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Read Ebook: Nova Sapho: Tragedia Extranha by Villa Moura Bento De Oliveira Cardoso Visconde De

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Ebook has 123 lines and 6665 words, and 3 pages

Deslumbro o entendimento na F? sonhada--a nova Attica do Ocidente.

Valho o abra?o de dois povos, que se estreitam e vivem as ultimas loucuras confundindo as almas!

Sou o Ocidente a alar-se.

Triumpho morrendo.

Morrer ? simplesmente erguermo-nos. Vou elevar-me, descansar na Altura.

Attingi pela Dor o planalto que me vae ser ponto de v?o. Fui a creatura que o Destino arrancou da pureza humilde dos montes, e que, ao chegar ? civiliza??o, deslumbrou de torpeza. Aguia nata em ferocidades puras, quiz o luxo mundano domesticar-me para que eu sommasse ? ferocidade selvagem a hediondez civilizada!

Salvou-me a ra?a. Vivi o temperamento, as taras, tudo o que era meu, bem meu, em reac??o com os outros.

Raras alegrias me assaltaram. Tinha de ser:--a Alegria j?mais fecundou.

Vi chover sobre a minha obra, que era mais do que eu propria, pois que era eu tocada do sobrenatural, petalas de oiro e lama.

Pros?pia, bens, armas, bras?es, tudo rev?lto, perdido...

Portugal, Hespanha!

As armas, os bras?es, v?s proprios os derrubastes, esquecidos de que tambem eram vossos, principalmente vossos!

A Historia ha de gelar no cora??o das crean?as, quando os sax?es e os outros, as ra?as praticas, vierem tentar o Ocidente... Antevejo conflictos entre as futuras searas de adolescentes, sortidas de pequenos demonios dourados, sardentos e gulosos dos meus bens.

Deixae-me beijar-vos, oh adolescentes morenos da minha ra?a,--corpos de sombra e sonho, pelo vosso triumpho!

Reviver? na vossa belleza o meu genio--nos Estados que tereis de crear o meu sonho!

Eu mesma ter?arei armas na vossa lucta.

Voltarei, vestida dos vossos corpos de bronze. Sentir-me-eis em v?s, como hoje vos sinto em mim!

Mas s? resurge quem morre. Entreguemo-nos ao Deus latente em n?s, que nos d? na Morte o summo poder.

Por tudo elle a repartiu, como a signalar que em tudo ? latente.

O infinitamente grande leva a sua grandeza divina at? vestir o infinitamente pequeno.

O infinitamente pequeno ? Deus procedendo, transformando. A Morte ? o genio divino, tocado da treva, a simular aniquilamento...

? elle a recolher o material disperso, para modelar e animar novos sonhos. ? o esbo?o de novas formas a apparecer.

Bemdigamos o Deus que somos, o Deus que vive em tudo e ? Tudo. Amemos a Morte, pois que ella ?, definitivamente, Deus.

? isto loucura? Sei l?! Talvez sonho...

Por meu mal, sonho sempre. Batalho ?s noites com phantasmas. A outra noite, foi com phantasmas de Belleza. Assisti a uma refei??o nova, a refei??o da madrugada, na Villa-Feia.

Jehovah, entendeu-se com os do Olympo e a pedido de Apollo, que me convid?ra, quietou o tempo numa luz branco-cinza. Jupiter emprestou Ganymedes para servir os nectares, o mel, os fructos; Jehovah mandou seraphins, rosas...

Os convivas eram Nuno, Apollo, Venus, adolescentes morenos de culpa, que fui resgatar ao inferno catholico; Sebasti?o, o ephebo-martyr; Edgar--muito discreto e lindo no seu nu c?r de tocha;--Ruy, abra?ado a Nuno, a afog?-lo no mar de luz do seu olhar velludento, verde de vicio;--Helen, feita sereia vegetal, erguendo a cabe?a airosa e loira dentre petalas de a?ucena;--finalmente a Hermaphrodita, a Penedia enorme, que vi espregui?ar-se, mover o peito, as coxas de gran, e levantar-se, suprema, para vir tambem tomar parte na refei??o, penetrar-se da essencia, do olor das rosas.

O nectar era servido em flores de magnolia e peonias...

Come?ou a refei??o; pedi mel. Veio Ganymedes servi-lo; mediu cem violetas do oiro-doce para a copa dum lirio que beijou e correu a trazer-me. Bebi dum trago o lirio-calice da loira resina. Pedi os fructos, as flores da figueira--figos tumidos de carne-vermelha, coberta a seda-amethysta; quiz rom?ns, damascos, peros de Deus... Sorvi tudo. De repente, ao tomar a terceira peonia de nectar, senti-me entontecida, deliciosa e horrivelmente nauseada!

