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Read Ebook: Nova Sapho: Tragedia Extranha by Villa Moura Bento De Oliveira Cardoso Visconde De

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Ebook has 123 lines and 6665 words, and 3 pages

. Sigamos a m?o distante que nos acena. D?mos por tudo o que formos encontrando.

Chamam-nos visionaria! Que importa? Que tem sido a humanidade, sen?o visionaria!

E como ? grande a creatura quando sonha! E como ? bella a alma a viver sentimentos, a visionar!

O que ? a Vida nua de chimera?!

S?o factos o proprio sonho, a chimera...

Creio na vida eterna pelo Amor. O Amor, fundiu em mim--Deus, Pervers?o, Desgra?a...

O Bem e o Mal deram a figura que sou--um bronze de sentimento. Realizo o genio sensual da humanidade nevrosada e a vida suave de toda a Belleza humilde!

Sou Shakespeare e Bandarra:--tenho no peito o cachoar tragico da muita miseria e altanaria heroica, que o ingl?s referveu em dramas, que s?o a perpetuidade da Dor-genio; e, ao mesmo tempo, a simpleza ingenua da amargura, delida por uma quasi inconsciencia,--aquelle extranho sentir dos loucos que t?em o sestro de viver alegres as suas e as tragedias dum povo, os bellos crimes, como as grandes melancholias duma ra?a!

Sinto a alma amarrotada, amarfanhada! Mas ha almas e almas. Ha-as que s?o como a estopa grossa que, quando sujeitas vincam tra?os grosseiros.

Tenho na alma a dor latente. O Acaso, fomenta-a por capricho.

Deitei-me a outra noite, triste, sem saber porque. Estava de mal commigo. Dormi pesadelos. Subito, levantei-me, abri a janella, e vi o roseiral escuro. Nem uma rosa a alumiar-me! Deus cortou rela??es commigo, pensei, angustiada. Cortou as rela??es com todos os homens, e por isso escureceu as flores, pintou-as c?r do castigo, f?-las c?r da fuligem.

Corria o tempo, e eu, muda, quieta, somnambula, a fitar as rosas, todas de seda crepe, e, ainda assim, bellas e cheias de gra?a no seu desenho fino e desegual!

Depois, a meio da tortura daquella vis?o sombria, recobrei-me, pensando em Deus. E vi que defraudando-me, se castigava. Elle n?o podia, sem desfalque da sua divindade, abdicar da C?r:--dar ?s rosas o tom da sombra, embora tocado da belleza da noite, podia ser capricho, nunca um proposito eterno!

Chamei Deus a mim, num esfor?o ingente de Artista que requer o Elemento para trabalhar, produzir, crear...

E, desde logo, o sonho se esbateu em claridades. As flores come?aram a colorir--milagre de Deus, da madrugada, do meu olhar!

Deus troca a sua alma com a minha. E sua alma cabe em mim.

Conven?o-me de que o lisonjeia a troca--pois a minha abnega??o e bondade n?o t?em a caucion?-las immunidade alguma.

Vivo pelo Amor todo o amor, os maiores desalentos, o proprio odio, os fados desgra?ados...

A inten??o da minha ultima jornada foi duma pureza absoluta.

Elevou-me a isen??o; por ella desprezei a Moral. Ser moral ? servir a conveniencia; raramente ? ser bom. Collidem quasi sempre a Bondade e a Moral.

Esta ? muitas vezes hypocrisia a reflectir trapa?a, iniquidade.

A minha coragem afronta o estabelecido. Moral alguma vale a Bondade! Ainda que sacrificasse a propria vida infinita, eu n?o recuaria:--outro Ceu havia de encontrar.

Protegi um dia os amores de dois mendigos. O meu olhar illuminava aquellas almas, que se trocavam para al?m das suas miserias.

Esbatia seus enleios um resplendor de sol, que espectrava riquezas e caprichos de tom:--era a minha bemqueren?a, a Bondade, eu propria, desfeita em luz a aquecer aquelles amores, banhando-os de goso divino.

Deus parece ter-se enganado, extravazando em mim toda a melancholia que devia ter apartada para uma ra?a.

Extranha figura sou! No meio de tempestades intimas, as mais batidas, a alma raramente me deu lagrimas; suggeriu-me desalentos. Outro dia chorei, convulsa, deante de um numero, que ainda lembro cheia de medos.

Vi naquelles numeros toda a severidade votada aos degenerados, o conflicto aberto entre uma sociedade inferior e a sensibilidade acuradissima dum louco genial.

