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Read Ebook: Vamiré: Romance dos tempos primitivos by Rosny J H A N Figueiredo C Ndido De Translator

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Ebook has 649 lines and 27222 words, and 13 pages

is que preferem a proximidade dos espa?os livres, pela pr?pria natureza do terreno, Vamir? p?de pressentir o bom ?xito da sua empresa.

Dois dias depois, haviam desaparecido as suas ?ltimas duvidas. A margem esquerda mostrou-lhe velhas estepes, ligeiramente arborizadas, e onde as ?rvores se disseminavam muito.

Ao meio do sexag?simo oitavo dia, amarrou a canoa numa calheta escolhida, armou-se com as zagaias e a clava, e empreendeu uma excurs?o a p?, para o lado do Ocidente.

O solo era firme; as gram?neas e as pl?ntulas predominavam, cada vez mais, entre as ?rvores.

Depois de algumas horas, Vamir? chegou acima de um outeiro, de onde avistava um amplo horizonte. Ao Norte, uma perspectiva verde, viol?cea, atrigueirada, a floresta-oceano, por onde se escoavam os encantos da luz, onde a vida se alastrava em expans?es in?meras e subtis. Ao Sul, a inclina??o das estepes, entrecortadas de o?sis, a perspectiva de uma regi?o de ca?a e transito livre, o novo pais que Vamir? desejava conhecer, e cuja apari??o lhe encheu triunfalmente o peito.

Rindo consigo, pensava na surpresa dos Pzanns, na satisfa??o de Zom e de Namir, quando lhes contasse a sua viagem.

Ficou ext?tico, por muito tempo, sobre a colina. Mas o firmamento, por cima dele, tornou-se ardente. Juntaram-se grossas nuvens, carbunculosas, orladas de fosforesc?ncias. Um sopro angustioso, girat?rio, ascensional, comprimia as plantas; os raios ca?ram majestosamente sobre a floresta.

Vamir? gostou da tempestade; o seu organismo absorveu a for?a e o movimento dela, t?o acordes com o estado da sua alma. Quando se despenhavam as ?guas do c?u, Vamir? desnudou os ombros e recebeu com voluptuosidade a fresca inunda??o.

Calmou-se entretanto a tormenta, esfarrapados os nimbos, bebidos pela tepidez firmamental, desfeitos pelos choques el?ctricos. Apenas as gram?neas guardavam a humidade fluvial: a terra ?vida tudo absorvera.

Depois da chuva, Vamir? marchou deliciado para a paisagem. Os ?ltimos vest?gios silvestres tinham-se desvanecido. Nada havia j?, se n?o estepes imensas, entrecortadas de verdes maci?os.

As nuvens disseminadas desmanchavam-se em peda?os ef?meros adiante do sol, e uma ligeira sombra, de instante a instante, refrescava as perspectivas.

Ia chegando a noite. ? hora do crep?sculo, Vamir?, parou ? beira de um o?sis e passou ali a noite. No outro dia, prosseguiu na marcha, resolvido, se n?o sobreviesse alguma aventura, a regressar, visto como havia descoberto o que desejava: novas terras de ca?a.

Pegadas de uros, de aurocos, de veados, de cavalos, convenceram-no da fecundidade do terreno, e projectou uma grande expedi??o de mo?os Pzanns, para o ano seguinte. Mas, ao segundo ter?o daquele dia, ocorreu uma aventura importante.

Foi durante uma paragem, quando o n?mada acabava de comer um par de codornizes, ca?adas durante a marcha. Abrigado sob umas figueiras silvestres, viu aproximar-se uma mulher.

Vinha vestida de fibras vegetais, entretecidas de gram?neas da plan?cie.

Vamir? encobria-se; a onda que nele se agitava, do cora??o ao c?rebro, traduzia ansiedade e satisfa??o.

A certeza de que ela era mo?a demonstrava-se n?o s? ao simples aspecto, ? propor??o que ela se aproximava, mas tamb?m pela cad?ncia do andar e pela flex?vel vacila??o das ancas.

Quando ela chegou a trinta passos, viu-se que atingia apenas a puberdade, mimosa virgem de grandes olhos, surpreendendo Vamir? pela dissemelhan?a com a rapariga vulgar da Europa, de cr?nio alongado e complei??o robusta.