Era o olor das rosas, a essencia do nectar, dos fructos, daquella Carne tocada do genio dos divinos oleiros, o perfume das ta?as,--tudo a perturbar-me!

Evoquei os Deuses e acordei ao grito da sua voz, que era a voz da minha queixa! E, acordada, volvi a pedir-lhes que de novo me remetessem ao sonho, e me asphyxiassem, de vez, pela Imagina??o!

Queria morrer imaginando, abrupta ou suavemente, mas do mal-de-sonhar...

O pensamento fixo ? partir, morrer.

N?o obedece ?s formas vulgares do verso. Tem as formas espraiadas da massa da agua em movimento. Resume a forma definitiva da Poesia. Nenhuma alma soffre medida. Menos podia soffr?-la a minha, immensa como o genio que a distende.

Eu n?o poderia contar as sensa??es intimas da minha tristeza. Quem pode contar as commo??es da labareda? Como havia de sujeitar ao metro o infinito de melancholia que sinto agora e dar o espectro da transforma??o que est? a passar-se em mim?

Vou morrer. Nem sinto a dor dos que v?o desesperados e sem f?, nem a alegria dos que partem de vez ? conquista doutros mundos. Sou a acropole do sentimento. Acceito a Morte como um bem. Vou provoc?-la como success?o logica duma Vida que s? pode continuar-se depois da nova prova??o.

Esta prova??o era fatal... Exulto! Matar ? transformar. Vou transformar-me. Quando voltar serei outra.

Saudades, levo-as das tristezas que vivi.

A tristeza, a nevoa de melancholia que enchem esta hora de partida, d?o-me a nostalgia do mundo que fui, de muitas batalhas de dor, agora decididas.

A Dor tem o sestro dos maus filhos; aferra-se profundamente aos cora??es que tortura, e domina-os. Mas ha dores e dores!

Nas passadas vivo a Saudade, nas presentes a Morte! Aben??o a Morte que me conduz ? nova Vida. E soffro e goso suavemente esta jornada que para tantos ? maldita...

Morro no outomno. O Destino quiz que fosse com as ultimas esperan?as dos primeiros tuberculosos...

Tisicos, iremos todos! Quero ir cercada das vossas figuras brancas, puras da doen?a. Os atalhos h?o de mandar flores a acompanhar-nos...

Oh! que lindo cortejo. J? as vejo, al?m, paramentadas! S?o papoilas-sangue, risos petalados de boas-idas.

Iremos j?. Tenho ali a mascara que, embebida em Ether, ha de dar-me passagem para a grande Vida. Come?o a viver a suprema Vida.

N?o sou j? a <>; a sombra immensa que projecto rompeu de vez a espessura que me occultava do Deus latente em mim, do Deus que sou.

Que cega estava, que surda fui. Como a Terra, o Mar, tudo ? differente!

O Mundo, oh que genial mentira! Como o distingo bem, de longe! Eu propria fui o que elle ?--Confus?o. O que avisto:--palacios de poderosos, columnados de gelo; choupanas de Luz; cora??es de trit?o em peitos de sereia; fios de aranha alando a Terra; a Humildade a chorar sob doceis de granadas; a Humanidade em arestas ? merc? do vento, a mergulhar nos pantanos; monstros a florirem amor; e tudo a morrer para viver, a viver para morrer!

J? converso as sereias, os trit?es, as sombras dos Poetas. Phosphorescencias da agua--oh que mysterios de luz!

Quantos espiritos novos! S?o s?tyros estrebuchando amores, na treva; s?o genios lendo ? luz verde dos pyrilampos a vida dos pinheiraes; s?o levadas chorosas da virtude dos homens e da castidade infame das donzellas; ? a onda a trabalhar o granito, a estatuar Belleza; ? o vento a ramalhar ora??es, a petalar a agua, a orchestrar a gargalhadas o Hymno do Desprezo pelas leis da Terra; ? a sombra de Wagner, sob o pallio verde-escuro dos laranjaes a apontar as notas altas dos rouxinoes para dar a ultima dem?o ao Hymno de Amor em que vae cantar o Infinito...

S?o moinhos a moerem bagos de oiro, de que os homens fazem o p?o puro--rodas de moinho a beberem agua e a espadanarem leite, o leite que o ribeiro entorna pelas sementeiras e amamenta o linho, as papoilas, e os trigaes!

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