Tambem eu sou odiada; e, para o grande numero, a Sapho, a larva immunda que acommete a adolescencia...

N?o me defendo. Quantas vezes senti em mim a alma da grande lesbia, que visitava em meus poemas e loucuras a nova Hellada do Ocidente!

E larva tenho sido. Mas larva a evoluir. A chrysallida que sonha asas. Sinto-as no auge da nevrose. Prendem ? carcassa de linhas finas em que o Destino veiu pousar uma grande alma. Erguem a minha belleza amoral.

Toda a gente odeia a Morte. Porque?

Desconhe?o-o em parte.

Mas a atmosphera propria a que se manifeste est? na ignorancia das leis do mundo, no desprezo da Vida.

Que ninguem tente reprimir a sensibilidade. Entregue-se-lhe. Ha no povo inculto, como entre os superiores, grandes temperamentos deformados pelo Preconceito. S?o aquelles a quem o Acaso repartiu almas que s?o preciosissimos instrumentos, que elles desferem mal.

Foi a guerra movida ? minha conducta que melhor acurou os meus vicios, suggeriu a defesa integra dos meus actos, e creou, parallelamente ao meu nihilismo de sentido, uma Philosophia que prende a uma Liberdade amoral que vae al?m da outra,--a que peja os Codigos, as Biblias...

Sempre que intravazava o odio alheio, reconhecia, ap?s horas de tortura, estados novos, de que manavam fontes suaves de riqueza espiritual. ?s vezes, sentia eu propria necessidade de concitar esses odios.

Esta attrac??o exprimia o bra?o do Bem e do Mal,--o instincto duma grande miss?o de Unidade a colligir os recursos do Novo-Mundo da Belleza. A grande elementa??o desse mundo n?o dispensa o Mal. Toda a crea??o ? dolorosa.

Gosar o soffrimento ? acceitar aquella miss?o. Mas, porque s? os maiores a acceitam, s? elles a gosam, exprimindo em Arte o agridoce daquella dor.

O vulgo mal comprehende a tortura dos eleitos, o que reflecte de grandeza sobrenatural. E a Sciencia n?o alcan?a mais! Que eram os apostolos quando se deixavam retalhar, a sorrir, de olhos fitos no Al?m?

Para o povo eram santos, para a sciencia--loucos. Erro grosseiro ? ler a Dor atravez das lentes escuras que vestem os olhos de tanto myope! Como falseiam a miss?o da Belleza!

Loucos os apostolos duma Religi?o!

Tambem vou ser acoimada de louca! Quantas affinidades com elles h?o de encontrar-me... E talvez, inconscientemente, a Sociedade acerte. O que ? um louco?

? o espelho de melhor ou peor crystal, biselado ou lizo duma alma sem artificio a viver desvairamentos. ? o absoluto em sinceridade--o que ri, e chora, odeia e ama sem trapa?a, indifferente ? sociedade que o espreita, o que despe a alma na pra?a publica sem caridade por si, alheio a quem o v?.

S?o os criminosos, os santos,--todos os reduzidos de entendimento, como os que o possuem accrescentado duma sensibilidade incomprehensivel. O mundo ri egualmente da treva dum inferior, como dos supremos desvairados.

Os inferiores desconhecem a grande parte da verdade eterna que o sonho cont?m, que ha, por vezes, na loucura profecias geniaes.

Parece que os loucos sonham, quando adormecidos, actos que a sociedade toma por feitos de juizo.

Depois ao acordarem abysmam-se do desapontoado dos sonhos...

Exactamente o inverso do que succede ao Vulgo. Este delira no somno os grandes feitos e delictos. Uns e outros relegam o que sonharam.

Ora o Artista, ou acorde na Obra uma aspira??o do Vulgo, ou desvaire f?ra do tempo e do espa?o em que trabalha, ? sempre a creatura que vive na Arte o sonho e sonha na Arte a Vida!

Do louco tem o desvairamento, que lhe distende a sensibilidade at? ? abnega??o, o alheamento da conveniencia, a fatalidade do temperamento, agindo livre entre clar?es e trevas. Sou a Artista-louca, perdida no cosmorama dos Paizes-Altos da Belleza. N?o conheceis estes paizes! S?o aquelles que o meu genio doente aguarella e o Sentimento repinta e vive.

Deslumbro o entendimento na F? sonhada--a nova Attica do Ocidente.

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