Read Ebook: A philosophia da natureza dos naturalistas by Quental Antero De
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O desconhecimento d'estas verdades e o desdem pela metaphysica, filho em grande parte da reac??o, ali?s justissima, provocada pelos excessos e intoleravel dogmatismo da especula??o, na Allemanha, e pela sua insignificancia e convencionalismo, em Fran?a; e, por cima d'isso ainda, o maravilhoso desenvolvimento das sciencias naturaes, durante os ultimos 40 annos, deram de si o apparecimento d'uma pseudo-philosophia da natureza que se pretende positiva e puramente filha das sciencias e que julga ingenuamente poder resolver os intrincados problemas das id?as, sem ter o incommodo de reflectir e s? com grande somma de physica, chimica e physiologia.
J? por aqui come?amos a ver quanto a concep??o monista da materia ? confusa e mal definida e, por conseguinte, pouco philosophica. Mas n?o o ? s? por isto. A confus?o primeira faz-se sentir em todos os aspectos da ideia de materia. ? impossivel, com effeito, passar-se naturalmente da no??o d'uma substancia una, simples e apenas virtualmente susceptivel d'omnimodas modalidades, para a rica e quasi infinita variedade dos seres e qualidades de que se comp?e a universal realidade. Que importa que essa doutrina sibyllina nos diga que a sua substancia una e simples ? virtualmente susceptivel de toda a variedade de formas e qualidades? A quest?o est? justamente em se saber como ? que, sendo una e simples, tal substancia p?de effectivamente dar de si o movimento e a variedade.
Sobre isto ? muda a doutrina.
Como ? que essa substancia una e simples se determina? como ? que, sendo una e simples, se p?de dar n'ella opposi??o, diversidade, movimento?
A concep??o monistia implica continuidade--e tudo no universo ? descontinuo; implica simplicidade--e tudo no universo ? complexo: implica inalterabilidade e indistinc??o--e tudo no universo ? perpetua mudan?a, differencia??o e instabilidade.
Foi precisamente esta objec??o que encontrou deante de si e contra a qual veio desmanchar-se a physica cartesiana com a sua ideia da materia-extens?o.
Como se concebe o movimento numa tal materia? perguntava-lhe o atomista Gassendi. E Boileau, com o seu solido bom senso, resumia a quest?o nos dois versos celebres:
C'est en vain que Rohault s?che pour concevoir Comment, tout ?tant plein, tout a pu se mouvoir
Declamar contra o atomismo ? facil: evitar com uma palavra vaga e ao mesmo tempo pomposa as difficuldades que envolve a concep??o da materia, ? mais facil ainda: mas n?o ? isso o que se espera de verdadeiros philosophos; e uma tentativa de philosophia da natureza, s? merecer? este nome, quando sobre a analyse das ideias de substancia, for?a e movimento se assente uma doutrina da materia que satisfa?a ao mesmo tempo ?s exigencias puramente racionaes da especula??o e as mais praticas da indaga??o scientifica. Nada d'isto encontro no monismo de Haeckel e seus discipulos: o terreno sobre que pretendem construir est?, quanto a mim, muito longe de ser solido.
SEGUNDO ARTIGO
Falta-me ainda encarar, n'esta esphera da ideia de materia, a concep??o monista, sob um outro ponto de vista. ? o da espontaneidade da materia.
A ideia da espontaneidade da materia parece estar em contradic??o com a theoria da conserva??o do movimento, que domina nas sciencias physicas e j? em grande parte nas sciencias da organisa??o.
Ainda por este lado, se me n?o engano, a ideia da materia, segundo os monistas, est? muito longe de apresentar a defini??o e consistencia necessarias. Ora essa id?a tem de ser a pedra mestra de toda a construc??o philosophica na esphera da natureza. A final de contas bem apertada e espremida, a doutrina da materia, segundo a philosophia monista, reduz-se, como creio ter mostrado, ?s no??es correntes, nas sciencias physicas, de atomo e for?a. N?o s? n?o ha n'ella originalidade alguma, mas o que ? peior, apresentam-se nos aquellas no??es envolvidas nevoentamente n'uma concep??o vaga, d'onde ? necessario extrahil as e, no fim de tudo, em vez de esclarecidas e aprofundadas, obscurecidas por forma tal que nada ha de lucido e fecundo a tirar d'ellas para uma comprehens?o superior e verdadeiramente philosophica dos phenomenos da natureza.
