bell notificationshomepageloginedit profileclubsdmBox

Read Ebook: Nuestra Pampa; libro de lectura by Molins W Jaime Wenceslao Jaime

More about this book

Font size:

Background color:

Text color:

Add to tbrJar First Page Next Page

Ebook has 151 lines and 7689 words, and 4 pages

Rita Farinha

GUERRA JUNQUEIRO

A VELHICE DO PADRE ETERNO

EDITORA LIVRARIA MINERVA

LISBOA

GUERRA JUNQUEIRO

A VELHICE DO PADRE ETERNO

EDITORA LIVRARIA MINERVA

LISBOA

? MEMORIA DE Guilherme D'Azevedo

A Eza de Queiroz

INDICE

Aos simples 9 A vinha do Senhor 17 A Caridade e a Justi?a 25 O Pap?o 30 Parasitas 31 Resposta ao Sillabus 33 O Baptismo 37 Eurico 38 A Arvore do Mal 39 A Semana Santa 43 A Barca de S. Pedro 61 Ladainha 63 Como se faz um monstro 65 Calembour 70 A agua de Lourdes 71 Antonelli 73 O Dinheiro de S. Pedro 75 Ao nuncio Masella 77 Ladainha moderna 85 O Melro 89 Circular 103 A ben??o da locomotiva 109 A Hidra 111 A Valla commum 113 A S?sta do senhor abade 127 O Genesis 142 Fantasmas 145 Post-Scriptum 149

AOS SIMPLES

? almas que viveis puras, immaculadas Na torre do luar da gra?a e da illus?o, V?s que ainda conservaes, intactas, perfumadas, As rosas para n?s ha tanto desfolhadas Na aridez sepulchral do nosso cora??o; Almas, filhas da luz das manh?s harmoniosas, Da luz que acorda o ber?o e que entreabre as rosas, Da luz, olhar de Deus, da luz, ben??o d'amor, Que faz rir um nectario ao p? de cada abelha, E faz cantar um ninho ao p? de cada flor; Almas, onde resplende, almas, onde se espelha A candura innocente e a bondade christ?, Como n'um c?o d'Abril o arco da allian?a, Como n'um lago azul a estrella da manh?; Almas, urnas de f?, de caridade, e esp'ran?a, Vasos d'oiro contendo aberto um lirio santo, Um lirio immorredoiro, um lirio alabastrino, Que os anjos do Senhor vem orvalhar com pranto, E a piedade florir com seu clar?o divino; Almas que atravessaes o lodo da existencia, Este lodo perverso, iniquo, envenenado, Levando sobre a fronte o esplendor da innocencia, Calcando sob os p?s o drag?o do peccado; Bemdictas sejaes, v?s, almas que est'alma adora, Almas cheias de paz, humildade e alegria, Para quem a consciencia ? o sol de toda a hora, Para quem a virtude ? o p?o de cada dia! Sois como a luz que doira as trevas d'um monturo, Ficando sempre branca a sorrir e a cantar; E tudo quanto em mim ha de bello ou de puro. --Desde a esmola que eu dou ? prece que eu murmuro-- ? vosso: fostes v?s o meu primeiro altar. L? da minha distante e encantadora infancia, D'esse ninho d'amor e saudade sem fim, Chega-me ainda a vossa angelica fragrancia Como uma harpa ?olia a cantar a distancia, Como um v?o branco ao longe inda a acenar por mim! .................................................. .................................................. .................................................. Minha m?e, minha m?e! ai que saudade immensa, Do tempo em que ajoelhava, orando, ao p? de ti. Cahia mansa a noite; e andorinhas aos pares Cruzavam-se voando em torno dos seus lares, Suspensos do beiral da casa onde eu nasci. Era a hora em que j? sobre o feno das eiras Dormia quieto e manso o impavido lebr?u. Vinham-nos das montanhas as can??es das ceifeiras, Como a alma d'um justo, ia em triumpho ao c?o!... E, m?os postas, ao p? do altar do teu rega?o, Vendo a lua subir, muda, alumiando o espa?o, Eu balbuciava a minha infantil ora??o, Pedindo a Deus que est? no azul do firmamento Que mandasse um allivio a cada soffrimento, Que mandasse uma estrella a cada escurid?o. Por todos eu orava e por todos pedia. Pelos mortos no horror da terra negra e fria, Por todas as paix?es e por todas as magoas... Pelos m?seros que entre os uivos das procellas V?o em noite sem lua e n'um barco sem vellas Errantes atravez do turbilh?o das aguas. O meu cora??o puro, immaculado e santo Ia ao throno de Deus pedir, como inda vae, Para toda a nudez um panno do seu manto, Para toda a miseria o orvalho do seu pranto E para todo o crime o seu perd?o de Pae!... .................................................. .................................................. A minha m?e faltou-me era eu pequenino, Mas da sua piedade o fulgor diamantino Ficou sempre aben?oando a minha vida inteira Como junto d'um le?o um sorriso divino, Como sobre uma forca um ramo d'oliveira!