O seu rosto, um pouco redondo, p?lido como as nuvens primaverais, os seus cabelos iguais ? mel?nia dos lagos em noites sem estrelas, a sua cintura breve, mais compar?vel ? circunfer?ncia dos freixos que ? dos choupos, e o porte da sua figura, e a forma dos seus l?bios e da sua fronte, e o talho das suas p?lpebras, tudo lembrava a ra?a long?nqua, a humanidade que se engrandecera, ap?s milhares de s?culos sem contacto com as hordas n?madas do Ocidente.

Vamir?,--da mesma forma que o herb?voro, estranho desde s?culos ?s regi?es bravias, guarda o instinto at?vico de reconhecer o grande tigre,--Vamir? percebia a dist?ncia entre o seu organismo e o da adolescente. Previu coisas inteiramente novas naquele recanto do mundo, aonde o levara um capricho seu; e esta presci?ncia do desconhecido abalou-o. Hesitava o n?mada em assaltar aquela presa de amor, e uma horripila??o atravessava-lhe as fibras, como a aproxima??o de uma tempestade nos nervos de um p?ssaro. Mas na sua imagina??o b?rbara, agitada por um sangue el?ctrico e por todo o amor de Maio, a estrangeira pareceu infinitamente apetitosa.

Filho da arte, propenso ? voluptuosidade dos contrastes, sentiu-se atra?do pelos longos c?lios de frouxel negro, pelo andar oscilante, pela precis?o dos contornos, pela encantadora viveza das pupilas, e resolveu-se.

Mas, enquanto hesitava, a viandante abeirou-se do o?sis. Vamir? levantou-se de um salto, com a rapidez de um garanh?o.

Sentindo rumor e voltando-se, a virgem viu chegar Vamir?. Assombrada e gritando plangentemente, tentou fugir. Pisava as grandes ervas, correndo ligeira, mas sem esperan?a de escapar ao formid?vel ca?ador, e por duas ou tr?s vezes procurou ladear, encobrindo-se com as moitas, tomando por tangentes. Vamir? perseguia-a, cada vez de mais perto, retardado simplesmente pelo prazer de ver flutuar os cabelos da fugitiva e requebrar-se seu tenro corpo em curvas tentadoras. A virgem sentiu-o enfim junto de si, e na cabe?a o h?lito do ca?ador.

Parou e voltou-se. Com o susto a reflectir-se nas pupilas, e o peito turgescente sob as fibras do vestu?rio, ergueu os bra?os suplicante, em meio de uma caudal de palavras confusas.

O n?mada ficou im?vel diante dela, convencido da impossibilidade de compreender aquela linguagem, mais r?pida e mais sonora que a sua. Mas a linguagem da natureza, o terror impresso nos l?bios e nas p?lpebras da desconhecida, moveram-no ? piedade. Menos vivas e mais profundas, percorreram-lhe o organismo novas impress?es, esbo?o de poema selvagem e retraimento de brutalidades voluptuosas diante da ternura.

Teria ela a compreens?o, o instinto sequer, do seu triunfo sobre o grande ocidental de cabelos claros?

Menos tremula, continuou a murmurar silabas, mescladas de uma indecisa mal?cia. Vamir? tentou responder, significar-lhe que n?o queria fazer-lhe mal. Mas os seus gestos de estatu?rio eram novos para ela, que os observava atentamente. Filha de ra?as n?o pl?sticas, de ra?as cultuais, n?o compreendia sen?o movimentos amplos e mon?tonos, distantes da natureza. Mas ainda mais que pelos gestos, pareceu surpreendida quando Vamir?, desprendendo um dos seus enfeites de marfim, lho ofereceu: n?o sem desconfian?a, a virgem contemplou as linhas gravadas na pequena l?mina,--a corrida de um uro, perseguido por uma fera,--e pegava no artefacto em sentido contr?rio sem o compreender. O n?mada, sorrindo, p?s-se a indicar a direc??o dos tra?os, a representar o desenho por gestos, perturbando-a ainda mais.

Entretanto, os olhos e as interjei??es de Vamir? iam-na tranquilizando a pouco e pouco.

A desconhecida j? sorria tamb?m. Ent?o, cheio de alegria, Vamir? p?s-lhe a m?o no ombro. Ela recuou, voltando ? desconfian?a.