Com as observa??es que acabo de fazer n?o pretendo de modo algum contestar o valor e a legitimidade, na esphera das sciencias physicas, das no??es de materia, atomo, for?a e movimento, nos limites em que a sciencia emprega estas no??es: ellas n?o s?o, com effeito, para a sciencia mais de que hypotheses, restrictas a um determinado campo e n?o tendo por fim sen?o a coordena??o racional d'uma determinada ordem de phenomenos, d'um determinado aspecto da phenomenalidade. A sciencia, usando d'estas no??es, n?o pretende impol-as f?ra da sua esphera, nem dal-as em absoluto, como explica??o ultima e irreductivel das cousas. A conserva??o do movimento, scientificamente, ? um facto: um facto, que pela sua generalidade, envolvendo a explica??o de innumeros outros factos, tem o valor d'uma theoria, mas d'uma theoria puramente scientifica. Se a conserva??o do movimento implica o determinismo, implica-o s? nos limites e no ponto de vista do puro mechanismo, no ponto de vista da realidade como systema de movimentos--sem que a sciencia possa ou pretenda concluir d'ahi para um outro ponto de vista, que n?o ? o seu, e em que o mechanismo j? n?o apparece como o limite e termo ultimo do conhecimento.
Sciencia e especula??o s?o cousas muito diversas, embora dependentes uma da outra, e o que basta ? sciencia n?o ? sufficiente para a especula??o. Ideias, que no terreno scientifico bastam e s?o por isso, n'esse terreno, muito legitimamente consideradas irreductiveis, n?o bastam j? nas regi?es da especula??o, onde com effeito s?o reductiveis a categorias mais transcendentes. Se o conjunto das sciencias n?o p?de, como todos os verdadeiros pensadores reconhecem, supprir a philosophia ou substituir-se a ella, ? justamente porque o conjuncto das ideias geraes das sciencias, n?o inclue em si a totalidade dos elementos racionaes da comprehens?o do universo, mas apenas o conjuncto d'esses elementos no ponto de vista da phenomenalidade. Ora o monismo, attribuindo ao ponto de vista das sciencias physicas um caracter absoluto, arvorando as ideias geraes d'um grupo de sciencias em ideias ultimas e irreductiveis, exorbitou da sciencia sem ao mesmo tempo fazer acto de philosophia. ? o que talvez consiga mostrar ainda mais claramente, fazendo a critica da ideia de evolu??o segundo os monistas.
TERCEIRO ARTIGO
? necessario fazer aqui uma distinc??o importante. A evolu??o n?o ?, com effeito, um systema no dominio circumscripto de cada uma d'aquellas sciencias onde esta ideia, por assim dizer, se imp?e, onde mil factos a confirmam e onde f?ra d'ella seria impossivel encontrar-se um principio geral de coordena??o. Ahi, sem duvida, a evolu??o n?o ? um systema, mas propriamente uma theoria scientifica.
Mas estar?o n'este caso todas as sciencias? De modo algum.
A ideia de evolu??o n?o intervem sen?o onde o elemento historico representa um papel proeminente, isto ?, acima de tudo, nas sciencias da organisa??o e depois ainda, mas d'uma maneira menos necessaria e menos definida, na astronomia, ou propriamente, astrogenia. ? s? ahi que a divis?o do trabalho se exerce, differenciando gradualmente e como que analyticamente as formas contidas virtualmente e, por assim dizer, envolvidas n'um germen ou facto primeiro, que ? o ponto da partida de toda a serie. A physica e a chimica, porem, est?o completamente f?ra dos dominios da ideia de evolu??o. A chimica parece reduzir-se toda ? atomicidade, e a maior ou menor complexidade de composi??o n?o foi nunca considerada como um desenvolvimento, assim como a irredectubilidade dos corpos chamados simples, se n?o ? um dogma, ? certamente um facto que se imp?e ? sciencia e que, emquanto assim se impozer, obstar? a toda a theoria geral evolucionista dos phenomenos chimicos. Por outro lado, entre as for?as physicas, n?o ha hierarchia, mas parallelismo, e a reductibilidade d'umas ?s outras implica unidade, mas n?o evolu??o, cousas bem distinctas.
