Read Ebook: O Oraculo do Passado do presente e do Futuro (6/7) Parte Sexta: O oraculo da Magica by Serrano Bento
Font size:
Background color:
Text color:
Add to tbrJar First Page Next Page Prev Page
Ebook has 548 lines and 24968 words, and 11 pages
--Uma sacca de dinheiro.
O an?o perguntou-lhe:
--Ent?o j? sabes o que isso ?? Que queres fazer com o dinheiro?
Thom? respondeu um pouco animado:
--Em lugar da nossa choupana, fazia uma casa grande, muito grande, ainda maior que ? na aldeia a casa do monteiro; e uma cavallari?a cheia de bellos cavallos em que eu podesse correr, quando tudo estivesse cheio de neve; e comprava ? Joanninha um vestido novo, e um barril de azeite para n?o estarmos ?s escuras.
--E que mais? disse o an?o sorrindo; has-de fazer uma casa, mas n?o n'este escuro bosque; andar?s por f?ra da tua terra, mas para isso n?o precisas de cavallo; Joanninha poder? ter o vestido novo sem ser dado por ti, e quando quizeres ter azeite bastante, vai com a tua cestinha ? pedreira onde achar?s com que fa?as azeite sufficiente para arder no candieiro em dous annos. Entendo que a sacca de dinheiro n?o te serve de nada; ainda ?s muito pequeno.
--Ah, disse Thom? desanimado, a nossa vida n?o seria t?o miseravel e t?o aborrecida nas grandes noites de inverno, se tivessemos algum bonito livro de estampas.
--L? isso, disse o an?o, ? cousa que p?de ter bom remedio; vai descan?ado que depois da noite do Natal irei ter comtigo e cuidarei no modo de nunca mais te parecerem longas as noites de inverno. Alegra-te, os an?es sabem pagar o bem que lhes fazem.
O an?o desappareceu, Thom? ficou a tremer, e foi-se embora muito mais inquieto do que tinha sahido. Sem que ninguem ouvisse, levantou a aldrava de pau, entrou em casa, foi ao seu quarto, deitou-se, e toda a noite sonhou com o an?o. N?o quiz dizer nada a Joanninha, porque elle mesmo n?o sabia bem o que o an?o faria, apesar de esperar com anciedade a chegada do Natal.
Chegou a noite de Natal, e n?o faltava alegria na cabaninha da floresta. O pai tinha trazido da aldeia grande quantidade de ma?ans e de nozes, a av? tinha dado aos pequenos duas bonitas estampas que ainda achou na sua Biblia, e na manh? do dia de festa, chegou a criada da senhora do monteiro, que era madrinha de Thom? e de Joanninha, e trouxe dous bonitos cora??es de p?o doce, um lindo gib?o novo para Joanninha, e uma jaqueta bem forrada e quente para Thom?. O pai n?o sahiu de casa e cozinhou uma lebre. Havia muito tempo que elles n?o tinham vivido t?o bem; mas Thom? n?o estava t?o contente como nos outros annos, porque n?o sabia se o melhor ainda havia de vir.
Veio a noite e todos adormeceram, menos Thom? que se assentou na cama vestido, e pensava no que poderia trazer-lhe o seu novo amigo para passar o tempo enfadonho do sombrio inverno, quando ouviu bater de leve ? porta de casa. Com algum susto e temor, mas a toda a pressa saltou da cama, e abriu ao homem pequenino vestido de verde, que n?o levava nada comsigo sen?o um vidro redondo, muito brilhante e de muitas c?res.
--Leva-me ao teu quarto, disse o an?o, entrando e andando mais ligeiro do que Thom?.
Foram ao quarto de dormir em que se via tudo claramenteetosta keskell? varmin dava. O que l? se via era um leito velho, uma mesa manca com tres p?s, e duas cadeiras. O traste maior era uma alta e larga caixa, mettida na parede, ennegrecida pelo tempo, e que muitas vezes tinha sido um bom lugar para o jogo das escondidas. Nas costas da caixa havia um grande buraco redondo por onde Joanninha tinha medo de espreitar porque via tudo escuro.
Esta caixa foi o que deu mais nos olhos ao an?o, que entrou n'ella pela tampa meio aberta e esteve a trabalhar e a bater l? dentro algum, tempo.
--Agora, disse elle, depois que sahiu, j? n?o haveis de passar o tempo com aborrecimento; quando as horas parecerem muito compridas, olhem pelo buraco redondo que est? na caixa, seja de manh? ou seja de tarde, quando estejam s?s. Adeus, rapaz; Deus te d? da sua gra?a.
--E antes de Thom? saber o que havia de novo, j? o an?o tinha sahido. Thom? n?o entendeu bem o que tudo aquillo queria dizer, e n?o se atreveu a ir logo v?r ? caixa. Foi deitar-se ao p? de seu pai, e pensando e scismando se o an?o fallaria seriamente ou a gracejar, adormeceu.
