Read Ebook: Scenas da Roça: Poema de costumes nacionaes by Corr A Ant Nio
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Ebook has 258 lines and 17090 words, and 6 pages
A. CORR?A
SCENAS DA RO?A
POEMA DE COSTUMES NACIONAES
RIO DE JANEIRO TYP. DA GAZETA DE NOTICIAS 72 RUA SETE DE SETEMBRO 72 1879
SCENAS DA RO?A
A. CORR?A
SCENAS DA RO?A
POEMA DE COSTUMES NACIONAES
RIO DE JANEIRO TYP. DA GAZETA DE NOTICIAS 72 RUA SETE DE SETEMBRO 72 1879
AO MEU LIVRO
Vae, filho, j? tens idade, j? ficaste emancipado; precisas correr o mundo, saber de tudo um bocado. Vae, filho, mas s? prudente, ouve os conselhos de gente que puder te aconselhar; s? modesto e delicado... em fallar pouco e acertado ha sempre muito a ganhar.
Se alguma gloria colheres, n?o te ufanes sem raz?o: ?s vezes ouve-se um tolo por m?ra contempla??o. Escuta os indifferentes. Os amigos e os parentes n?o dizem toda a verdade. Agora, no teu caminho, n?o te basta o meu carinho nem toda a minha amizade.
Se ouvires phrases sensatas, presta-lhes toda a atten??o; a tolos n?o d?s ouvidos nem provoques discuss?o. Respeita as cren?as alheias; mas guarda as tuas id?as e corrige os teus defeitos. Na escola da sociedade, estuda, aprende a verdade nas phrases de seus eleitos.
Vae, filho, Deus te acompanhe. Das letras no vasto mundo bem poucos b?iam ? t?na, grande parte vai ao fundo. Ai! neste momento extremo ? por ti, filho, que eu tremo! attende aos conselhos meus... J? s?o horas da partida; comtigo vae minha vida, mas parte... vae... filho, adeus.
CANTO PRIMEIRO
Ha quem diga que a franceza ? a mulher por excellencia; mil outros d?o preferencia aos requebros da hespanhola: dizem que ella prende e mata quando a melena desata e no fandango arrebata ao trinar da castanhola.
As bellas filhas da Italia tem milh?es de adoradores, l? na patria dos amores quem d? leis ? o cora??o. ? tudo vida, alegria, feixes de luz, de harmonia, ondula em torno a poesia nesse mar da inspira??o.
Eu acho a todas bonitas quando de veras o s?o, quer sejam do Indost?o, d'Allemanha, Italia ou Fran?a; mas p'ra mim a brazileira d'entre todas ? a primeira: ? gentil, ? feiticeira como um sorrir de crean?a.
As outras guardam comsigo da velha Europa a imponencia; estas n?o, tem a innocencia, tem o perfume das fl?res; captivam pelos encantos ingenuos puros e santos, e s?o, meu Deus, taes e tantos, que fazem morrer de amores!
Quem p?de escutar-lhe as fallas quando a tremer de receio, baixando os olhos no enleio em que a prende o cora??o, ella diz corando e rindo: <
Quem p?de conter no peito o travesso cora??o? quem n?o sujeita a raz?o ao dominio dessas fallas? quem n?o se abraza nos lumes da mulher que tem perfumes, de que as rosas tem ciumes se v?o se encontrar nas salas? ..............................
Meu leitor, deixa a cidade e vem comigo que eu quero te mostrar um quadro bello; vem ? ro?a onde o amor ? mais sublime, e tudo quanto ? grande mais singelo.
Eu prefiro ?s harmonias de uma orchestra, aos encantos que doudejam nos sal?es, a cantiga do tropeiro descuidoso, ou as trovas amorosas dos sert?es.
Ha naquelles improvisos mal rimados, e naquella inspira??o de cada instante, a belleza original que parte d'alma sem arte, mas com fogo delirante. .................................
Elle era um mo?o bonito como na c?rte n?o ha, tinha os olhos e os cabellos da c?r do jacarand?. Um porte airoso, engra?ado, rapag?o desempenado de metter inveja a cem! se na estrada elle passava, a mo?a que o espiava lhe ficava querendo bem.
Mas elle guardava firme no fundo do cora??o pela bella Margarida a mais ardente paix?o. E as mo?as da visinhan?a ao verem sua esquivan?a ?s festas, se ella n?o ia, diziam de enciumadas: <<--Pedro est? de azas quebradas; pobre mo?o! quem diria?!
