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Anthero de Quental & C. Castello Branco
S? de Miranda
Com uma carta ?cerca da "Bibliographia Camilliana" de Henrique Marques
por
Joaquim de Araujo
LISBOA Typ. da Companhia Nacional Editora LARGO DO CONDE BAR?O, 50 1894
S? de Miranda
Anthero de Quental & C. Castello Branco
S? de Miranda
Com uma carta ?cerca da "Bibliographia Camilliana" de Henrique Marques
por
Joaquim de Araujo
LISBOA Typ. da Companhia Nacional Editora LARGO DO CONDE BAR?O, 50 1894
POESIAS DE S? DE MIRANDA
Edi??o feita sobre cinco manuscritos ineditos e todas as edi??es impressas, acompanhada de um estudo sobre o Poeta, variantes, notas, glossario, e um retrato, por Carolina Micha?lis de Vasconcellos; Halle, Max Niemeyer, 1885.
Hoje, s?o os estrangeiros que estudam e estimam a nossa antiga literatura: n?s n?o. A crescente e hoje quasi total desnacionalisa??o do espirito publico ? o facto mais consideravel da nossa psychologia collectiva, nos ultimos 50 annos. Os da actual gera??o, pode dizer-se que, pelo pensar, pelo sentir, deixaram j? de ser portuguezes. Ha por ahi muito rapaz intelligente e, a seu modo, instruido, que conhece mais ou menos Moli?re, Racine, Voltaire e at? Rabelais e Ronsard, e que nunca leu um auto de Gil Vicente, uma can??o de Cam?es, uma eglogla de Bernardim Ribeiro ou de Bernardes, uma carta de Ferreira ou de S? de Miranda.
E ahi est? porque vemos uma senhora alleman publicar estudos magistraes sobre o texto de Cam?es, publicar uma edi??o critica das Poesias de S? de Miranda, preparando-se assim, durante annos, com toda a casta de subsidios linguisticos, historicos e archeologicos, para nos dar uma historia da literatura portugueza. Outros lhe dar?o a historia da literatura indiana, ou da chineza, da grega, da hebraica, da poesia dos Trovadores, das epopeias da Edade Media, que sei eu? pois n?o ha um canto do vasto mundo da historia, que escape ? curiosidade ardente e penetrante da erudi??o alleman. A sr.? D. Carolina Micha?lis internou-se pelo reino semi-classico do Romanismo e ahi conquistou para si uma provincia, bem mais famosa do que conhecida, ainda dos mesmos nacionaes: a lingua e literatura portuguezas.
Bom S?! Diz o velho biographo que, nos seus ultimos tempos, "com a magoa do que lhe revelava o espirito dos infortunios da sua terra se affligia tanto, que muitas vezes se suspendia e derramava lagrymas sem o sentir." Tenho scismado muitas vezes nestas lagrymas do poeta humanista da Renascen?a. E, n?o sei como, a minha imagina??o approxima-as logo da tragica melancholia de Miguel Angelo, da nobre tristeza de Vittoria Collona, da misanthropia incuravel de Machiavel, da nuvem de desgosto e desalento que envolveu a velhice de quasi todos os grandes espiritos da Renascen?a. Tinha motivo de chorar o nosso S? de Miranda, como tinham motivo de se entristecerem os seus illustres congeneres. ? que elles presentiam todos, uma cousa sinistra: o abortamento da Renascen?a. ?quella immensa aurora succedia, quasi sem transi??o, o crepusculo nocturno: e elles, os videntes, devisavam naquelle crepusculo inquietador os movimentos de formas estranhas e sombrias, como de monstros desconhecidos, e ouviam passar vozes mais assustadoras ainda, vozes que cresciam formidaveis de todos os pontos do horisonte, sem se ver quem as soltava.
Ahi por 1550, o abortamento da Renascen?a era j? visivel aos olhos dos que ainda restavam daquellas duas incomparaveis gera??es dos promotores della. O Concilio de Trento entrara j? na sua 6.? sess?o e era agora irremediavel a scis?o do mundo latino com a Reforma germanica. Come?avam as guerras da religi?o, que iam durar, numa furia crescente, perto de cem annos, destruindo na??es inteiras. Os Jesuitas abriam os seus Collegios, onde o espirito da Renascen?a, sophismado, amesquinhado, pervertido, servia de capa ? reac??o. Por toda a Peninsula, fumavam e crepitavam as fogueiras da Inquisi??o. O Humanismo alado transformava-se em erudi??o plumbea, inerte. A Arte cahia da crea??o no amaneiramento. Um furor indiscriptivel, furor de disputas, furor de matan?as, apossava-se da Europa e o pensamento livre, os sentimentos largos e humanos, a alta cultura pareciam prestes a desapparecer da face da terra.
Tudo isto viam ou previam aquelles grandes espiritos. Tinham sonhado salvar o mundo pela raz?o, e a raz?o parecera impotente, e o mundo desesperado appellava definitivamente para a sem-raz?o. Dahi aquellas incuraveis melancholias de uns, aquella desdenhosa misanthropia de outros; dahi as lagrymas do nosso S?. Este antevia ainda outra cousa: a morte da patria. Aquelle ouro do Oriente parecia-lhe j? um caustico sobre o corpo da na??o, que lhe queimava, que lhe roia as carnes, at? a deixar secca de todo, um esqueleto. Tinha motivo sobejo de chorar, o pobre poeta!
Lembram-me as lagrymas de S? de Miranda. Se teremos tambem de as chorar na nossa velhice? Esperemos que n?o, ou digamol-o, pelo menos, para n?o desanimar ninguem--para n?o desanimarmos tambem n?s.
Junho de 1886.
ANTHERO DE QUENTAL.