Na manh? seguinte o pai sahiu cedo, e Thom? n?o p?de calar-se, e ao p? da surda av? contou baixinho ? irm? toda a sua aventura, de que ella se riu sem lhe dar credito, mas tremendo de susto. Por fim resolveu-a a ir de tarde com elle fazer a primeira visita ? caixa, e como esperavam alguma cousa, n?o souberam n'esse dia o que era aborrecimento.
? noite, ainda o pai n?o tinha entrado e a av? cabeceava com somno, quando ambos se metteram na caixa cheios de anciedade. Thom?, que era mais animoso, foi o primeiro que olhou pelo buraco onde brilhava o vidro do an?o. Ah! que resplendor lhe veio bater nos olhos! Puxou logo Joanninha para si, porque a abertura era bastante larga para poderem v?r ambos ao mesmo tempo. Eram maravilhas o que elles viam, e mal se podiam conter para n?o darem altos gritos de espanto. Viam uma grande sala, muito grande, alumiada de um modo magestoso por lustres dourados, com muitos centos de velas de c?res. E uma mesa estava carregada com as cousas mais maravilhosas: soldados, de p? e de cavallo, regimentos inteiros com pe?as e armas, e uma cavallari?a cheia de cavallos pequenos de todas as ra?as, e livros com ricas pinturas, e uma grande quantidade de objectos de brinquedo, que elles nunca tinham visto, e pequenas esporas de prata, e uma espingarda e espada, e um soberbo vestuario de velludo bordado a ouro. Todas estas cousas magnificas estavam dispostas sobre a mesa na melhor ordem, e ao p? havia a?afatinhos e pratos com os d?ces mais finos.
--Ah, de quem ser? isto! disseram os dous irm?os suspirando.
A porta abriu-se, e entrou um rapaz esguio e pallido, que teria dez annos, e atraz d'elle muitas senhoras e homens da nobreza vistosamente vestidos. Thom? e Joanninha pensavam que aquellas riquezas deviam pertencer a muitos meninos, e olhavam para todos os que iam entrando na sala; mas n?o havia outro menino sen?o o que entrou primeiro, e que passou por todas aquellas cousas t?o ricas sem fazer muito caso d'ellas, em quanto que Thom? e Joanninha pregavam no vidro os olhos afogueados e parecia que queriam devorar todas aquellas maravilhas.
--Rapazes, onde estaes v?s? gritou f?ra a voz da av?.
Voltaram a cabe?a assustados, e viram tudo ?s escuras, como era nos outros dias, e a velha caixa estava sem luz como se nada tivesse acontecido. Aos dous irm?os ainda parecia tudo um sonho quando se assentaram ao p? do candieiro no quarto velho e defumado. N'essa noite chegaram a sentir quasi alegria por a av? ser surda, porque podiam fallar ? vontade nas maravilhas que viram, e a cada um lembrava alguma cousa muito bonita em que o outro n?o tinha reparado.
--Ai, diziam elles suspirando, que boas cousas tem aquelle menino fidalgo! Se n?s tambem tivessemos cousas assim!
E ainda diziam o mesmo quando o somno lhes fechou os olhos, para ainda lhes mostrar em sonho tanta grandeza.
Antes de ser bem dia, foi Joanninha ? sala da caixa. O pai n?o estava em casa, e por isso podiam ? vontade ir olhar pelo vidro maravilhoso. Como elles desejavam ver ainda uma vez a bella sala de hontem! Agora era ? luz clara do dia, mas, era quasi t?o bonito como com os centos de luzes de c?r: ainda havia todas as cousas ricas de hontem, mas n?o estavam em t?o boa ordem, o menino que tinham visto estava vestido de s?da deitado sobre o soph?, com alguns dos bonitos livros espalhados de redor d'elle, e parecia estar muito aborrecido.
Quando Thom? e Joanninha se mostravam admirados de que podesse haver alguem que n?o estivesse contente com t?o maravilhosas cousas, abriu-se uma porta da sala, e entrou um senhor de idade. Os meninos ouviram fallar como muito ao longe, mas entendiam bem o que se dizia. O velho perguntou:
--J? est? enfastiado, meu caro principe, de tantas cousas que fariam felizes outros meninos?
--Outros meninos! disse o principe; os outros meninos n?o est?o s?s, e eu j? vi todas as minhas cousas que me deram.
--Mas vossa alteza bem sabe que se lhe d? companhia quando a quer ter.
--Que companhia! Vem um, e diz: <
--Mas se vossa alteza quer, p?de ir passear ou viajar
--Ah, sim, ir passear na sua companhia, ou andar em carro ou a cavallo acompanhado por camaristas. Que grande alegria! o que quizera era ir s? e para onde me parecesse. Antes queria ser filho de ciganos do que principe.
Antes que Thom? e Joanninha podessem ouvir mais nada, chamou por elles a av?. Sahiram da caixa e o buraco ficou ?s escuras.
Muito tinham os dous irm?os que dizer um ao outro! O que elles n?o podiam entender era porque estava o principe t?o impertinente.