<<--E tem s? vinte e tres annos e alguma cousa de seu! vejam s? o que ? fortuna; t?o feliz nunca fui eu! --E dizem que casa breve? --Eu n?o sei, mas elle deve casar-se p'ra o fim do anno. --Que lhe fa?a bom proveito... --E o velho est? satisfeito? --Pudera n?o! bem ufano!>>
Tal eram os commentarios que em toda a parte faziam as mo?as da visinhan?a, que em festas se reuniam; mas elle, surdo aos rumores que faziam seus amores nas discuss?es femenis, nada via al?m do encanto d'aquelle amor puro e santo, d'aquelles olhos gentis.
Mas quem era a linda mo?a a quem Pedro tanto amava? quem era a virgem formosa que elle assim idolatrava? era rica ou pobresinha? tinha-lhe amor ou n?o tinha? N?o ? o que queres saber? l? vamos, leitor querido, satisfazer teu pedido, j? tudo vamos dizer.
Ella tinha quinze annos; era um anjo de gra?a, candidez e de bondade, e aquelle cora??o de meiga pomba amava como se ama nessa idade.
A todos occultava aquelle affecto que su'alma marchetava de illus?es; dos sonhos c?r de rosa que ella tinha quem pode descrever as emo??es?
De manh? apoz a prece fervorosa, fictados nos do Christo os olhos bellos, regava o seu canteiro, e de violetas um raminho prendia entre os cabellos.
< ?s vezes descuidando seu trabalho, parada co'o olhar ficto na estrada, no mar da phantasia, como um cysne, boiava da corrente ? fl?r levada. Tal era a mimosa filha do velho Sim?o da Cruz; de sua velhice o arrimo, alegria, vida e luz. Revia no rosto della a companheira extremosa, que lhe deixara, murchando, o rebent?o de outra rosa. Vio-a crescer sob os olhos; estudou-lhe o cora??o, e lia nelle os mysterios d'aquella ardente paix?o. Um dia toma-lhe o bra?o, fal-a sentar a seu lado, e diz-lhe rindo o bom velho: < Enrubece, treme, ensaia dizer uma phrase, em v?o! repete o velho a pergunta, e ella responde <<--N?o... --N?o mintas, filha! n?o sabes que ? um peccado mentir? --Perd?o meu pai!--N?o perd?o a quem me busca illudir.>> Dos bellos olhos da mo?a o pranto desce a torrentes, cujas bagas v?o no seio embeber-se encandescentes. O velho, ameigando a falla, apoz miral-a um instante, lhe torna: <<--Vamos! n?o chores! n?o ? Pedro o teu amante? < < Estamos em junho, no mez das fogueiras, do riso, das festas, das sortes, do amor, das cannas assadas, car?s e batatas, dos jogos de prendas, do fogo em redor. Quem p?de na ro?a ficar, pregui?oso, dormindo na r?de, sem ir ao pagode? se as mo?as bonitas l? est?o feiticeiras cantando e sorrindo, fugir-lhes quem p?de? Na fazenda do Tymbira era velha a devo??o de fazer-se grande festa em dias de S. Jo?o. O velho Joaquim Medeiros, que era a fl?r dos fazendeiros d'aquella localidade, esfregava as m?os contente quando via em casa gente a que o prendia a amizade. D. Olympia, sua esposa; m?i dos pobres do logar, tres dias antes da festa n?o parava a trabalhar. Mandava as suas mucamas dos quartos fazer as camas, espanar tudo e varrer, e, doceira de bom gosto, l? estava firme no posto, fazendo o tacho ferver. Fazia doce de c?co, laranja, cidra, lim?o, bom-bocado, arroz de leite, bolinhos de S. Jo?o, pamonha, cus-cus de milho, manou?, biju, sequilho, biscoutinhos de araruta, tar?cos, baba-de-mo?a, e, mil doces que na ro?a se fazem de toda a fructa. No terreiro da fazenda preparava-se a fogueira, e o mastro todo enfeitado de folhagens de mangueira; e dentre as folhas escuras sahiam fructas maduras, como ? o costume geral, e uma boneca vistosa de vestido c?r de rosa, fazia o t?pe final. No campo desde a porteira de verde murta vestida, duas linhas de coqueiros vem a porta da saida. De um lado a outro correndo, dirigindo ou desfazendo o que n?o estava direito, andava o rei dos festeiros o nosso velho Medeiros sempre alegre e satisfeito. <<--Vamos com isso, rapazes, que temos mais que fazer e d'aqui por uma hora ninguem se p?de mecher. Joaquina e Manuela, voc?s v?o l? p'ra capella capinar ali na frente. Ol?, moleque, ? vadio! chega ali embaixo no rio, v? se vem alguma gente.
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