? crentes, como v?s, no intimo do peito Abrigo a mesma cren?a e guardo o mesmo ideal. O horisonte ? infinito e o olhar humano ? estreito: Creio que Deus ? eterno e que a alma ? immortal.

Toda a alma ? clar?o e todo o corpo ? lama. Quando a lama apodrece inda o clar?o scintilla: Tirae o corpo--e fica uma lingoa de chamma... Tirae a alma--e resta um fragmento d'argila.

E para onde vae esse clar?o? Mysterio... N?o sei... Mas sei que sempre ha-de arder e brilhar, Quer tivesse incendiado o craneo de Tiberio, Quer tivesse aureolado a fronte de Joanna Darc.

Sim, creio que depois do derradeiro somno Ha-de haver uma treva e ha-de haver uma luz Para o vicio que morre ovante sobre um throno, Para o santo que expira inerme n'uma cruz.

Tenho uma cren?a firme, uma cren?a robusta N'um Deus que ha-de guardar por sua propria m?o N'uma jaula de ferro a alma de Lucusta, N'um relicario d'oiro a alma de Plat?o.

Mas tambem acredito, embora isso vos peze, E me julgueis talvez o maior dos atheus, Que no universo inteiro ha uma s? diocese E uma s? cathedral com um s? bispo--Deus.

E muito embora a vossa egreja se contriste E a excommunh?o papal nos abraze e destrua, A analyse ? feroz como uma lan?a em riste E a verdade cruel como uma espada nua.

Cultos, religi?es, biblias, dogmas, assombros, S?o como a cinza v? que sepultou Pompeia. Exhumemos a f? d'esse mont?o de escombros, Desentulhemos Deus d'essa aluvi?o de areia.

E um dia a humanidade inteira, oceano em calma, Ha-de fazer, na mesma aspira??o reunida, Da raz?o e da f? os dois olhos da alma, Da verdade e da cren?a os dois polos da vida.

A cren?a ? como o luar que nas trevas fluctua; A raz?o ? do c?o o explendido pharol: Para a noite da morte ? que Deus nos deu lua... Para o dia da vida ? que Deus fez o sol.

Mas, ai eu comprehendo os martyrios secretos Do pobre camponez, j? quasi secular, Que v? tombar por terra o seu ninho de affectos, A casa onde nasceu seu pae, e onde os seus netos Lhe fechariam, morto, o escurecido olhar. Comprehendo o pavor e a lividez tremente De quem em noite m?, caliginosa e fria Atravessa a montanha ? luz d'um facho ardente E uma rajada vem alucinadamente Apagar-lh'o c'o'a aza athletica e sombria, Deixando-o fulminado e quazi sem sentidos A ouvir o ulular das feras e os bramidos Do ciclone que explue rouco do sorvedoiro E se enrosca furioso aos platanos partidos A estrangulal-os, como uma giboia um toiro.