Ora, nenhuma d'estas condi??es se realisa.
A ideia d'evolu??o s? impera em certas sciencias e, por conseguinte, n'uma esphera limitada da phenomenalidade.
Em segundo logar, a passagem d'uma determinada ordem de phenomenos para outra n?o se p?de explicar evolutivamente, no terreno rigorosamente scientifico, porque, n'esse terreno, o elemento commum d'essas varias ordens ? s? um elemento abstracto, o movimento, que pela sua mesma abstrac??o, n?o ? capaz de dar raz?o do que ha de especial em cada uma d'ellas e a caracterisa, isto ?, a forma ou func??o especial que representa. ? assim, por exemplo, que embora os phenomenos vitaes se reduzam, em ultima analyse, ao movimento, isto ?, a grupos e combina??es complexas de movimentos elementares, nem por isso a vida pode ser satisfactoriamente definida como um modo de ser do movimento; porque uma tal defini??o, pela sua mesma abstrac??o, nada define; nem o quadro de todos esses movimentos p?de ser dado como equivalente ? ideia synthetica da vida; nem, finalmente, a concep??o mechanica da vida representar? outra cousa mais do que um aspecto da phenomenalidade da vida e nunca a concep??o mesma da vida.
Parece-me claro, em vista d'isto, que a doutrina de evolu??o formulada por Haeckel e seus discipulos n?o ? de modo algum, como se pretende, uma doutrina positiva, fundada nas sciencias e sahindo d'ellas como a sua natural consequencia. Creio ter mostrado que essa doutrina implica uma extens?o abusiva da induc??o scientifica e a illegitima generalisa??o d'uma hypothese, que se ? perfeitamente fundada no terreno de determinadas sciencias, s? ahi e s? n'esse ponto de vista tem authoridade scientifica.
Resta agora ver se, como hypothese philosophica, a ideia d'evolu??o, tal como a concebem os monistas, apresenta aquella defini??o e consistencia sem as quaes a mais ampla e brilhante hypothese ? muito mais um producto da imagina??o, do que da raz?o.
Creio que n?o apresenta.
Especulativos inconscientes, os monistas especulam mal. Tal como a concebem, a evolu??o, destituida de todos aquelles elementos de analyse racional, que s? lhe poderiam dar um verdadeiro cunho philosophico, n?o ? um principio: seria apenas um facto; facto culminante e universal, mas simples facto e n?o principio.
Ora os factos s?o apenas a materia prima da philosophia: s?o aquillo que se pretende explicar, em quanto que s? os principios fornecem o criterio e o ponto de vista d'essa explica??o; e a doutrina monista da evolu??o, que, como doutrina positiva, como generalisa??o scientifica dos factos da natureza, est? muito longe de ser rigorosa e fundada, pecca por outro lado gravemente, como hypothese philosophica, como doutrina especulativa, pela falta d'analyse das ideias sobre que, para merecer o nome de philosophia da natureza, se deveria apoiar.
Com effeito, se o universo evolve porque ? que evolve? Se a sciencia nada tem que v?r com esta quest?o, a philosophia ? que tem muito e tudo--e j? mostrei que ? s?mente como tentativa philosophica de explica??o que o evolucionismo monista deve ser considerado.
Uma theoria geral philosophica do desenvolvimento das cousas implica, pois, uma theoria da raz?o de ser d'esse desenvolvimento. Sobre esta quest?o essencial o monismo ? peior do que mudo; ? absurdamente negativo.
A ideia de evolu??o implica necessariamente a de finalidade; esta contem a explica??o racional d'aquella, que, s? por si, ? inintelligivel e at? contradictoria. Se o movimento, acto essencial da materia, ? autonomo tal movimento n?o p?de ser concebido sen?o como um impulso espontaneo, por conseguinte, como uma verdadeira determina??o voluntaria: ora onde ha determina??o voluntaria sem mobil, sem fim? Pois n?o ? precisamente o fim que determina a vontade, e que explica o acto? Um movimento autonomo, que n?o tende a um fim, ? perfeitamente inconcebivel: pois se n?o ha fim porque e para que o movimento? A ideia de finalidade ? a pedra angular de toda a construc??o philosophica no terreno da natureza.