UMA SATYRA DE S? DE MIRANDA
Alguns jornaes provincianos, quando o sr. visconde de Lindoso, ha dois mezes, foi promovido a conde, disseram que na gera??o de s. exc.? havia dezenove alcaides-m?res de Lindoso, a contar desde o reinado de D. Diniz. Se ha erro na contagem, n?o serei eu que o corrija. O leitor n?o hade, desta vez, exultar com a certeza de que o sr. conde de Lindoso tem dezenove alcaides na sua arvore genealogica.
O meu proposito ? averiguar se algum d?sses dezenove praticou fa?anha que o immortalisasse na chronica ou na epop?a.
Effectivamente, deparou-se-me um, cujo nome est? identificado a uma poesia de Francisco de S? de Miranda. Dos outros, por emquanto, apenas sei os nomes e as tradi??es provaveis dumas existencias obscuramente e honradamente pacatas em Guimar?es, no transcurso de quatro seculos.
A celebridade que S? de Miranda, commendador das Duas Egrejas, deu ao alcaide seu contemporaneo e visinho, n?o ? nada ?pica.
Inda que eu ria, e me cale, Que me eu fa?a surdo e cego, Bem vejo eu por que o do Vale Correu tanto ao meu galego.
Em quanto o do Valle lhe corre o gallego, diz elle que uns
Ladr?es de seiscentas c?res Andam por aqui seguros, N?o lhe sahem taes corredores.
E a causa dessa impunidade ? que o alcaide n?o fazia caso dos malfeitores que lhe amea?assem o physico:
Ap?s quem torna a si E primeiro mata ou morre N?o corre o do Vale assi, Que ap?s um tolo assim corre.
E vae nomeando uns patifes que andavam a salvo, um Basti?o, um Ribeiro, personagens que se faziam respeitar pela valentia ou pelo dinheiro.
Depois de muitas maximas de san moral, o poeta volta-se para o governo e exclama:
Executores da lei, Havei vergonha algum dia! Este chama: Aqui dei rei! Este outro chama a valia.
Ora o fecho da satyra, que ? o mais pungente della, est? deturpado na composi??o negligente das impress?es que conhe?o, d?ste feitio:
Outro chama: Portugal! De varas n?o ha e mingua. Desata a bolsa, que val. Traze sempre alada a lingua.
Com esta construc??o, assim aleijada, a satyra penetrante fica de todo deslusida e estragada. Para que os equivocos flagelladores resaltem do jogo das palavras de accep??o dupla, a reconstruc??o deve ser esta:
Outro diz: em Portugal De varas n?o ha hi mingua; Desata a bolsa, que Val Traz sempre atada a lingua.
Neste verso adoptei uma variante que se encontra na ultima edi??o das poesias de S? de Miranda.
Traz sempre atada a lingua.
Poeta at? o umbigo, e os baixos prosa.
Seja como f?r, dos dezenove alcaides de Lindoso nenhum outro se gaba de ter o seu nome registado na obra do grande mestre da Renascen?a lyrica da Peninsula.
Nas notas, por?m, da sr.? D. Carolina de Vasconcellos ha lances de investiga??o historica t?o penetrantes e intuitivos que d?o muito a esperar, se os seus estudos nos baldios ingratos da archeologia literaria n?o desanimarem arrefecidos pelo desaffecto que os portuguezes manifestam pelo archaismo.
Do qual ir?o ha muitos annos Um que aqui Braga regeu, Pondo aparte os longos panos, O passo dos castelhanos ? espada o defendeu.
Um que aqui Braga regeu Pondo aparte os longos panos O passo dos castelhanos ? espada o defendeu.
Daqui a pouco, espero conseguir que s. ex.? acceite o facto historico, desembara?ada de hypotheses, como elle se acha escrito nos antigos livros portuguezes.
Quanto ? morte de D. Gon?alo Pereira emendou s. ex.? um descuido repetido por todos os historiadores desde Manuel de Faria e Sousa e D. Rodrigo da Cunha, que tambem faz D. Gon?alo contemporaneo de D. Pedro I, j? reinante.
Aqui tem s. ex.? a fa?anha que o S? de Miranda celebrou na sua carta a um dos descendentes do prelado guerreiro; e para que a illustre escritora a conhe?a de melhor auctoridade que a minha, aqui lhe dou o traslado de chronista antigo: "Por estes annos, entraram por ordem de el-rei D. Affonso onzeno de Castella pelo reino de Portugal, com m?o armada, D. Fernando Rodrigues de Castro e D. Jo?o de Castro seu irm?o, capit?es do reino de Galliza, roubando, desbaratando quanto achavam, com muita gente de armas, at? chegarem ? cidade do Porto, e fazendo todo estrago que podiam sem acharem resistencia, estando juntos nella o bispo D. Vasco, e D. Gon?alo Pereira, arcebispo de Braga, que antes f?ra De?o do Porto, e o Mestre de Christo D. Frei Estev?o Gon?alves refizeram 1:400 homens entre infantes e cavallos, com os quaes os contrarios n?o quizeram cometer peleja; e voltando as costas se foram recolhendo com a preza que levavam; mas seguindo-lhe os portuguezes o alcance lhe fizeram largar tudo, e custar a retirada mais do que cuidavam, at? que com morte de D. Jo?o de Castro e outros muitos soldados se foram recolhendo a Galliza: foi isto na Era de 1374, anno de Christo 1336..." .
N?o nos restam, pois, incertezas quanto ao feito de armas encomiado por S? de Miranda; e de todo em todo, ? vista do anno em que falleceu o arcebispo, irrefutavelmente fixado pela sr.? D. Carolina Micha?lis, ? excluido aquelle prelado da interven??o que os historiadores e at? modernos dramaturgos lhe d?o nos successos posteriores ? morte de Ignez de Castro.
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