Read Ebook: The Sportsman's Club Afloat by Castlemon Harry
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Ebook has 972 lines and 26507 words, and 20 pages
DO AUCTOR
A Moral na Religi?o e na Arte. A Vida Mental Portuguesa. Vida Litteraria e Politica. Camillo In?dito annotado. Nova Sapho. Doentes da Belleza. Bohemios. Antonio Nobre. Grandes de Portugal . Fialho d'Almeida. Fanny Owen e Camillo. As Cinzas de Camillo. Os Ultimos.
VISCONDE DE VILLA-MOURA
NOVA SAPHO
Tragedia Extranha
Segundo Milhar
Editores
Annuario do Brasil--Rio de Janeiro
Renascen?a Portuguesa--Porto
--< O Bem e o Mal deram a figura que sou--um bronze de sentimento. Realizo o genio sensual da humanidade nevrosada e a vida suave de toda a Belleza humilde! Sou Shakspeare e Bandarra:--tenho no peito o cachoar tragico da muita miseria e altanaria heroica, que o ingl?s referveu em dramas que s?o a perpetuidade da Dor-genio; e, ao mesmo tempo, a simpleza ingenua da amargura delida por uma quasi inconsciencia--aquelle extranho sentir dos loucos que t?em o sestro de viver alegres as suas e as tragedias dum povo, os bellos crimes, como as grandes melancholias duma ra?a!...>> MARIA PEREGRINA. MARIA PEREGRINA Encontrei-a indolente, distrahida, em viagem pelo Minho. Estou a v?-la!--mulher de trinta annos, cabellos negros, olhar ennevoado, sombrio, sobrancelhas luzentes, labios finos, mostrando a espa?o os dentes brancos, rosto moreno, talhado em linhas puras, modelo de bronze precioso de casa antiga, com ademanes de adolescente e artista. Acompanhava-a uma extrangeira mais nova, de cabellos e olhos castanhos, muito branca, boca pequena, duma belleza vulgar, que abria em riso ingenuo, ar aventureiro de quem segue por um mundo de acaso, ao capricho doutra, da companheira, que a envolvia, ?s vezes, num largo olhar complacente e tenebroso. Percebi entre as duas a mais esquisita intimidade, a que a segunda parecia dar-se passivamente, mas alegre, por comprazer, numa generosidade estulta de pessima lassid?o. Iam quasi ? vontade na carruagem, indifferentes ? observa??o extranha, longe do mundo em que viviam, trocando olhares perversos, duma sensualidade doentia, ali, ? face de desconhecidos, que s? excepcionalmente podiam acceitar com benevolencia a vida que denunciavam. Maria Peregrina pareceu-me uma esgotada, figura confusa, a contas com desequilibrios intimos, que lhe reflectiam fadiga e exotismo. Eu sent?ra-me em frente da mais nova--a extrangeira de olhos c?r de burel, muito apertada num costume de viagem, exaggeradamente cingido, de geito a denunciar-lhe as formas regulares, irreprehensiveis. Quando entrei tinha ella sobre o logar que eu devia occupar uma caixa de couro negro, a que prendiam duas correias, unidas por uma fivela. Era a caixa do binoculo de tartaruga com lavrados de oiro que Peregrina tinha na m?o. ? minha chegada, a extrangeira levantou a caixa. E, como n?o visse melhor logar, lan?ou-a ao hombro esquerdo, com a correia. Maria Peregrina interveiu: --Deixa ver, Violet! E, mexendo na correia: --Apertaste a fivela ao contrario, vou comp?-la... A inglesa inclinou-se para ella. Olhou em volta, derramando uma luz suave e quedou a olhar, agradecida, para a companheira. Depois, desviou a atten??o para as arvores, que faziam a escolta da linha ferrea, a seguir para as pessoas da carruagem, que viu indifferente, como vira as arvores; disse a Peregrina palavras ingenuas de disfarce, ?cerca do caminho, das horas da jornada; e acabou por tamborilar, a m?do, nos vidros da janella. Eu observava, interessado, aquellas figuras, que me pareciam t?o differentes e que, no entretanto, se bemqueriam, merc? duma qualquer raz?o de fatalidade. Estendeu a m?o anemica, duma finura aristocratica, para as m?os vulgares de Violet, que, indolentemente, lhe palpava os diamantes de dois aneis antigos que lhe cal?avam os dedos morenos. Usava um terceiro anel em que abria um escudo minusculo de signaes heraldicos, que eu n?o podia ler pela distancia, e me parecia dispensavel como inculca de ra?a, pois que Maria Peregrina a revelava por si. Tinha quedas bruscas, lassid?es que reflectia num grande abandono. E foi num desses momentos que a vi sumida nas almofadas da carruagem, falando em surdina ? companheira. Percebi que se tratava duma pequena ordem, disfar?ada em pedido. De facto, Violet levantou-se, abriu um saco de camur?a-creme, escolheu dentre outros um estojo pequeno de metal e offereceu-o a Peregrina. Esta buscou um tubo comprido de lenticulas, tomou duas e entregou o estojo a Violet, que voltou a colloc?-lo no saco de camur?a. Pude ver o rotulo collado ao vidro-v?oleta. Indicava um excitante invulgar. --N?o vaes bem? perguntou Violet, ao sentar-se, rente ? companheira. E mirando-a, com atten??o: --Est?s doente? T?o pallida! Na verdade, ella lembrava uma daquellas figuras em que o talento, a tristeza e a espiritualidade se fundem numa affirma??o de decadencia. Era um busto fim-de-ra?a o de Peregrina, sombria, extenuada numa indolente indignidade, abandonando-se aos nervos, vencida, e pedindo ? Chimica o emprestimo de excitantes, sophismas ruinosos da mocidade em desbarato. E, no entanto, s? pude v?-la com piedade. Era inferior julgar segundo a minha saude moral o caso infeliz da mulher extranha, que parecia reflectir nos seus quebramentos o drama lento duma vida exotica. E, como quer que percebesse que pela primeira vez olhava para os passageiros que formavam a ala fronteira ? sua, numa express?o de inquerito e vago pedido de soccorro, vendo o seu desassossego, lembrei-me de que podia este ser da posi??o que tomara e offereci-lhe o meu logar. --Provavelmente, disse, ella ia mal no sentido da machina; que o meu logar era melhor e lho dispensaria. Attentou-me com surpresa, e, depois de alguma hesita??o: --? verdade, supponho que me tem feito mal a posi??o que escolhi. Mas n?o desejo o sacrificio de v. Levantei-me. Por sua vez levantou-se; volveu a fitar-me, reconhecida, sorriu for?adamente, e sentou-se. Percebi que o pequeno esfor?o lhe aumentara a fadiga; transfigurou-se. Os largos olhos escuros, habitualmente serenos, indecisos, moveram-se numa agita??o de labareda intima, para logo quedarem, vagos. Depois de curta hesita??o, encostou-se ?s almofadas e adormeceu. Dormiu um somno pequeno, de tres quartos de hora. Naquelle estado de abatimento, pareceu-me a unica maneira de sossegar. De repente, o comboio estremeceu, galgando numa velocidade imprevista. Peregrina, que acordou aos primeiros solavancos, dirigiu-se-me: --Fez-me bem mudar de logar. Estou melhor e muito reconhecida ? gentileza de v. Dormi n?o sei por quanto tempo, o tempo bastante a cobrar for?as que, de subito, me faltaram. E eu, solicito e curioso:
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