Assim o comprehendeu Leibnitz na sua Monadologia, assim o comprehenderam Schelling e Hegel, os verdadeiros paes da moderna philosophia da natureza.
O horror pueril ? metaphysica e a pretens?o chimerica de fundar uma philosophia da natureza positiva e exclusivamente architectada no terreno da sciencia levou Haeckel a desconhecerem a importancia capital da ideia de finalidade e a minarem aquillo que justamente lhes deveria servir de primeiro fundamento para o edificio que levantavam. ? o que espero deixar suficientemente provado no meu proximo artigo.
QUARTO ARTIGO
O Snr. Vianna de Lima consagra as ultimas 100 paginas do seu volume a combater a ideia de finalidade nos dominios da natureza e triumpha facilmente dos theologos ou simili-theologos, que, despojando a materia das suas propriedades espontaneas e da sua infinita virtualidade, veem em tudo os effeitos d'uma direc??o exterior e se extasiam diante das harmonias intencionaes da Cria??o.
Era facil o triumpho. S?mente, o snr. Vianna de Lima tomou a nuvem pela deusa, tomou a concep??o infantil e anthropomorphica da finalidade pela propria ideia metaphysica de finalidade.
Se o snr. Vianna de Lima se despojasse por algum tempo dos seus habitos de pensamento de puro naturalista e estudasse um pouco os t?o abominaveis metaphysicos, n?o s? Leibnitz e Hegel, mas ainda o representante nosso contemporaneo da alta especula??o, Hartmann veria que a ideia de finalidade n?o se reduz, como lhe parece, ?quella concep??o anthropomorphica, que com t?o facil felicidade refuta no seu livro. Veria que a finalidade p?de ainda ser concebida como immanente ? materia e como aquelle segundo elemento que vem integrar, juntando-se ao movimento, a no??o da realidade; que, n'este caso, longe de ser contradictoria com a espontaneidade do movimento, ? justamente a explica??o do movimento; que o que parece effeito, no ponto de vista do puro mechanismo, ? causa no ponto de vista da finalidade, sem que uma cousa repugne ? outra, porque s?o duas espheras do conhecimento, que ao mesmo tempo que se opp?em, reciprocamente se completam.
Perceberia ent?o uma cousa, e ? que, n?o s? o movimento em geral ? racionalmente inexplicavel e, por conseguinte, inconcebivel sem a ideia de finalidade ou de causa-final, mas que mais particularmente a evolu??o, isto ?, o movimento como hierarchia ou desenvolvimento, implicando a ideia d'um typo, que as formas evolvendo, tendem a realisar, impl?ca por isso mesmo uma finalidade.
O typo ? realisado na serie, n?o ? um producto d'ella: pois, se fosse um producto, como se explicaria a serie? Quem diz evolu??o diz progresso. Ora, progresso que n?o tende para cousa alguma, que n?o tem um typo e um fim, n?o se comprehende. Se n?o ha typo, n?o ha medida ou termo de compara??o na serie, n?o ha, por conseguinte, hierarchia: ha variedade de formas parallelas e equivalentes; mas n?o desenvolvimento.
No meio d'essa multid?o de formas inexpressivas, tudo ser? igualmente perfeito ou imperfeito: haver? ainda transformismo; mas n?o haver? evolu??o progressiva.
? assim que o ultimo capitulo do livro do snr. Vianna de Lima deita por terra a doutrina estabelecida laboriosamente nos que o precedem. ? assim que metade da doutrina de Haeckel deita por terra a outra metade. ? assim que uma philosophia da natureza que pertende n?o ser uma philosophia especulativa, acaba por n?o ser cousa alguma.