--Ah, como n?s estariamos contentes com aquellas cousas t?o bonitas! dizia Thom? suspirando.
--Sim, mas n?s n?o estamos s?s, dizia Joanninha.
--? verdade que os meninos ricos quando n?o est?o s?s, tambem est?o contentes, dizia Thom? para si.
--Havemos de v?r, dizia Joanninha, se o principe ainda l? est? hoje ? noite.
Com grande alegria passaram elles todo o dia a conversar, e a anciedade n?o podia ser maior quando outra vez olharam pelo vidro.
J? n?o era a sala, mas sim um bosque, quasi como aquelle em que elles moravam, e havia no bosque um grande peda?o de terreno sem arvores onde ardia uma fogueira; em que estava estendida uma bella pe?a de ca?a brava, e de redor da fogueira muita gente esfarrapada e enfarruscada, e alguns tocadores de instrumentos que tocavam uma musica alegre, e uma multid?o de crean?as que dan?avam e saltavam com uma alegria de selvagens.
--Ah, isto ? muito divertido, dizia Thom?.
Mas Joanninha abanava a cabe?a porque n?o lhe agradava o que via. Um rapaz d'aquelles ciganos chegou com um grande sacco cheio de fructas seccas, e todos os pequenos o receberam com gritos de alegria, e elle despejou o sacco no ch?o. Todos se atiraram ?s fructas seccas como quem tinha fome e comeram a bom comer. Depois come?aram outra vez a saltar e a cantar desentoados, e Thom? come?ava a sentir desejos de tambem ir saltar com elles, quando o pai que chegava de fora os chamou para o quarto.
Toda a noute teve Thom? os ciganos na imagina??o, de maneira que deu cuidado a Joanninha que pensava que Thom? podia muito bem sahir de casa de noite e fugir para os ciganos. Mesmo a dormir cantava Thom? o que tinha ouvido tocar aos ciganos.
Muito cedo, antes de acordar o pai, foi Thom? olhar pelo vidro, sem esperar por Joanninha, que s? passado algum tempo ? que foi ter com elle. O que viram era ainda o verde prado do bosque, mas j? n?o havia festa. Era de manh?, a fogueira estava apagada, e os ciganos corriam para todos os lados muito afflictos e desvairados. Chegaram soldados e todo aquelle barulho e desordem acabou pela pris?o dos ciganos que eram accusados de roubos. Com agudos gritos viram os pequenos dos ciganos que os soldados levavam ? for?a seus pais e suas m?is, e que outros soldados os levavam a elles para outra parte. Thom? e Joanninha n?o tiveram animo para v?r mais e desviaram os olhos do vidro. Joanninha disse depois a Thom?:
--Ainda querias ser filho de cigano para ter aquella vida livre que elles tem?
--? verdade, disse Thom? desanimado, quem rouba n?o pode ter uma vida livre.
--Os meninos ricos, tornou Joanninha, de certo passariam melhor vida, se n?o vivessem t?o s?sinhos como o principe.
? noite n?o poderam ir para a caixa das vistas maravilhosas porque a av? nunca lhes deu tempo de sahirem da cozinha, e o pai foi para casa muito cedo. Por isso ainda mais desejavam que chegasse a occasi?o de poderem l? tornar.
Quando essa occasi?o chegou, viram um quarto muito bonito, n?o t?o admiravel como a sala do principe, mas muito mais bonito do que o quarto da madrinha, com alcatifas de varias c?res e bellos quadros nas paredes. O quarto estava cheio de lindas cousas para brincarem meninos e meninas. Um bonito quarto de bonecas, com senhoras e senhores muito bem vestidos, com soph?s, cadeiras e caminhas pequenas, e uma cozinha cheia de lou?as brancas, panellas e pratos, muito mais do que havia na cozinha da av?; bonecas pequenas e grandes, quasi da altura de Joanninha, ber?os e cadeirinhas; e de outro lado um castello com soldados, e uma loja muito enfeitada com uvas seccas, amendoas, confeitos e figos, e um carro com bah?s e saccos, e lindos livros de estampas; em uma palavra, eram quasi tantas cousas como tinha o principe. Thom? e Joanninha n?o cabiam em si de contentamento e admira??o.
Ent?o entraram no quarto os donos de todas aquellas riquezas, que eram duas meninas e um menino. Parecia que vinham de passear. As meninas correram para as bonecas e o menino para a loja. Uma foi com um dinheiro pequenino e brilhante comprar d?ces ao irm?o, a outra come?ou a vestir as suas bonecas de uma caixinha cheia de ricos vestidos e chapelinhos.
Ah, como ficaram tristes Thom? e Joanninha quando a av? os chamou para a ceia, e como sonhavam, a dormir e acordados, com aquellas bonitas cousas, e como correram na manh? seguinte ? caixa para continuarem a v?r como eram felizes os tres irm?os!
Add to tbrJar First Page Next Page Prev Page