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Read Ebook: A triste canção do sul (subsidios para a historia do fado) by Pimentel Alberto

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Ebook has 1032 lines and 66852 words, and 21 pages

ALBERTO PIMENTEL

A TRISTE CAN??O

SUL

Subsidios para a Historia do Fado

LIVRARIA CENTRAL

DE Gomes de Carvalho EDITOR

ALBERTO PIMENTEL

A triste

can??o do sul

LISBOA Typ. de Francisco Luiz Gon?alves 80, Rua do Alecrim, 82

Origens do Fado

Os nossos diccionaristas mencionam esta etymologia, mas interpretam-n'a sob o ponto de vista do monotheismo.

Moraes, encostando-se tambem aos theologos, define Fado dizendo: <>

De modo que a differen?a consiste em admittir a vontade de muitos deuzes ou de um s? Deus, mas o facto subsiste o mesmo tanto nas religi?es polytheistas como nas monotheistas: acredita-se que o destino humano ? regulado por uma auctoridade sobre-natural e tem de ser cumprido com indeclinavel sujei??o.

Os nossos poetas d'outr'ora deixaram-se dominar pela cren?a na fatalidade do destino, cuja infelicidade lamentam como <>

Bastar? citar o exemplo de Bocage:

Que eu fosse em fim desgra?ado Escreveu do Fado a m?o; Lei do Fado n?o se muda; Triste do meu cora??o!

O nosso povo, ? semelhan?a dos poetas, tem sido sempre fatalista: explica suas faltas e desgra?as, e tambem sua boa fortuna, por uma imposi??o da lei do Fado; no primeiro caso diz: <>; no segundo caso: <>

N?o apparece era os nossos mais antigos diccionarios: n?o vem em Bluteau ; nem em Santa Rosa de Viterbo .

Lacerda, na 4.? edi??o, que ? de 1874, diz: <>.

Na 5.? edi??o, 1879, n?o altera a defini??o, mas substitue a palavra Coimbra pela palavra Cascaes.

Isto pelo que respeita aos diccionarios portuguezes.

Intitulam-se <>

Encostado ?s meias portas Na Banza sarrafa?ava.

Beckford, nas suas cartas sobre Portugal, apenas se refere ?s <>, acompanhadas a guitarra.

Cantada a vulgar modinha, Que ? a dominante agora;

e alludindo ? segunda,

? certo que alguns estrangeiros que n'aquelles seculos, e ainda no anterior, visitaram Portugal, se mostraram impressionados, como lord Beckford, com o tom plangente da musica do nosso povo.

<<... o fado--pondera esse escriptor--e o que n'elle se diz de sonho, de sombra, de amor, de ciume, de ausencia, de saudade e principalmente de conforma??o com o cru e negro imperio do destino, eis o que exprime dramaticamente a fei??o da alma nacional. O fado ? portuguez, ? toda uma mentalidade, ? toda uma Historia>>.

Certamente que o povo, poeta das ruas, improvisador espontaneo e inconsciente, costumaria cantar em publico as suas desgra?as e as da patria, como faziam, em mais alta gradua??o de merito litterario, os poetas cultos; ou repetiria as trovas d'estes poetas quando ellas exprimiam as dores da existencia individual ou o luto pelas desgra?as e dissabores nacionaes.

Mencionando a litteratura de cordel n'essa epoca, diz o mesmo auctor:

Este facto leva-nos a formular uma hypothese, que opportunamente desenvolveremos.

Mas, como quer que seja, obedeceu manifestamente ? influencia arabe, ainda quando se d? por assente que n?o chegou a escrever n'esta lingua alguns dos seus cantares.

Ora n?s seguiremos outro caminho; n?o nos demoraremos a apalpar hypotheses.

Coimbra recebeu-o mais lentamente, levado por um ou outro estudante do sul em gera??es successivas.

Jos? Doria ficou celebre como tocador de viola.

A musica, o acompanhamento, ? sempre triste, como um ecco da alma do povo, ingenua e soffredora, que, pela sua rudeza, n?o sabe procurar difficuldades nos effeitos musicaes, contentando-se com uma toada simples e facil, e que, pela amargura do seu destino, est? sempre disposta a carpir-se, a lastimar-se.

Para o almo?o feij?o, Ao jantar bolacha dura; Nem uma s? vez sequer Pode beber agua pura.

N'esses momentos, o povo, sem esquecer a dureza do destino, porque a sente como o condemnado ?s gal?s sente o peso da corrente de ferro, experimenta os unicos prazeres que lhe s?o permittidos, e que todos parecem volitar, como um enxame de abelhas, em torno da guitarra: o canto, a dan?a, o vinho, e o amor.

? que sempre temos sido um povo melancolico por effeito das condi??es da nossa propria existencia e de uma educa??o tradicional.

Vivemos n'um paiz confrangido entre as montanhas e o mar: as montanhas criam as povoa??es alpestres e os pastores solitarios; o mar educa os marinheiros pensativos e concentrados, que serenamente jogam a vida contra a furia das tempestades na vastid?o immensa das aguas.

Nascemos de um grupo de lusitanos, que tiveram de soffrer o choque de povos poderosos, de immigra??es torrenciaes e, por ultimo, de fazer a guerra contra os mouros, uma guerra de fanatismo, estimulada pelo odio de ra?a e pelo sentimento religioso, que ? a mais cruel e intransigente de todas as guerras.

Depois fomos navegadores em mares desconhecidos e conquistadores em plagas remotas, onde a nostalgia cortava o cora??o saudoso.

O excesso de religi?o pesou sobre n?s com todos os seus terrores inquisitoriaes: o carcere, a tortura, o auto de f?.

Vivemos mais de meio seculo opprimidos pelo jugo castelhano, a que s? alguns fidalgos se mostravam affei?oados por vil cortezanismo.

Tivemos violentas luctas partidarias, que accendiam odios figadaes entre os individuos de uma mesma familia.

Depois da Regenera??o, a vida publica tornou-se mais calma, mas os maus processos de administra??o trouxeram os desiquilibrios or?amentaes, as difficuldades financeiras, a falta de credito, os embara?os economicos, que d?o um mal-estar geral.

Como ultima desgra?a, empobrecemos.

E n'isso estamos.

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