Que concluiremos de toda esta critica? Concluiremos em primeiro logar, que os naturalistas, quando n?o s?o ao mesmo tempo philosophos, n?o podem construir uma philosophia da natureza que se sustenha de p?. Concluiremos, em segundo logar, que n?o p?de haver, por muito que se apregoe, philosophia da natureza positiva , assim como em geral n?o p?de haver philosophia positiva. O erro commum em que laboram os positivistas das differentes communh?es ? este: que o conhecimento scientifico ? o typo do conhecimento, o conhecimento ultimo e perfeito; e que, por conseguinte, esgotando o ponto de vista scientifico a comprehens?o da realidade, basta reunir em quadro as conclus?es de todas as sciencias, ou generalisar as ideias fundamentaes communs a todas ellas para se obter a mais alta comprehens?o das cousas, a que nos ? dado aspirar. D'aqui a chimera d'uma philosophia positiva.
Pretender amputar a raz?o ? pretender amputar a realidade.
? dentro da raz?o, n?o f?ra d'ella, que teem de ser marcados os limites do conhecimento. S? no ponto de vista total da raz?o se resolvem as contradic??es que a realidade apresenta, como outras tantas esphinges ? intelligencia indagad?ra.
Materia e espirito, determinismo e liberdade, evolu??o e finalidade, n?o s?o ideias contradictorias sen?o na apparencia: de facto, s?o s? duas espheras differentes da comprehens?o, these e antithese, cuja synthese ? a raz?o.
Assim, uma philosophia da natureza, tal como a concebo, uma philosophia da natureza ? altura, n?o s? do grande seculo das sciencias naturaes, mas do grande seculo de Kant e Hegel, n?o tem que regeitar o determinismo universal e a evolu??o como uma forma mechanica d'esse determinismo: mas o que n?o p?de ? ficar ahi.
Determinismo e evolu??o ser?o apenas o seu ponto de partida, a forma universal da phenomenalidade, que a generalisa??o scientifica lhe fornece e que ella, a philosophia, ter? d'analysar e interpretar ? luz das ideias. S? assim ter? satisfeito n?o s? ? ras?o especulativa, mas ?s exigencias n?o menos imperiosas da consciencia humana.
Digo da consciencia humana; e ? este um outro aspecto, e aspecto capital da quest?o que ? necessario por em evidencia. Muitos dir?o:--que tem que ver a philosophia com a consciencia humana? Responder-lhes-hei:--tem tudo. Por uma singular aberra??o, s?o justamente os que mais falam de positivismo e factos positivos os que parecem esquecer ou ignorar que a consciencia humana ? um facto, que a sua actividade, expressa e objectivada em milhares de manifesta??es, desde os codigos at? ? poesia, e atravez de milhares d'annos, constitue uma ordem de factos t?o positivos e t?o irrecusaveis como os da physica ou da astronomia. E estes factos n?o s?o s? positivos e evidentes: s?o ainda culminantes, pois os phenomenos sociaes e moraes, tendo atraz de si todas as outras ordens de phenomenos e apoiando-se n'ellas, constituem o ponto mais alto da serie evolutiva das cousas.
Os factos da consciencia humana s?o, pois, n?o s? factos positivos, mas os factos positivos culminantes.
Ora que diriamos d'uma philosophia, que n?o podesse explicar, mais, que estivesse em contradic??o com os factos da physica, por exemplo, ou de chimica? Diriamos ser uma philosophia n?o s? incompleta, mas falsa. E que pensaremos ent?o d'uma philosophia, que n?o s? consegue explicar, mas est? em flagrante contradic??o com factos t?o positivos como aquelles, e, alem de positivos, superiores e culminantes?
A consciencia humana ?, pois, verdadeiramente um criterio philosophico, n'este sentido que uma philosophia incapaz de explicar satisfactoriamente os phenomenos da consciencia, ou em contradic??o com elles, ? uma philosophia incompleta, ou errada, por deixar de f?ra, ou contradizer, uma parte e justamente a parte mais importante da realidade.
Este criterio bastaria s? por si para condemnar toda a philosophia puramente materialista, sob qualquer forma em que se apresente:--mecanismo atomico, determinismo scientifico, monismo ou pantheismo naturalista. Sob qualquer destas formas, o materealismo envolve, o que ? a sua essencia, a reduc??o de toda a ordem de phenomenos a for?as elementares, sujeitas a uma determina??o cega, mechanica e sem fim intelligivel: envolve a nega??o de todo o elemento racional nas cousas, reduzindo ao mesmo tempo as affirma??es da consciencia a puras illus?es subjectivas.
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