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Read Ebook: A Nation in the Loom: The Scandinavian Fibre in Our Social Fabric An Address by Rev. R. A. Jernberg by Jernberg R A Reinert August Simmons Henry Clay Contributor

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Ebook has 86 lines and 9136 words, and 2 pages

SCENAS CONTEMPORANEAS.

SCENAS CONTEMPORANEAS

POR

CAMILLO CASTELLO-BRANCO.

PORTO: EM CASA DE CRUZ COUTINHO--EDITOR, Rua dos Caldeireiros n.^ 18 e 20. 1862.

MORRER POR CAPRICHO.

Os meus amigos, de certo, n?o sabem o que ? ca?ar coelhos na neve?

N?o admira.

Imaginem-se em qualquer ald?a, nas visinhan?as do Mar?o. Olhem em redor de si, e contemplem o quadro que os viajantes na Suissa lhes descrevem todos os dias, supposto que nunca sahissem da sua terra.

A primeira impress?o que recebem ? a do assombro. Leguas em roda, nem na terra nem no c?o, se descobre uma crista de rochedo, a fran?a d'uma arvore, a dobra d'uma nuvem, que n?o seja branca, alvissima, desde um horisonte a outro horisonte.

E, depois, ha ahi em toda essa natureza amortalhada um silencio funebre. N?o cantam as aves, n?o balam os cordeiros, n?o silva o buzio de pegureiro, n?o soam nas quebradas as campainhas da arreata de machos.

Se ouvis um rugido assobiado ao qual respondem outros, n?o vos afasteis para longe da casa d'onde presenceaes, com o cora??o confrangido, esta scena. ? uma alcat?a de lobos, que descem famintos da serra, e ser?o capazes de vos hirem buscar ? cozinha, onde naturalmente tiritaes de frio, sentados ao p? do t?ro de carvalho.

Fa?o-vos esta recommenda??o porque sois uns homens afeminados, que nunca sahistes dos sal?es, dos botequins, dos theatros, e das pra?as. Aposto que se desseis de face com um lobo, de garras arqueadas, e fauces inflammadas, antes que o lobo vos d?sse o cordial abra?o da fome, j? v?s tinheis perdida a sensibilidade, e consciencia da vida, e at? o direito que todo o homem tem de matar n?o s? o seu semelhante, mas at? um lobo, em justa defeza!

Se eu podesse contar com o vosso animo, aconselhar-vos-hia, que em uma d'essas manh?s de neve, com meio covado de altura nos terrenos ch?os, tomasseis um cajado, e, com duas finas cadellas de coelho, fosseis dar na serra um passeio d'algumas horas.

Af?ra este inconveniente, ainda ha o dos lobos, que muitas vezes tomam conta das nossas cadellas, devoram-nas com uma perfei??o e rapidez fabulosas, e, quando Deus quer, fazem dos nossos corpos um supplemento nutritivo ?s nossas cadellas, deixando-nos a alma por muito grande obsequio.

O terceiro percal?o, affecto ? ca?a do coelho na neve, aconteceu-me a mim, ultimo dos mortaes, em 26 de Dezembro de 1844.

? o que tereis a bondade de procurar saber no capitulo seguinte.

Fui convidado por alguns amigos a acompanhal-os ? serra, porque o sol refrangia-se em scintillas na neve, que parecia desfazer-se em laminas de prata.

Fui muito contente da considera??o que se me dava, como ca?ador, porque, em verdade vos digo, atirei com certeiro olho a perdizes e galinholas. Se nunca matei nenhuma, o que tambem ? verdade, deve-se ? pessima polvora das nossas fabricas. Em compensa??o, matei muito melro e tordo nas serdeiras, e consegui matar de noite uma coruja, africa que muitos ca?adores famosos de certo n?o fizeram. Eu fui um grande homem antes de escrever folhetins! Deus perd?e a quem me torceu a voca??o! Eu podia, a estas horas, ser um habil corredor de lebres, e assim tornei-me a lebre dos galgos sociaes.

Estes galgos sociaes, meu leitor, se tu ?s um d'elles, permitte-me dizer-te que tens o faro muito desca?ado, e que eu hei-de saltar por cima de ti, quando cuidares que me abocas. Se n?o ?s galgo, sensato amigo, aqui rasgo o diploma de tolo, que te concedi, sem te levar direitos de merc?.

Agora, vai entrar a historia direitinha at? ao fim.

Subimos ? esplanada da serra. Eramos seis. Dividimo-nos em tres grupos, e combinamos em nos darmos signaes com tiros no caso de nos perdermos encobertos pelo nevoeiro, que poderia de improviso esconder-nos os cabe?os das serras, unicas balizas que nos serviam de guia.

Assim combinados, cada grupo, com dous c?es, seguiu as p?gadas dos coelhos impressas de fresco na neve. Eram muitos, e morriam ? pancada, porque os pobresinhos alapados debaixo das urzes, se fugiam, eram logo mordidos pelos c?es; se esperavam eram apanhados ? m?o. Alguns, mais previdentes, tinham emigrado para as fundas colheitas, formadas pelas sinuosidades interiores dos penedos agglomerados. A estes perseguia-os o fur?o, que eu levava no meu cacifo, desalapava-os, e os c?es, farejando as avenidas da colheita, recebiam-os nos dentes, sacudiam-nos com o rancor do instincto, e atiravam-nos mortos aos nossos p?s.

