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Read Ebook: O Marquez de Pombal Lance d'olhos sobre a sua sciencia; politica e systema de administração; ideias liberaes que o dominavam; plano e primeiras tentativas democraticas by Garcia Manuel Em Dio

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Ebook has 152 lines and 12905 words, and 4 pages

<>, pensava elle, <>

O empenho na realisa??o d'um plano immenso, profundo e salutar, de regenera??o e progresso, s? esperava opportunidade para se mostrar e desenvolver d'um modo util ao seu paiz, glorioso para elle e para o rei, em nome do qual e a bem do povo devia progredir affanoso na tarefa reformadora, que ousadamente emprehendera.

Por toda a parte o abandono da agricultura, o desprezo pelas artes, insignificantissimo o trato commercial; um governo monarchico sem prestigio, um throno esplendido sem solidez; o jesuitismo e a nobreza lisongeando os reis, fanatizando o povo e especulando com a sua piedade, dominando e opprimindo, gozando sem trabalho, adquirindo por meio de successivas usurpa??es, accumullando sem esfor?o; o luxo e a immoralidade para uns, a miseria e a degrada??o para outros.... tal era a situa??o perigosa e assustadora, o triste espectaculo, que a na??o offerecia, quando Sebasti?o Jos? de Carvalho appareceu na scena publica e concebeu o arriscado mas grandioso projecto da sua emancipa??o, restabelecimento e progresso!

Valendo-se, por um bem combinado calculo, da protec??o, que desde muito tempo lhe dispensava a viuva de D. Jo?o V, e da docilidade e benevolencia de D. Jos? I , gosando j? entre n?s de um nome illustre, que, a par de outros titulos, tinha por fundamento a subida reputa??o que alcan?ara em Viena d'Austria, n?o perdeu a primeira occasi?o, que lhe pareceu opportuna, para, aproveitando o favor e a confian?a do rei, salvar o seu paiz, reivindicar a independencia da na??o e dar liberdade ao povo.

Foi o seu governo um dos periodos mais gloriosos da nossa historia!

? por isso que, entre os grandes genios, fadados para ousados commettimentos, entre os ministros energicos em emprehender e vigorosos em executar, n?o ha nenhum que se lhe avantaje, nenhum que, em menos tempo, mais se distinguisse, maiores benef?cios prodigalisasse ao povo e mais gloria alcan?asse ao rei:

--Restaurou a disciplina militar.

--Fortificou as pra?as d'armas.

--Renovou a marinha.

--Reanimou a agricultura.

--Restaurou e desenvolveu as artes, de todo esquecidas, e vivificou o commercio moribundo.

--Restabeleceu e firmou o credito publico, e organisou as finan?as.

--Reformou e ampliou os estudos superiores, segundo os progressos litterarios e scientificos do seculo.

--Abriu as portas da instruc??o popular, fechadas pelo jesuitismo, ?quelles que durante seculos haviam sido condemnados ?s trevas da ignorancia e da supersti??o.

--Instituiu mais de oitocentas escholas gratuitas para o ensino primario.

--Creou e dotou collegios, escholas secundarias e professionaes para a navega??o, commercio e outras industrias.

--Diminuiu as prerogativas, cerceou os privilegios e abateu o orgulho da nobreza.

--Tentou apagar odios de ra?as e extinguir luctas de cren?as religiosas.

--Abriu caminho amplo ? confus?o das classes e ? egualdade perante a lei.

--Tornou livres os indigenas do Brazil, e levantou barreiras ao trafico infame e degradante da escravatura.

--Celebrou tractados politicos e commerciaes com muitas na??es da Europa, e com outras o pacto da nossa independencia e dignidade nacional.

--Fundou e organisou companhias de commercio e industria, para reanimar as nossas colonias, ou de todo abandonadas, ou preza da cubi?a de estranhos especuladores.

--Restringiu o tremendo poder da inquisi??o, e proscreveu os autos de f?.