Comprehendo a agonia, o desespero insano Do naufrago na rocha, entre o abysmo do oceano, Vendo rolar, rugir os glaucos vagalh?es Como uma cordilheira herculea de montanhas, Com jaulas collossaes de bronze nas entranhas, E um domador l? dentro a chicotear trov?es. .................................................. .................................................. O vosso facho, o vosso abrigo, o vosso porto, ? um Deus que para n?s ha muito que est? morto, E que inda imaginaes no entretanto immortal. Vivei e adormecei n'essa cren?a illusoria, J? n?o podeis transp?r os mil annos da historia Que v?o do vosso credo absurdo ao nosso ideal. Vivei e adormecei n'essa illus?o sagrada, Fitando at? morrer os olhos de Jesus, Como o ephemero v?o que dura um quasi nada, Que nasce de manh? n'um raio d'alvorada, E expira ao p?r do sol n'outro raio de luz. Eu bem sei que essa cren?a ignorante e sincera, N?o ? a que illumina as bandas do Porvir. Mas v?s sois o Passado, e a cren?a ? como a hera Que sustenta e d? inda um tom de primavera Aos velhos torre?es gothicos a cahir. Sim, essa cren?a ? um erro, uma illus?o, ? certo; Mas triste de quem vae pelo areal deserto Vagabundo, esfa?mado e n? como Caim, Sem nunca ver ao longe os palacios radiantes D'uma cidade d'oiro e marmore e diamantes No chimerico azul d'essa amplid?o sem fim! Quem ha-de arrancar pois do seu piedoso engaste O vosso ingenuo ideal, ? tremulos velhinhos, Se a chimera ? uma rosa e a existencia uma haste, Rosa cheia d'aroma e haste cheia de espinhos! Quem vos ha-de cortar a flor da vossa esp'ran?a, Quem vos ha-de apagar a angelica vis?o, Se essa luz para v?s ? como uma crean?a Que guia n'uma estrada um c?go pela m?o! Quem vos ha-de acordar d'esse sonho encantado?! Quem vos ha-de mostrar a evidencia cruel?! Ah! deixemos a ave ao ramo j? quebrado, E deixemos fazer ao enxame doirado No tronco que est? morto o seu favo de mel! ? velhos alde?es, exhaustos de fadiga, Que andaes de sol a sol na terra a mourejar, Roubar-vos da vos'alma a vossa cren?a antiga Seria como quem roubasse a uma mendiga As tres achas que leva ? noite para o lar! Oh, n?o! guardae-a bem essa cren?a d'outrora; ? ella quem vos d? a paz benigna e santa, Como a paz d'um vergel inundado d'aurora, Onde o trabalho ri e onde a miseria canta. Guardae-a sim, guardae! E quando a morte em breve Vos entre na choupana esqualida e feroz, A agonia ser? bem rapida e bem leve, Porque um anjo de Deus mais alvo do que a neve Ha-de estender sorrindo as azas sobre v?s. E v?s conhecereis em seu olhar materno Que ? o anjo que emballou vosso somno infantil, E que hoje vem do c?o mandado pelo Eterno, Para sorrir na morte ao vosso branco inverno, Como sorriu no ber?o ao vosso claro Abril.

E ao pender-vos gelada a vossa fronte alabastrina Ir? levar a Deus o vosso cora??o, T?o manso e virginal, t?o novo e t?o perfeito, Que Deus ha-de beijal-o e aquecel-o no peito, Como se acaso fosse uma pomba divina, Que viesse cahir-lhe exanime na m?o!

A VINHA DO SENHOR

Existiu n'outro tempo uma vinha piedosa Doirada pelo sol da alma de Jesus, Uma vinha que dava uns fructos c?r de roza, Vermelhos como o sangue e puros como a luz.

Inundavam-n'a d'agua os olhos de Maria, E os virgens cora??es dos martyres, dos crentes Eram a terra funda aonde se embebia A mystica raiz dos pampanos virentes.

