contacto do ?r; com hum furo na tampa, para dar entrada a hum grosso, e comprido funil, que recebe da calha o sumo da Canna, e o deposita no fundo do parol.

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