--Dobrou e venceu a preponderancia pontificia, e refreou, por vezes, a cholera do Vaticano, apontando ao Papa quaes os limites onde devia expirar o seu poder temporal e politico.............

--Substituiu ? auctoridade dos jurisconsultos romanos e ?s argucias e sophysmas dos glossadores, que mantinham agrilhoadas as leis e a jurisprudencia ao imperio absoluto d'uma sciencia convencional, curvada sob o peso de muitos seculos e j? decrepita--a auctoridade da Raz?o, esse poder soberano, capaz de descubrir a verdade; alargando assim o campo de explora??o a um dos maiores genios do seculo--Paschoal Jos? de Mello Freire, o sabio jurisconsulto portuguez, que por si s? egualou, se n?o ? que excedeu, ao mesmo tempo Montesquieu e Beccaria.

--Vendo que as artes e as sciencias floresciam na Inglaterra e por quasi toda a Allemanha, para logo viu tambem a necessidade de operar uma revolu??o completa no mundo scientifico, litterario e artistico; e foi ella t?o profunda e salutar, que, no dizer de Almeida Garrett <>

Bem sabia elle, porque a reflex?o e a experiencia poucas vezes deixam illudir os homens de genio, que ? republica das letras, ? emancipa??o da intelligencia devia succeder--a democracia politica e a liberdade para o povo.

E quando ainda hontem a imprensa liberal de todos os paizes saudava, em nome do progresso, e applaudia, como gloriosa e civilisadora, a aboli??o de t?o odiosa pena, havemos de ficar silenciosos ante a memoria do Marquez de Pombal, que a eliminou, um seculo primeiro, em nome da humanidade?!

A nobreza e o jesuitismo eram, naquella epocha, os obstaculos gigantes, que se oppunham ao estabelecimento da liberdade.

O Marquez de Pombal queria a liberdade para a patria e para o povo, como a primeira fonte de engrandecimento e prosperidade nacional.

O Marquez de Pombal n?o phantasiava theorias politicas nem tra?ava systemas philosophicos; n?o escrevia pungentes ironias e asperos epigrammas; n?o defendia e exaltava o protestantismo, para censurar e maldizer a Egreja catholica; n?o persuadia a revolta nem excitava os povos ? pilhagem e ? carnificina--concebia medidas uteis e prudentes, e executava-as conforme as circumstancias imperiosamente o exigiam.

Seria bastante robusto o seu bra?o, poderoso o seu sceptro de oiro, valiosos os diamantes da sua cor?a, para poupal-os ao choque revolucionario, que de perto e ao longe se presentia, e que em breve devia abalar a Europa inteira, j? consideravelmente agitada pelas pulsa??es, que violentas se succediam no cora??o da Fran?a e que a faziam estremecer at? ?s mais affastadas extremidades?!

Portugal entrou de novo no dominio e posse de suas conquistas; e o soberano opulento do Oriente, o descobridor generoso de ignotas plagas e de estranhas gentes, ergueu-se do tumulo, que lhe tinham aberto o arrojo pueril d'uma crean?a ?vida de glorias v?s, e a imbecilidade tr?pega d'um velho cardeal fanatizado.

Era todavia sombra magestosa d'um vulto heroico, surgindo entre as ruinas de sumptuoso edificio desmantelado!

Nem exercito, nem marinha, sem commercio, sem industria, exhaustos os cofres do estado, perdido o credito, nominal a riqueza de suas maravilhosas descobertas, vazio o thesouro de suas conquistas!... S? com a aur?ola de passadas glorias; sem outro titulo perante as na??es, alem da merecida gratid?o, a que tinha direito pelos valiosos servi?os prestados ? humanidade e ? religi?o, que o ligara ao c?o e a Deus logo desde o ber?o!

Havia para elle a esperan?a no futuro firmada na lembran?a do passado; existiam amontoados, sobre os mares e nas suas ricas possess?es abandonadas, os despojos da sua antiga grandeza; o seu nome escripto sobre toda a extens?o do Oceano, brilhando nas coroas de muitos monarchas, gravado no cora??o de muitas na??es florescentes!