Produzia um licor balsamico, divino, Que aos c?gos dava luz, aos tristes dava esp'ran?a, E que fazia ver na areia do destino A miragem feliz da bemaventuran?a.

Aos mortos restituia o movimento e a falla; Escravisava a carne, as tenta??es, a d?r, E transformou em santa a impura de Magdala, Como transforma Abril um verme n'uma fl?r.

Bebel-o era beber uma virtuosa essencia Que ungia o cora??o de perfumes ideaes, Pondo no labio um riso ingenuo de innocencia, Como o d'agua a correr, virgem, dos mananciaes.

Dava um tal explendor ?s almas, tal pureza Que nos Circos de Roma at? se viu baixar Diante da nudez das virgens sem defeza Ao magro le?o da Nubia o curuscante olhar.

Mas passado algum tempo a humanidade inteira De tal modo gostou d'esse licor sublime, Que o extasis christ?o tornou-se em bebedeira, E o sonho em pezadello, e o pezadello em crime.

Nas solid?es do claustro as virgens inflamadas Co'as fortes atrac??es da mistica ambrozia Torciam-se febris, convulsas, desvairadas, Meretrizes de Deus n'uma piedosa orgia.

? que no vinho antigo ia ? noite o demonio Lan?ar co'a garra adunca uma infernal mistura De mandragora e opio e helleboro e stramonio, Verdenegro e viscoso extracto de loucura.

Quando uivava de noite o vento nas campinas Via-se pela sombra, obliquo, Satanaz, Colhendo aos p?s da forca ou buscando entre as ruinas Hervas, vegeta??es, prenhes de essencias m?s.

Era o filtro subtil d'essas plantas de morte Que fazia da alma um derviche incoherente, Uma bussola doida ? procura do norte Uma c?ga a tatear no vacuo, anciosamente!...

E a ta?a do veneno estonteador e amargo No funebre banquete ia de m?o em m?o, Produzindo o delirio, a syncope, o lethargo E em cada olhar sinistro uma cruel vis?o.

Uns viam a espectral sarabanda frenetica De esqueletos a rir e a dan?ar com furor Em torno ? Morte podre, impudente, epileptica, Com dois ossos em cruz rufando n'um tambor.

Outros viam chegado o pavoroso instante Em que um monstro do fogo, um drag?o areolito, Dava na terra um n? c'oa cauda flammejante, Arrebatando-a, a arder, atravez do infinito.

E ent?o para fugir ao desespero e ao panico Bebiam com mais ancia o filtro singular. At? ? epilepsia, ao turbilh?o tetanico Do sabat desgrenhado e erotico, a espumar!

E ? for?a de beber o tragico veneno Tombou por terra exhausta a humanidade emfim, Como em Londres, de noite, ao p? d'um antro obsceno C?e sob a lama inerte um bebado de gim.

Mas n'isto despontou a esplendida manh? D'um mundo juvenil, robusto, afrodisiaco: A Renascen?a foi para a embriaguez christ? A excita??o vital d'um frasco de amoniaco.

E na vinha de Deus ainda florescente Come?ou a nascer por essa occasi?o Um bicho que enterrava escandalosamente Nos pampanos da cren?a as unhas da raz?o.

Propagou-se o flagello; o mal recrudesceu; A colheita ficou em duas ter?as partes; Chega o oidium Lutero, o verme Galileu, E cai-lhe o temporal de Newton e Descartes.

Em balde Carlos nove, Ignacio e Torquemada, Catando esses pulg?es das b?blicas videiras, Os entregam ? roda, ao cadafalso, ? espada, Ou os queimam por junto aos centos nas fogueiras.

O estrago cada vez era maior, mais forte; Apezar da realeza, o throno e a sachristia Andarem sacudindo o enxofrador da morte No formigueiro vil das pragas da heresia.

Add to tbrJar First Page Next Page

 

Back to top