--Vamir? ? bom!--murmurou ele.

De repente, a desconhecida, estendendo os olhos pelo horizonte, deu um salto e bateu as m?os. Vamir?, seguindo-lhe a direc??o do olhar, viu, contrariado, aproximar-se, correndo, um grupo de homens, enquanto ela, com um gesto, um tanto travesso, fazia sinal ao n?mada para que fugisse.

Vamir?, crispando as m?os, tacteava as suas armas e contava os sobrevindos, que eram doze, armados de grandes arcos e lan?as.

Diante da impossibilidade da luta, deixou-se possuir de uma desespera??o de id?lio frustrado e de orgulho ferido.

--Vamir? n?o tem medo,--disse ele altivamente. E, como a estrangeira se ia afastando, seguiu-a e segurou-a por um bra?o. Ela debatia-se, gritando alto. Irritado, Vamir? apertou-a contra si e levantou-a.

Aterrada por ver que era leve como uma cabrinha sobre o peito do n?mada, defendeu-se sem viol?ncia, timidamente.

N?o obstante o fardo, Vamir? tomou caminho, e p?s-se a correr, com uma velocidade surpreendente, excitado pelo grito dos que o perseguiam, e, pelo menos nos primeiros minutos, foi ele o vitorioso.

Os que lhe iam na cola, membrudos, e de ra?a menos encorpada que a dele, n?o pareciam perseguidores de presas, homens de jarretes de fera, como os dolicoc?falos ocidentais.

?geis contudo, n?o cansariam t?o depressa como Vamir?, a menos que este n?o abandonasse o fardo. Mas ele n?o pensava nisso, dominado pelo seu temperamento de lutador.

Vamir? corria para leste, para a margem onde deixara a canoa. Supondo-se mesmo que mantivesse a sua velocidade, n?o poderia chegar l? antes de metade de um dia, muito depois do crep?sculo, depois que a lua estivesse no z?nite.

Passados alguns minutos, a donzela deixou de se defender. Mulher afinal, levada por um homem que a n?o tratava severamente, come?ou a sentir uma vaga curiosidade, deixando descansar a cabe?a e a parte superior do peito no ombro de Vamir?.

Ao longe, na plan?cie, via os homens da sua tribo, distinguia-lhes os gestos. Armados de grandes arcos e lan?as velozes, cobertos de mantos tecidos com fibras de plantas e l? de animais, eram por ela confusamente cotejados com Vamir?, vestido com a pele do espeleu e armado de clava e zagaia; desejaria sem duvida que eles triunfassem, e contudo desejaria tamb?m salvar a vida do seu raptador. Uns longes de vaidade, a impress?o feminina de que a viol?ncia do homem n?o era uma injuria, a for?a de Vamir?, a atrac??o do desconhecido, todas estas coisas vagueavam no seu esp?rito semib?rbaro, n?o permitindo a fixidez de um desejo.

Decorreu uma hora de terr?vel correria, em que Vamir? aumentou sempre a dianteira que tomara.

Mais suave, mais inclinada, a luz cobria de ?mbar a plan?cie, e a sombra do ca?ador e da sua presa galopava, projectando-se imensa para leste.

Voltando-se subitamente, Vamir? n?o viu os perseguidores. Subiu a um mont?culo e avistou-os a mais de quinhentos c?bitos. Abriu os l?bios num sorriso triunfal e gritou:

--E?! E?!

E, voltando-se para a virgem:

--Vamir? ? o mais forte!--

Ela voltava a cabe?a, ofendida por aquele sorriso e por aquele grito. O ca?ador sentou-a, e ficaram em sil?ncio por minutos.

A respira??o de Vamir?, rouca e desagrad?vel pouco antes, foi-se regularizando; o peito arquejava-lhe mais r?tmico.

O n?mada murmurou ent?o algumas palavras. Ela abriu os olhos, e o seu olhar encontrou o dele. O olhar de Vamir? era sereno e terno. Ela encrespou as p?lpebras, deixando ler no rosto uma temeridade feminina, maliciosa, desdenhosa.

Vamir? inquietava-se e encantava-se com isso: achava-a assim mais am?vel, e repetia, com menor convic??o:

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