Read Ebook: A philosophia da natureza dos naturalistas by Quental Antero De
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Ebook has 69 lines and 9706 words, and 2 pages
Este criterio bastaria s? por si para condemnar toda a philosophia puramente materialista, sob qualquer forma em que se apresente:--mecanismo atomico, determinismo scientifico, monismo ou pantheismo naturalista. Sob qualquer destas formas, o materealismo envolve, o que ? a sua essencia, a reduc??o de toda a ordem de phenomenos a for?as elementares, sujeitas a uma determina??o cega, mechanica e sem fim intelligivel: envolve a nega??o de todo o elemento racional nas cousas, reduzindo ao mesmo tempo as affirma??es da consciencia a puras illus?es subjectivas.
A critica do materialismo, n'este ultimo ponto de vista, tem sido mil vezes feita e n?o preciso reproduzil-a aqui.
O que quero ? fazer sentir quanto o monismo evolucionista da escola de Haeckel cuja maior pretens?o ? ser uma philosophia positiva da natureza, ainda por este lado n?o ? positivo, por n?o poder explicar uma ordem inteira e a mais importante dos factos do universo.
Declarar que a liberdade e o sentimento moral s?o meras illus?es subjectivas, e que os mais intimos e mais autonomos phenomenos da consciencia resultam apenas d'ac??es mechanicas e s?o a transforma??o d'essas ac??es--? facil. Agora o que n?o ? facil, porque ? simplesmente impossivel, ? explicar e fazer comprehender como ? que o movimento, um grupo de movimentos por mais complexo que o supponhamos, pode produzir, n?o j? os factos superiores da vida do pensamento, mas o mais elementar, a simples sensa??o? Deante d'esta simples pergunta desaba todo o edificio do monismo. A vida moral n?o ? cousa que se decomponha em retortas, nem se descobrir? j?mais o equivalente mechanico do genio ou da virtude:
QUINTO ARTIGO
Pretenderei eu accaso com esta critica, contestar o valor dos trabalhos da escola monista, ou ainda a sua importancia philosophica?
De modo algum.
O que eu contesto ? o valor do seu systema, como systema, o que eu censuro ? a pretens?o de fundar uma philosophia da natureza com a simples generalisa??o dos dados d'um grupo de sciencias, e sem ter em conta o indispensavel criterio das ideias. Mas abstrahindo d'estas pretens?es, a tentativa de Haeckel, considerada em si, tem um alto valor. Tem-no, sobre tudo, como symptoma da tendencia, que cada vez mais se manifesta na esphera da sciencia para uma unidade de comprehens?o, que assentando rigorosamente no terreno scientifico, saia ao mesmo tempo da analyse e abstrac??o inherententes ? sciencia, procurando como formula, uma ideia de caracter synthetico, isto ?, uma ideia propriamente philosophica.
Esta tendencia ? sem duvida alguma, o facto intellectual mais importante do seculo actual e um d'aquelles em que mais se traduz d'um lado, a influencia d'ora em deante cada vez mais predominante do criticismo de Kant, e do outro, a fei??o eminentemente positivista do espirito moderno. Se uma philosophia positiva ? e ser? sempre, como j? mostrei, uma chimera, a ac??o e authoridade directa da sciencia na philosophia ser? d'aqui em deante um facto que tem de se impor a todos os pensadores.
Com effeito s?o mais fundas as suas raizes, mais longiqua a sua procedencia.
A doutrina da evolu??o ? apenas uma das determina??es, a mais recente e porisso a mais intensa, e intima, do naturalismo moderno.
E convir? notar que o seu apparecimento ? simultaneo na astronomia, na geologia, na biologia, na linguistica e na historia: Lamarck, Laplace, Werner, Goethe, Geoffroy Sainte-Hilaire, Herder, Saint-Simon, Bopp, Adelung, s?o contemporaneos, ou proximamente contemporaneos.
O evolucionismo dentro das sciencias da natureza n?o ? mais do que a applica??o a uma ordem de factos do principio fundamental do pensamento moderno, uma das suas determina??es particulares.
Mas esse principio ? uma hypothese geral e, como todas ideas syntheticas, um resultado da especula??o, n?o ? um facto positivo. Se apparece no dominio das sciencias, ? como hypothese philosophica, n?o como lei scientifica. Se as sciencias da natureza e da sociedade convergem hoje no sentido da evolu??o, convergem movidas pelo influxo intimo do estado mental-metaphysico que as envolve, n?o pela for?a exclusiva e independente do seu desenvolvimento proprio. N?o ha, como se pretende, a elimina??o do elemento metaphysico pelo elemento scientifico: ha uma mutua penetra??o; penetra??o da especula??o na sciencia, pela hypothese que a vem fecundar; penetra??o da sciencia na especula??o, pelo correctivo imposto, em nome da realidade, dos factos positivos, ao ?-priorismo inherente ao pensamento especulativo.
E ? por isso que o concurso da sciencia e da especula??o ? indispensavel para a constitui??o definitiva da philosophia moderna , para a organisa??o systematica do pensamento moderno em todas as suas determina??es.
FIM
TYPOGRAPHIA DO CAMPE?O POPULAR
Rua da Gra?a n.^o 15--Ponta Delgada
Ali?s de Iena.
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