Andamos assim uma hora, t?o entretidos, t?o esquecidos do mundo, que nunca t?o distrahida hora eu tive na minha vida, a n?o ser aquellas em que durmo, e sonho que hei-de tornar ?quelles meus dias de candura, depois de lidar muito com a innocencia d'estas angelicas creaturas, que vestiriam, por innocentes, como Ad?o e Eva, se a serpente lhes n?o dissesse que andavam indecentes.

Ao cabo d'essa hora, toldou-se o ar, e cahiu uma segunda camada de neve.

O meu companheiro quiz logo voltar sobre os seus vestigios, porque d'aqui a minutos as nossas p?gadas estar?o cobertas, e n?o saberemos caminhar para o nascente nem para o poente.

--Eu, por ora, n?o vou--lhe disse eu.

--Porque?

--Estou bem aqui. Acho muita poesia n'este quadro. Imagino que esta chuva de neve se transforma em chuva de fogo... Este nevoeiro, que rola em ondas aos nossos p?s, e sobre a nossa cabe?a, afigura-se-me o fumo do grande incendio no juizo final! Olha... n?o te parece que o vento espalha j? as cinzas d'uma grande cidade! N?o v?s Sodoma l? em baixo vomitando columnas de fumo?...

--Eu n?o vejo nada... Acho de muito mau gosto as tuas vis?es... vamos embora...

--Vai tu... e quando encontrares os nossos companheiros, d? um tiro, que eu l? vou ter. Estou bem aqui; n?o me mudo por cousa nenhuma.

--At? logo.

E eu continuei a v?r as minhas vis?es.

Parece-me que, por esses tempos, fui poeta, muito poeta, em eleva??es d'alma para cousas de imagina??o, que n?o era esta fria imagina??o, que tenho hoje.

Absorvido no meu quadro do juizo final, que s? uma phantasia abrasada poderia dar-me, transfigurando a neve em fogo, ouvi um tiro, e n?o fiz caso. Ouvi segundo, e senti um piedoso desdem por aquelles homens, prosa vil, que n?o tiravam partido do grandioso panorama, que a m?o liberal da natureza desenrolava diante de meus olhos absortos.

N?o sabeis que o nevoeiro embriaga?

? uma verdade. A cabe?a enfraquece; nos ouvidos ha um zunido, que vos faz perder o rumo. Sentis uma sensa??o desagradavel, semelhante ? do giro penoso em que a indigest?o do vinho vos traz a cabe?a vertiginosa.

Foi o que eu senti, quando me furtei ?s minhas contempla??es improprias do tempo e do lugar.

Ergui-me, e n?o sabia j? designar a direc??o que lev?ra o meu companheiro, nem o ponto onde se deram os tiros. Desfechei a minha clavina, mas a humidade inutilis?ra a escorva. Os c?es, que poderiam ensinar-me o caminho, tinham seguido o meu companheiro. N?o desanimei.

Tal direc??o pareceu-me que deveria ser a melhor, e segui-a. O nevoeiro deixava-me v?r apenas o espa?o que pisava. Atravessei a lombada da serra, e comecei a descer. Escorreguei muitas vezes nos algares da encosta, e senti a neve pela cintura. Gastei duas horas, tres, quatro, descendo, descendo, sem encontrar uma povoa??o. Conheci que estava perdido. A neve augmentava. A noite aproximava-se, e nem um symptoma de vida! Ent?o, sim; tive medo, e imaginei que a minha sepultura, sem solemnidade alguma, deveria encontral-a brevemente no estomago d'algum lobo.

E, de mais a mais, eu tinha fome.

Todos os provimentos, que eu levava na minha rede, eram um peda?o de br?a para o meu fur?o. Reparti-o entre n?s. O animalsinho comeu com appetite, e pilhando-se solto, como o seu officio era desemlapar coelhos, entrou na primeira lura que viu, e fez saltar f?ra um gato bravo, que espirrava diabolicamente por cima dos tojos coroados de neve.

Nunca me esqueceram os espirros d'este gato bravo!

Continuei o meu caminho, sem esperan?as de encontrar pousada.

Escureceu.

Encostei-me, desalentado, a um castanheiro, e fiz da minha pobre cabe?a uma cabe?a academica.

Pensei muito, estabeleci varios raciocinios, que conspiraram em provar-me, que, perto d'alli, devia existir uma povoa??o, por isso que os castanheiros, campos, e paredes eram indicios de ald?a proxima. N'este comenos, ouvi um mugido de boi, e em seguida uma sineta, que tocava ?s <>

Aquellas tres badaladas ergueram a Deus o meu espirito reconhecido. Orei com a devo??o dos dezoito annos. N?o vos digo mais nada a este respeito, porque me n?o entenderieis. Sois excellentes pessoas para devorar um romance em dez volumes; mas n?o lerieis, sem abrir tres vezes a bocca, uma pagina de sentimentos embalsamados do aroma do c?o, que o poeta n?o deve nunca profanar, misturando-os a frioleiras d'uma historia, ao alcance de todas as capacidades.

Eu creio que entre v?s ha entendimentos muito finos, paladares muito apurados no sabor do bello, cora??es muito brandos para emo??es suaves. Creio que sim; mas o melhor ? fazer de conta que os n?o ha.

Minutos depois, achava-me n'uma povoa??o, onde nunca estivera. Encontrei uma velha que castigava um porco, rebelde ? invoca??o de sua ama, com uma roca.

Perguntei-lhe que povo era aquelle.

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