Foi por isso que todos acolheram com applauso o brado da sua independencia e lhe ajudaram a manter a liberdade, que desastrosamente havia perdido nas plagas longinquas de Alcacer Quivir e sobre o leito de um cardeal moribundo!

A coroa de ferro dos senhores de Hespanha precisava das perolas e dos diamantes de quatro mundos!...

Para cobrir a juba ensanguentada do le?o de Castella eram necessarios os alvissimos arminhos do manto de nossos reis!...

A ambi??o insaciavel do hespanhol, n?o contente com as suas possess?es, pretendia ainda com s?frega cubi?a usurpar as colonias portuguezas, que j? se alongavam e estendiam do oriente ao occidente, do septentri?o ao meio dia, sobre todos os continentes, ? roda e no meio de todos os mares!....

Restabelecer a actividade e ordem no seio da familia portugueza, dar-lhe a liberdade, fundar a felicidade domestica e a prosperidade publica,--tal foi o seu elevado empenho.

? morte do rei succedeu pois a queda do ministro e por ultimo a condemna??o e o exilio do var?o prestante e benemerito, calumniado, perseguido e processado por ter amado o rei e a patria, o povo e a liberdade!...

Poucos annos depois da sua morte, apressada talvez pela condemna??o, que o obrigara a encerrar-se em logar obscuro, e afastado da c?rte, onde ostentara sciencia e poder, for?a de vontade e energia, regulando sabiamente os destinos da na??o, que por sua direc??o immediata e em suas proprias m?os se havia reanimado e engrandecido, realisavam-se em Fran?a as prophecias da revolu??o, com todos os horrores da guerra civil.

? esta uma verdade, que immediatamente deriva dos factos, e que difficilmente poder? escurecer-se.

O despotismo, a tyrannia de que se arg?e Pombal, era imposta pelas necessidades, como o unico meio de chegar ? liberdade.

Bem sabia elle--que os partidarios da liberdade e da tolerancia devem deixar o emprego da for?a aos partidarios da for?a e da intolerancia.

Mas este conselho evangelico, que s? hoje come?a a converter-se em preceito obrigatorio, este grande principio theorico, era naquella epocha, attentas as circumstancias, de impossivel applica??o na pratica.

Os designios do grande estadista e as suas vistas eram patrioticas; o seu ideal a emancipa??o politica, religiosa, moral e economica do povo, que elle conhecia--grande, opulento e soberano na historia,--pequeno, pobre e escravo no presente; o mobil que o determinava o amor da liberdade.

Despojado do poder, privado da ac??o governativa, condemnado ao ostracismo politico, exilado para longe da c?rte, afastado dos negocios publicos, viu mallograda a sua obra; n?o lhe embaciaram porem a gloria, n?o lhe quebraram os braz?es, e, o que ? de maior valia, n?o lhe extinguiram a gratid?o no cora??o dos povos; e se ao tumulo baixam esperan?as, devia acompanhal-o a lembran?a de que um dia as suas ideias haviam de ser realisadas, os seus principios triumphar, e o plano, que lhe absorvera a existencia inteira, posto em plena execu??o, o seu nome exaltado, a sua reputa??o glorificada e os seus inimigos, os inimigos do povo e da liberdade, confundidos.

? transforma??o, que Portugal experimentou pela ac??o previdente e reformadora do grande ministro, aos elementos de for?a e prosperidade, que n?o s? indicou, mas com que legalmente dotou a patria, ?s institui??es politicas e economicas, e aos germens de educa??o popular, que semeou, devemos em grande parte os beneficios, que com raz?o se attribuem ? revolu??o liberal.

Sem o genio fecundo, sem a intelligencia vasta e a dedica??o inexcedivel de Sebasti?o de Jos? Carvalho, seria Portugal conquista partilhada entre a Fran?a e a Hespanha, ou na??o livre e independente?

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